‘Afinal as feministas até gostam de homens’

Afinal as feministas até gostam de homens chega às livrarias no dia 12 de abril. A autora, Patrícia Motta Veiga, é licenciada em Comunicação Empresarial pela Universidade de Amesterdão (UVA) – Faculty of Economics and Business, tem 42 anos, é casada e mãe de quatro filhos. É ainda colaboradora da plataforma feminista Capazes. Este livro extraordinário, que chama as coisas pelos nomes e não coloca a mulher apenas como vítima do patriarcado mas também como sua cúmplice, é um guia para entender os feminismos de hoje.

O texto, dividido em 20 capítulos, desconstrói em todos eles os preconceitos que vigoram ainda hoje em torno do movimento feminista. O ódio aos homens, atribuído tantas vezes às mulheres que defendem a igualdade entre os sexos, é só um – a histeria e a condição de mal amadas são outros. Depois há espaço para falar das diferenças salariais justificadas tantas vezes pelas ocupações domésticas, do desequilíbrio do trabalho não remunerado justificado pelo talento inato das mulheres para casa, das relações de poder e do sofrimento que o machismo impõe a mulheres e a homens.

Afinal as feministas até gostam de homens, de Patrícia Motta Veiga, Manuscrito, €15,55

Longe de ser um ensaio académico, este livro é uma compilação de crónicas escritas de propósito para o livro e, na sua maioria, com muito humor – há de facto partes que arrancam gargalhadas (veja na galeria). Além da crítica, a da colocação dos factos preto no branco, há também alguns conselhos práticos para que homens e mulheres lutem, sobretudo, contra os micromachismos com que todos fomos criados. Um deles? ” Largar o comando é a palavra de ordem.”

 

 

Patrícia Motta Veiga, este título é verdadeiro? As feministas gostam mesmo de homens?

As feministas gostam de homens, gostam de mulheres… Não gostam é de preconceito. As feministas gostam que toda a gente seja feliz e que seja reconhecida dentro das suas capacidades.

O livro tem um subtítulo “e outras evidências bem-humoradas sobre o que é ser feminista hoje.” Porque é que era preciso escrever este livro com humor?

O humor é a maneira mais fácil de chegarmos às pessoas. E quando já estamos cansados de explicar muitas vezes a mesma coisa, e coisas que são evidentes para nós… Uma das coisas que as feministas ouvem com frequência é que “isso é a tua opinião” quando não é é uma opinião, quando estamos a falar de factos. Não é uma opinião que as mulheres ganham bastante menos do que os homens para o mesmo trabalho, para a mesma função, não é uma opinião os números de violência doméstica avassaladores, não é uma opinião que nós tenhamos mais dificuldade para chegar aos mesmos sítios. Quando nós já explicámos isto, temos os números e as pessoas continuam com alguma resistência, temos duas hipóteses: ou nos calamos, o que é grave porque estamos a falar de direitos humanos ou começamos a brincar, a desmontar isto, e mostramos às pessoas com alguma graça estas evidências.

Este livro é para quem?

É para toda a gente que saiba ler. Estamos a falar de uma questão de direitos humanos e há uma grande desinformação em relação a isto, porque interessa. O poder do patriarcado é muito evidente em quase tudo da nossa vida, embora nós estejamos tão habituados a lidar com ele que não o reconhecemos. Portanto, não interessa [para o status quo] muito que nós falemos e há um grande desconhecimento da causa. O livro é para toda a gente porque toda a gente é vítima do machismo, grande parte de nós educa novas pessoas, grande parte de nós não sabe como é que se há de colocar em relação a estas questões, o que é exagero, o que é que são as feminazis, o que é que gritaria e o que é legítimo eu reclamar para mim. Os homens não reconhecem que são vítimas do machismo e as mulheres, quanto mais informadas são e quanto mais têm qualidade de vida, mais vergonha têm de reconhecer que são vítimas do machismo, porque isso põe-nas numa posição de fraqueza.

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Oiça a entrevista completa no programa Conversas Delas, na rádio TSF.