Afinal, o que se passa com a vacina da AstraZeneca?

Italian Police in Genoa receives covid-19 vaccine
[Fotografia: EPA]

A formação de coágulos sanguíneos em pessoas que foram inoculadas com a vacina covid-19, provocando tromboses, está entre a principal suspeita que está a levar alguns países a suspender temporariamente – e para averiguações – a aplicação da vacina da AstraZeneca. Primeiro, foi a Áustria, depois a Dinamarca, agora Itália.

A Agência de Medicamentos Italiana (AIFA) anunciou esta quinta-feira, 11 de março, que suspendeu temporariamente a vacinação de um lote da farmacêutica AstraZeneca por precaução, após relatos de problemas de coagulação diagnosticados em vários países europeus. A AIFA explicou, em nota, que após informações sobre problemas de saúde detetados em outros países europeus, bloqueou a inoculação das doses do lote ABV2856.

Além disso, reserva-se o direito de tomar outras medidas, quando necessário, também em estreita coordenação com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

A AIFA enfatizou que, até ao momento, “não foi estabelecido algum nexo causal entre a administração da vacina e esses eventos” detetados em outros países e que os controlos necessários estão a ser realizados, coletando-se a documentação clínica pertinente. As amostras deste lote serão analisadas pelo Instituto Nacional de Saúde Italiano.

A EMA garantiu à agência de notícias EFE que nos Países Baixos atualmente se está a estudar relatórios sobre problemas de coagulação diagnosticados em vários países europeus coincidentes com a receção de uma vacina AstraZeneca e que pode emitir conselhos “hoje ou sexta-feira” sobre o assunto na União Europeia (UE).

A Dinamarca suspendeu por precaução a utilização da vacina AstraZeneca contra a covid-19 devido a receios relacionados com a formação de coágulos sanguíneos nas pessoas vacinadas, anunciou hoje a autoridade sanitária do país. A suspensão acontece “após relatos de casos graves de formação de coágulos sanguíneos em pessoas que foram inoculadas com a vacina covid-19 da AstraZeneca”, indicou a Agência Nacional de Saúde dinamarquesa, sublinhando que, “neste momento, não se pode concluir a existência de uma ligação entre a vacina e os coágulos sanguíneos”.

As autoridades de saúde norueguesas anunciaram hoje também a suspensão, “como medida preventiva”, de vacinas contra a covid-19 da AstraZeneca, seguindo o exemplo de outros países, que tomaram idêntica decisão com receio de efeitos secundários.

A Áustria anunciou no domingo ter interrompido a administração de um lote de vacinas produzidas pelo laboratório anglo-sueco após a morte de uma enfermeira de 49 anos que sucumbiu a “sérios problemas de coagulação” poucos dias depois de ter recebido a vacina.

Quatro outros países europeus, Estónia, Lituânia, Letónia e Luxemburgo, suspenderam depois a vacinação com doses provenientes do mesmo lote, entregue em 17 países e que incluía um milhão de vacinas.

Na quarta-feira, um inquérito preliminar da EMA sublinhava que não existia qualquer relação entre a vacina da AstraZeneca e a morte ocorrida na Áustria. Até 9 de março, apenas 22 casos de tromboses tinham sido assinalados em mais de três milhões de pessoas vacinadas no espaço económico europeu, segundo a EMA.

A Itália já administrou 6.005.183 vacinas de diferentes empresas farmacêuticas que abastecem o país e 1.803.693 pessoas já foram imunizadas com as duas doses necessárias.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.621.295 mortos no mundo, resultantes de mais de 117,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

DGS alargou vacina a todas as idades a 10 de março

A Direção-Geral da Saúde (DGS) alargou hoje a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 às pessoas acima dos 65 anos, depois de comprovada a eficácia neste grupo etário.

Na norma relativa à vacina da AstraZeneca hoje atualizada, de forma a permitir a sua utilização sem reservas a partir dos 18 anos, a DGS sublinha que tal decisão se deve à segurança, qualidade e eficácia comprovadas.

“Esta decisão tem suporte na divulgação de dados conhecidos nos últimos dias, que indicam que a vacina da AstraZeneca é eficaz em pessoas com mais de 65 anos”, escreve a DGS.

Na informação hoje divulgada, a DGS diz que os novos estudos conhecidos mostraram, “com base em metodologias científicas robustas, que a vacina da AstraZeneca é eficaz em indivíduos com 70 ou mais anos, quer na prevenção da covid-19, quer na redução das hospitalizações por esta doença, reforçando os dados iniciais de que esta vacina é capaz de produzir anticorpos eficazes no combate à infeção por SARS-CoV-2, mesmo em pessoas mais velhas”.

