Álcool e quarentena: Sinais de que está a beber de mais

Depressed woman sitting near the window
[Fotografia: Istock]

Em tempo de isolamento social e quarentena, são muitos os que bebem um copo de vinho ao fim do dia. Seja por necessidade de relaxar, seja por manter viva a memória daquilo que eram hábitos antigos como ir a uma esplanada ao fim do dia ou mesmo sair à noite em véspera de dias de descanso, certo é que o álcool tem sido companhia de muitos.

Mas, mesmo com os cafés fechados, pode esta reclusão social devido ao Covid-19 ser um catalisador para um consumo exagerado de álcool sem que ninguém – quando se está sozinho em casa – ou mesmo poucos estejam a ver?

Para já, Mário Marques, psicólogo e presidente dos Alcoólicos Anónimos (AA), não nota diferenças nos números. “A ideia que temos é que os números de recaídas não são muito mais elevados do que os que seriam normalmente”, considera, mas salvaguarda: “As pessoas estão em casa, é difícil avaliar se estão a consumir mais ou não, só quando tudo isto terminar é que conseguiremos perceber, para já é difícil”.

O psicólogo crê que a realidade após quarentena pode ser bem mais pesada e que aí, sim, podem chegar os problemas com o alcoolismo. E para lá dos casos novos que possam surgir, o especialista teme sobretudo recaídas por parte de quem até já começou a fazer o caminho da abstinência.

“Não é na quarentena que se vai transformar em alcoólico, é preciso mais tempo e muitas quarentenas, mas pode ser o início”, avisa. “O que me preocupa é o confronto social, psicológico e emocional mediante o eventual desemprego, a quebra de rendimentos quando tudo isto terminar”, antecipa Mário Marques. É que – vinca – “estas pessoas são as primeiras a levar o embate porque já vivem muitas vezes nas franjas da sociedade, já são os precários e estão mais expostos”.

O presidente da AA teme que a história se volte a repetir, tal como sucedeu em 2009 e 2010. “Nessa crise, as recaídas aumentaram muitíssimo e não há nada que não nos diga que não vá acontecer de ver novo”. Quanto a possíveis novos casos, o responsável reitera: “O que me preocupa não são tanto os grandes casos, mas antes as recaídas.”

Para já, o responsável esta entidade de apoio concentra atenções noutro tipo de carências que se antecipam graves. “Preocupa-me, depois disso, que estruturas de apoio a estes doentes vão sobreviver depois desta pandemia e com que recursos”. “Temos a unidade alcoologia e comunidades terapêuticas fechadas que não estão a receber novos casos. Não sabemos como vai acontecer. Há uma grande restrição em novas admissões nestas novas estruturas porque é preciso garantir a segurança de utentes que estão internados. Quando o confinamento terminar e as pessoas retomarem a sua vida normal, preocupam-me as recaídas”.

Quanto aos sinais, o responsável dos AA e psicólogo deixa três pistas sobre eventual consumo abusivo:

“O isolamento social é, por si só, um sinal. Neste caso em que está imposto, falo sobretudo do isolamento emocional”, refere o psicólogo. “Quando as pessoas, apesar de estarem a conviver com a família, se começam a isolar progressivamente do ponto de vista emocional.

Num segundo ponto, Mário Marques alerta para “o pensamento em túnel”, segundo o qual “a pessoa vai progressivamente criando um comportamento obsessivo e de comando”. E exemplifica: “Se bebesse um copo iria conseguir aguentar melhor esta situação ou comando e só por hoje não faz mal.”

A impaciência excessiva surge como um terceiro fator. “Demonstrar irritabilidade quando não bebe, quando tem uma vontade muito grande de beber um copo e não consegue, começando a ficar irritado e com a sensação de que tudo começa a fazer confusão”, explica.

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