Alexandra Moura leva comunidades africanas a Milão, mesmo sem Portugal Fashion

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Alexandra Moura [Fotografia: Filipe Amorim/Global Imagens]

O apoio financeiro não chegou, mas Alexandra Moura decidiu manter o desfile o Milão. A coleção “Nu mistura”, a designer de moda refere que “vai falar um bocadinho das comunidades e das pessoas que vieram de África, mesmo africanos, nomeadamente nos anos 1970, para Portugal, e para Lisboa, e que se foram concentrando nas periferias da cidade, no que hoje em dia se chama bairros sociais”.

Em declarações à agência Lusa, a estilista vincou: “Quando falamos em bairros sociais ainda há um certo estigma e um certo preconceito, esta coleção fala da riqueza cultural que estes bairros têm”, revelou.

Uma ida a Itália que Moura faz, pela primeira vez, sem o apoio do Portugal Fashion. “Os fundos não chegaram, não tendo fundos, não pode apoiar. Contudo, a nossa marca continua integrada no calendário de moda oficial e vai voltar a apresentar a coleção, mas com os nossos próprios meios”, referiu a designer de moda, em declarações à Lusa.

Alexandra Moura continua a apostar na internacionalização, integrando novamente o calendário oficial da semana de moda de Milão, a decorrer até dia 24 em Itália, e marcando presença em showrooms em Paris.

Alexandra Moura, que há um ano se tornou na primeira portuguesa a integrar o calendário oficial da Semana de Moda de Milão, apresenta, na segunda-feira, na capital da moda italiana a coleção “Nu mistura”, para o inverno 2020/2021.

As duas primeiras participações de Alexandra Moura, em janeiro e em setembro do ano passado, no calendário oficial de Milão aconteceram com o apoio do Portugal Fashion, no âmbito das ações de promoção da moda portuguesa em semanas de moda internacionais daquele projeto da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).

No entanto, o Portugal Fashion suspendeu as ações internacionais desta estação, por não ter recebido “resposta em tempo útil (…) à candidatura submetida” no âmbito dos apoios europeus, disse à Lusa, em janeiro, o presidente da ANJE, José Pedro Freitas.

Os designers de moda que costumam ser convidados para as semanas de moda internacionais “foram avisados no 4.º trimestre de 2019, altura em que a direção da (ANJE) tomou a decisão, em face de ainda não haver resposta relativamente à candidatura apresentada”.

Internacionalização que “já está a dar frutos”

A decisão de manter o desfile prende-se o trabalho de internacionalização que tem vindo a ser feito e “já está a dar frutos”. Alexandra Moura sublinha que esse trabalho tem sido não só o desfile em Milão, como também a presença em ‘showrooms’ em Paris, quer na semana de Homem quer na semana de Mulher.

“Sentimos uma crescente curiosidade em relação ao nosso trabalho, à nossa marca. Não só pelo maior pedido de acreditações, até a um aumento de curiosidade por compradores de loja. Isto são sinais de que a internacionalização já está a dar frutos, e que este caminho e este nosso trabalho, que andamos a fazer já há um tempo não podia parar e tem que continuar e tínhamos que estar presentes, obviamente, para que estes frutos possam continuar e possam crescer ainda mais”, afirmou.

Depois do desfile em Milão, a coleção segue para Paris, onde será apresentada em ‘showroom’. Só depois é mostrada em Portugal, num desfile no Portugal Fashion, que irá decorrer entre 12 e 14 de março, no Porto.

Em “Nu mistura”, a ‘designer’ de moda trabalha os opostos, falando “da geração que hoje são os avós e os bisavós, que ainda têm um cariz muito tradicional, muito clássica na sua forma de vestir, mas muito cultural ao mesmo tempo, com aquelas misturas muito características, meio insólitas, no sentido de misturar padrões, cores, tecidos”, e também “da geração que já nasceu em Portugal, que são hoje os netos, que já acata um novo tipo de estética e de referências, como a música, a ‘street art’, o ‘hip-hop'”.

A coleção de Alexandra Moura acaba por surgir “um bocadinho da junção de gerações, destas pessoas que estão dentro destes bairros”. O título – “Nu mistura” (Nós misturamos) – “é um bocadinho quase um grito: ‘Misturemo-nos’, porque só temos todos a ganhar quando nos misturamos e absorvemos culturas diferentes, trejeitos, sabores, música, arte”.

“Todos nós crescemos, evoluímos e acabamos por ganhar outro tipo de referências, para as nossas vidas e para os nossos trabalhos”, disse.