Amamentação: Especialista defende licença de 6 meses e mais bancos de leite humano

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A Semana Mundial da Amamentação, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que se assinala entre 1 (Dia Mundial do Aleitamento Materno) e 7 de agosto, tem este ano como tema ‘Empoderar os Pais, Permitir a Amamentação’.

Em Portugal, o responsável pelo único banco de leite humano do país defende o alargamento para seis meses da licença de amamentação e diz que as empresas deviam incentivar as trabalhadoras a extrair o leite no local de trabalho.

Em declarações à Lusa, Israel Macedo, responsável pelo Banco de Leite Humano, que funciona na Maternidade Alfredo da Costa (Lisboa), lembra que “o leite humano é extremamente difícil de imitar” e dá ao bebé “proteção e defesas” para o resto da vida, por isso, deveria haver um maior estímulo à amamentação.

Uma das medidas para aumentar esse estímulo seria o alargamento da licença de amamentação para os seis meses – o período recomendado pela OMS -, defende Israel Macedo. O responsável sustenta também que as próprias empresas deveriam estimular as trabalhadoras que foram mães e dar condições para que possam extrair o leite no local de trabalho.

“Muitas vezes temos de perguntar à mãe quando é que vai trabalhar pois sabemos que esse é o primeiro limitador”, afirmou à Lusa, explicando que, por vezes, se a mãe tiver alguma insegurança em relação ao seu leite os fatores psicológicos podem influenciar e fazer com que a mulher fique sem leite.

Israel Macedo aponta ainda a instabilidade laboral – recibos verdes e trabalho precário -, que leva a que muitas mulheres sofram penalizações se amamentarem os seus bebés ou faltarem para amamentar, o que é “um sinal de subdesenvolvimento”.

“[O leite materno] Não é só um alimento. É algo de biológico que a mãe está a dar ao bebé a nível de bactérias, defesas e informação relativa ao meio ambiente e a proteções em relação a potenciais agressores”, afirmou, frisando que “vai preparar o corpo do bebé para vir a ter menos diabetes, menos obesidade e uma saúde cardiovascular melhor”.

Um só banco para muitas necessidades

Criado há 10 anos, o Banco de Leite Humano da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, tem 25 dadoras que alimentam prematuros de outras mães e o responsável pela estrutura culpa os “constrangimentos financeiros” pela não abertura de um serviço idêntico no norte do país.

Israel Macedo defende que faria sentido abrir uma estrutura do género no norte do país, que tem uma natalidade que supera a do sul. “É uma zona com densidade populacional e natalidade que supera a zona sul e teria todo o interesse ter um banco de leite”, que até poderia ter capacidade para fornecer a região centro, afirmou.

O responsável diz que o que tem travado a abertura de uma estrutura destas no Porto são os “constrangimentos financeiros”, uma vez que há voluntárias para fornecer o leite. “Tenho contactos de senhoras que querem ser dadoras e que são da Maia, de Braga ou do Porto e não têm possibilidade de doar no norte.”

O responsável, que é também pediatra, diz que o único banco de leite do país é “um amortecedor para casos de prematuridade”, pois muitas vezes o leite da mãe não é suficiente para as necessidades do bebé e nutricionalmente, como provém de mulher que foi mãe prematuramente, é mais pobre do que o leite de uma mãe de tempo completo.

“Já aprendemos a usar melhor o leite da dadora. Com investigação percebemos que o leite das dadoras, como são mães de bebés com tempo completo, tem quantidade de nutrientes diferente das mães de prematuros. É preciso suplementar leite das mães prematuras com proteínas, fortificantes e gorduras para aproximar o mais possível.”

Dos 160 a 180 prematuros por ano da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), “não há nenhum prematuro que não receba nalguma altura um bocadinho de leite de dadora”.

O Banco de Leite Humano da MAC serve vários hospitais da região de Lisboa, mas não há condições para a estrutura ir além disso. Há falta de especialistas em patologia clínica, necessários para fazer a pasteurização do leite, que é congelado e armazenado. Um problema que se arrasta desde os anos da ‘troika’, explicou.

Muitos especialistas deixaram o Serviço Nacional de Saúde e, neste caso, o banco de leite humano ficou apenas com uma única técnica de patologia clínica. “Temos os congeladores cheios de leite de dadoras, mas infelizmente pouco pessoal, o que é um mal geral desde 2012. O pessoal alocado ao banco de leite (técnicas de patologia clínica para exames bacteriológicos e pasteurizações) diminuiu muito”, contou o responsável, explicando que quando a técnica vai de férias são os médicos que, quando têm tempo, fazem as pasteurizações.

O Banco de Leite Humano da MAC, que chegou a ter 45 dadoras e a armazenar 600 litros de leite de dadora por ano, tem neste momento 25 dadoras, que alimentam e ajudam a crescer os bebés prematuros de outras mães.

Entre as várias campanhas que tem feito está um protocolo assinado com um agrupamento de centros de saúde em Oeiras, que faz a promoção da amamentação e tem uma equipa, formada pelos profissionais do banco, que faz a seleção das dadoras e congela o leite, que depois é recolhido de forma mais esporádica. Há pedidos de hospitais da Grande Lisboa e também, neste caso, os constrangimentos financeiros em algumas unidades hospitalares fazem com que não se consiga uma maior cobertura.

AT com Lusa

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