Amna Al Qubaisi: “Nenhum homem quer ser vencido por uma mulher”

Amna Al Qubaisi piloto Formula E cortada
A piloto Amna Al Qubaisi [Fotografia: DR]

Amna Al Qubaisi tem apenas 19 anos, mas já garantiu um lugar na história do desporto automóvel ao transformar-se na primeira mulher dos Emirados Árabes Unidos a tornar-se piloto. O ano passado não terminava sem que a piloto tivesse participado num programa de testes de automobilismo para a FormulaE, sendo a primeira mulher de origem árabe a fazê-lo. E no circuito da Arábia Saudita.

Numa entrevista por escrito ao Delas.pt, Amna, filha do piloto de Le Mans [Khaled Al Qubaisi], refere que descobriu o gosto pela velocidade e por estes campeonatos na adolescência. “Não sabia que ia ser a minha vida até que comecei a fazê-lo aos 14 anos”, conta.

Na conversa, a piloto fala das dificuldades em ser mulher num mundo de homens, da agressividade que sente em pista face aos concorrentes, da falta de oportunidades que tem face aos seus congéneres, mas também dos objetivos que tem traçados para si. E não faz por menos: o limite é, claro, chegar à Formula1. Ainda que admita que seja difícil.

Ilijana Vavan, diretora de operações da Kapersky Lab [Fotografia: DR]
Ilijana Vavan, diretora de operações da Kapersky Lab [Fotografia: DR]
Patrocinada pela empresa de cibersegurança Kaspersky Lab, a escolha desta companhia em apoiar Amna – a par de outras mulheres noutro tipo de setores da sociedade – vai para lá da questão de se ser apenas do sexo feminino.

Em declarações ao Delas.pt, a diretora de operações Ilijana Vavan, refere que a empresa “tem por objetivo ajudar todos a atingir os seus sonhos, independentemente do género”. “Apoiamos a Amna e pessoas como a Felicity Aston [exploradora britânica e cientista ambiental] porque partilhamos das suas visões e sonhos, mais do que escolher apoiá-las porque são apenas mulheres”, justifica a responsável, também numa conversa por escrito.

Abaixo leia a entrevista de Amna Al Qubaisi:

Quais são seus objetivos?

Sempre quis alcançar a F1, esse sempre foi o meu objetivo desde o início e estou ciente de que será muito difícil, mas a meta é sempre a F1.

Quais são os principais obstáculos que poderá enfrentar para chegar ate lá? E que obstáculos já superou?

Ser uma rapariga e estar na pista é muito difícil porque, obviamente, nenhum homem quer ser vencido por uma mulher, então foram tentando empurrar-me para fora. Ao mesmo tempo, deparo-me com a minha falta de quilometragem face aos meus competidores, o que cria uma enorme diferença.

Num mundo dominado por homens, quais são os desafios que sente sendo uma mulher que participa nas mesmas competições?

É difícil ultrapassar já que os homens tendem a ser mais agressivos em relação a pilotos do sexo feminino nas competições. Mas é preciso conquistar esse respeito na pista, sendo tão persistente e agressiva como eles.

Estas competições estão prontas para receber mulheres? Na sua opinião, o que lhes falta?

As mulheres não têm a mesma quantidade de dias de teste, a mesma quilometragem e as mesmas oportunidades que os homens, mas, hoje em dia, já podemos ver – e temos visto – algumas mulheres a chegar ao topo.

Sendo de origem árabe, que mudanças pode o seu exemplo trazer junto da sociedade e, em particular, para as mulheres?

Acho que a diferença que estou a fazer passa por mudar os estereótipos que os outros têm em relação às mulheres árabes.

Que tipo de reação tem vindo a receber das mulheres na Arábia Saudita, onde competiu?

Tenho recebido muito apoio de mulheres e de homens

Que tipo de batalhas devem, no seu entender, as mulheres da Arábia Saudita procurar e lutar [recorde-se que a permissão para conduzir foi concedida no ano passado]?

Tendo sido criada nos Emirados Árabes Unidos como uma emirati, tive a grande oportunidade e apoio para competir e a maioria das mulheres foi empoderada em muitos setores, não apenas no desporto. Mas, para a Arábia Saudita, quando permitem que as mulheres conduzam, creio que isso configura o primeiro passo em frente

Como olham as raparigas da Arábia para si? O que lhe disseram?

Não posso falar com toda a certeza porque não sou de lá, mas tenho visto que o karting está a começar a ganhar fôlego e há um campeonato para as mulheres.

Imagem de destaque: DR

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