Esta decisão foi tomada após análise destes novos dados pela Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 da DGS e do parecer do Infarmed.

Na norma relativa à vacina da AstraZeneca publicada em fevereiro, a DGS informava que o esquema vacinal recomendado é de duas doses, com intervalo de 12 semanas, e lembrava que, se após a 1.ª dose for confirmada infeção por SARS-CoV-2, “não deve ser administrada a 2.ª dose”.

Se foi administrada a 1.ª dose a uma pessoa que tenha estado infetada por SARS-CoV2 não deve ser administrada a 2.ª dose, dizia ainda a DGS.

Sobre a gravidez e amamentação, a norma da DGS refere que “não existem dados sobre a administração desta vacina durante a gravidez” e que estudos feitos em animais “não indicaram efeitos negativos no feto ou na grávida”.

“Se os benefícios esperados ultrapassarem os potenciais riscos para a mulher, a vacina poderá ser considerada, por prescrição do médico assistente. Não é necessário evitar a gravidez após a vacinação”.

A DGS lembrava ainda que se desconhece se a vacina é excretada no leite humano, frisando que, “por ser uma vacina de um vetor viral geneticamente modificado sem capacidade replicativa, não é expectável a existência de efeitos adversos na criança amamentada, à semelhança das vacinas inativadas”.

Garantia ainda que as mulheres que estejam a amamentar e sejam pertencentes a grupos de risco podiam ser vacinadas e que não se recomendava parar a amamentação após a vacinação.

A vacina da AstraZeneca é constituída por um vetor viral (adenovírus) geneticamente modificado, sem capacidade replicativa, “não havendo por isso contraindicação à sua administração em pessoas com imunodeficiência, à semelhança das vacinas inativadas”, acrescenatava a DGS.

Nesta vacina é introduzido no corpo um mensageiro de ácido ribonucleico (mRNA na sigla em inglês), que contém informação genética sobre o vírus e engana o corpo para que seja ele próprio a produzir a proteína do agressor.

Quanto às pessoas com doença autoimune ou autoinflamatória, não existe evidência de que a vacinação cause agravamento ou precipite crise aguda.

Segundo a informação divulgada na terça-feira pela DGS, mais de 293 mil portugueses têm a vacinação contra a covid-19 completa com as duas doses. Já foram administradas um total de 1.032.907 vacinas desde 27 de dezembro.

O último relatório do processo de vacinação em Portugal continental refere que 293.245 pessoas – 3% da população – receberam até terça-feira as duas doses das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer.

O mesmo documento acrescenta que 739.662 pessoas já foram vacinadas com a primeira dose, mais 133.974 do que na semana anterior, o que representa 8% da população.

Até domingo, Portugal tinha recebido um total de 1.186.389 vacinas contra o vírus SARS-CoV-2, tendo sido distribuídas pelos pontos de vacinação do país 1.078.103 doses.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.600.802 mortos no mundo, resultantes de mais de 117 milhões de casos de infeção. Em Portugal, morreram 16.595 pessoas dos 811.306 casos de infeção confirmados, de acordo com o mais recente boletim da DGS.

Infarmed e Agência Europeia do Medicamento mantêm posição

Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) garantiu hoje que os benefícios da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 continuam a ser superiores ao risco e manteve as recomendações para a sua utilização.

“Os benefícios da utilização da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca mantêm-se superiores ao risco, não havendo qualquer alteração às recomendações sobre a sua utilização”, adiantou o regulador português, depois de vários países suspenderem um lote desse medicamento, devido a receios de uma eventual ligação à formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas.

Os resultados preliminares “sugerem não existir uma relação causal entre a administração desta vacina e estes eventos”, adiantou o Infarmed em comunicado, ao assegurar que, em conjunto com a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês), continuará a acompanhar a situação e a atualizar a informação quando necessário.

A posição do Infarmed surge depois de a Agência Europeia EMA ter assegurado que, por enquanto, não existem provas de um aumento de risco de coagulação sanguínea em pessoas vacinadas contra a covid-19.

“As informações disponíveis até ao momento indicam que o número de tromboembolias em pessoas vacinadas não é superior ao observado em toda a população”, referiu a EMA numa nota enviada à agência noticiosa France-Presse.