Afinal o que é a anemia? Nós explicamos

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Hoje, dia 26 de novembro, assinala-se o Dia Nacional da Anemia, uma condição que afeta cerca de 20 por cento da população, a maioria mulheres. Descubra quais são os vários tipos de anemia e como prevenir

E se alguém lhe dissesse que pode sofrer de anemia sem sequer saber? Não entre já em pânico: aparentemente, é este o caso de alguns pacientes, já que o desconhecimento sobre o que realmente constitui uma anemia parece ainda existir entre a população, além de que muitas vezes os sintomas se encontram “mascarados” pelo conjunto de outras queixas generalizadas, dificultando o diagnóstico. No dia 26 de novembro assinala-se o Dia Nacional da Anemia, e o Delas falou com um especialista para saber o que é afinal uma anemia, os principais sinais de alerta e tratamento.

Robalo Nunes, médico e Presidente do Anemia Working Group Portugal, esclarece: “Estamos perante uma anemia quando a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue é insuficiente para cumprir com eficácia uma das suas principais funções vitais, que é transportar oxigénio a todo o organismo”. O especialista acrescenta também que existem diversos tipos de anemia, i.e., com diferentes causas, apesar de as mais frequentes terem origem em carências nutricionais. “A anemia pode ter várias causas, como a que resulta da incapacidade do organismo produzir glóbulos vermelhos em resposta a aumento das necessidades, por exemplo na gravidez, aleitamento, períodos de crescimento. Habitualmente é de natureza carencial, das quais a deficiência de ferro é a mais importante. Pode também resultar de carência noutros elementos como a Vitamina B12, ácido fólico e outros micronutrientes. Ou pode ser o resultado do mau funcionamento da medula óssea, num contexto de doença crónica de natureza infeciosa, imunológica ou neoplásica, havendo situações de caráter genético e adquirido. Por último, a diminuição de glóbulos vermelhos pode resultar da sua perda, por hemorragia aguda ou crónica, e por destruição aumentada dos mesmos.”

O mais importante, refere Robalo Nunes, é ficar atento aos sintomas que podem denunciar uma hipótese de anemia, e consequentemente determinar se esta existe mesmo, e qual a sua origem. “Com muita frequência o doente refere cansaço marcado, uma das queixas mais comuns. Quando ao cansaço se junta palidez de pele e mucosas, queda de cabelo, unhas quebradiças, torna-se necessário suspeitar da possibilidade de estarmos perante um quadro de anemia, o que obriga a investigar a sua origem, uma vez que a anemia pode constituir o primeiro sinal revelador da existência de uma doença grave subjacente. Em termos gerais, portanto, é obrigatório desenvolver todos os esforços para clarificar a origem da anemia, por forma a que se possa tratar a causa.” Contudo, o especialista ressalva também que, sobretudo nos casos de anemia de instalação lenta, os sintomas acabam por ser subvalorizados e diluídos no conjunto de outras queixas, o que pode levar o paciente a padecer deste problema sem chegar a ter conhecimento.

Mulheres são as mais afetadas

Segundo Robalo Nunes, “os resultados do Estudo EMPIRE relativos à prevalência da Anemia e deficiência de ferro em Portugal revelam que a anemia tem uma maior prevalência entre as mulheres, na faixa etária compreendida entre os 18 e os 34 anos. As grávidas são um grupo de especial risco, assim como os idosos também demonstraram uma maior propensão para a anemia.” As mulheres constituem uma grande percentagem da população afetada muito devido aos períodos menstruais e à gravidez, que constituem fatores de desequilíbrio cumulativo, nem sempre compensável por aumento proporcional da capacidade de absorção de ferro. Durante o período fértil a mulher vai gerando um balanço negativo, o qual só volta a equilibrar-se fisiologicamente na altura da menopausa.

A anemia pode ter um impacto negativo em todos os sistemas do corpo humano. “O que está em causa é o fornecimento insuficiente de oxigénio. O sistema nervoso central (perturbações da concentração e memória, alterações do sono, dores de cabeça, tonturas, zumbidos, depressão), o sistema gastrointestinal (náusea, falta de apetite), o sistema cardiovascular (taquicardia, falta de ar, diminuição da tolerância à atividade física,) e o sistema reprodutivo (menorragia, alterações menstruais, impotência sexual) podem ser afetados por uma anemia. Há, em suma, uma diminuição global da qualidade de vida.”

Prevenção em primeiro lugar

Se suspeitar que pode sofrer de anemia, deve em primeiro lugar consultar o seu médico assistente, dando conta das queixas que podem indiciar a presença de anemia. Em seguida, indica Robalo Nunes, será feita uma avaliação analítica para determinar que tipo de anemia se trata, por forma a definir a causa e tratar em conformidade. “O tratamento da anemia deve ser sempre dirigido à causa subjacente, razão pela qual é muito importante recorrer ao médico por forma a que se faça uma investigação adequada.” Prevenir é, no entanto, palavra de ordem. “Fazer uma alimentação saudável e equilibrada é, na ausência de perdas hemorrágicas, a melhor forma de prevenir o aparecimento de anemia, nomeadamente a anemia por deficiência de ferro. Importa saber que há dois tipos de ferro contido nos alimentos: o ferro designado por ferro-heme, que existe nos alimentos de origem animal, em particular na carne, peixe e ovos, e o ferro não heme, presente nas leguminosas e em alguns vegetais verdes, como os agriões e os brócolos. O ferro heme é melhor absorvido que o ferro não heme, mas sabe-se que o cenário em que a absorção é melhor é quando se combina na mesma refeição os dois tipos de ferro, o que, aliás, vem ao encontro da nossa dieta mediterrânica.” O especialista explica, porém, que, uma vez instalada a anemia, é praticamente impossível compensá-la apenas por via alimentar, sendo indispensável recorrer ao tratamento adequado. “Importa também adotar hábitos de vida saudável quanto a repouso, exercício físico regular e abstenção de consumo de substâncias nocivas como álcool e tabaco”, recomenda Robalo Nunes.


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