Alice Vieira: “Vou escrever até que o teclado me doa”

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Escritora e jornalista Alice Vieira [Fotografia: Paulo Spranger/Global Imagens]

Entre sorrisos, Alice Vieira conta como mergulhou no mundo da literatura sem esperar que tal acontecesse propriamente e revela como espera de não mais sair dele. E tudo sem obrigatoriedades. “Vou escrever até que o teclado me doa”, afirma, rindo-se e evocando (e alterando) uma frase célebre da Amália.

Uma retrospetiva feita pela escritora e jornalista ao Delas.pt no momento em que celebra 40 anos de escrita de livros. “Foi um percurso inesperado porque a minha profissão não era essa. Era jornalista e ainda sou. E já tinha 35 anos quando publiquei o meu primeiro livro”, recorda.

Foi, exatamente, em 1979, que Alice Vieira se estreou na literatura com Rosa, minha irmã Rosa. É a este propósito que a autora vai estar à conversa com Fernanda Freitas e Nelson Mateus, nesta terça-feira, à tarde, na sala Almada Negreiros do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Rosa, minha irmã Rosa, na sua 34.ª edição este ano, assinala o início de uma carreira “sem nunca ter parado”, mas anteriormente Alice Vieira tinha publicado um livro de poemas, De estarmos vivos (1964), tendo assinado como Alice Vassalo Pereira, e um de contos, Um nome para setembro (1977).

Alice Vieira homenageada em livro

“Nunca pensei ser escritora na vida. Aliás, já tinha cinco livros publicados e ainda dizia que não me via a fazer isto, e tenho escrito sempre”, analisa ao Delas.pt. O segredo? Alice Vieira não sabe ao certo, mas arrisca: “Fui continuando, gosto muito e, no fundo, acho que a minha escrita é de jornalista, com textos mais curtos, poucos adjetivos e acho que isso se nota”, argumenta a autora que, anualmente, com pelo menos um ou dois livros publicados. “Ninguém me obriga a escrever a minha editora nunca mo diria, mas dá-me imenso prazer, gosto muito da escrita. De fazer as frases e as palavras”, descreve.

No âmbito dos 40 anos de carreira, estão previstos “dois grandes encontros com professoras, em Lisboa e no Porto, com apresentação do Fernando Alvim” e a presença da escritora, e uma exposição biobibliográfica, comissariada por Nélson Mateus, em Lisboa, no centro comercial Colombo, a inaugurar no próximo dia 17.

Jornalismo: uma profissão que nunca abandonou

A autora iniciou a sua carreira profissional como jornalista, num tempo em que “se habituara a escrever para contornar a Censura política, que retirou da circulação muitos livros”, explicou à agência Lusa. “Eu, como escritora, não tive esse problema, escrevi sempre em liberdade”, sublinhou.

Sobre os seus livros, maioritariamente para jovens, Alice Vieira disse: “Não tenho mensagem nenhuma, eu conto uma história para a pessoa se sentir bem, feliz, encantada, quando lê aquilo; agora, se pelo meio puder dizer qualquer coisa, interessar as pessoas a verem outras coisas, claro que é bom, mas não sou didática, escrevo as histórias que eu acho que eles gostam de ler”.

A autora reconheceu o êxito dos seus livros. “Ainda hoje vou às escolas e as pessoas leem a ‘Rosa minha irmã, Rosa’, e fazem-me perguntas”. “Os meus livros, como disse uma vez um aluno, não são para ensinar coisas, os meus livros são para gostar de ler, é isso”, sentenciou a escritora de 76 anos.

Exceção são os “livros históricos”, como A espada do Rei Afonso (1981), relativamente ao primeiro chefe de Estado português, “mas onde há sempre liberdade criativa”. Esta obra “tem sucesso” na Rússia, de onde ainda hoje recebe “imensa correspondência” dos leitores. Alice Vieira tem dezenas de obras publicadas, com várias reedições

Alice Vieira recebeu, em 1979, o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança, pelo título “Rosa, Minha Irmã Rosa”, e em 1983 o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil, com “Este Rei que Eu Escolhi”.

Seis anos depois recebeu o Prémio francês Octogone, pela edição em francês de “Os Olhos de Ana Marta”. Em 2007, a autora recebeu o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, com o livro de poemas “Dois Corpos Tombando na Água”, em 2010 a Estrela de Prata do Prémio Peter Pan, da Suécia, pela edição sueca de “Flor de Mel”, e, em 2016, o Prémio da Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil, para o Melhor livro em língua portuguesa editado no Brasil. No ano passado, a autora publicou Diário de um adolescente na Lisboa de 1910.

Imagem de destaque: Global Imagens

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