Ângelo Rodrigues: “Quanto mais viajo mais incrível acho Portugal”

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Esteve há dois anos a terminar a licenciatura em teatro na Uni Rio, Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Brasil. Voltou a Portugal para participar numa novela e desde então está “numa intermitência” entre um país e o outro. No Brasil viveu das melhores aventuras da sua vida, como quando passou um dia com o irmão de Pablo Escobar, ou quando fez sobrevivência na Amazónia, vivendo com uma tribo indígena. Agora, soma-se um novo destino em busca de novas aventuras: durante um mês, Ângelo Rodrigues vai descobrir a China, a turística e a profunda, numa viagem que “é para enriquecimento pessoal.”

O que é que a China oferece que não encontra no Brasil?

Não procuro quantificar a qualidade das experiências que vou ter num país. Cada país vai-me trazer um enriquecimento diferente, com certeza uma experiência no sudeste asiático ou na Ásia vai ser completamente diferente do que vivi na América do Sul – pela forma de viver, pelas pessoas que vou encontrar, pelos locais que vou visitar. Só por estar num ambiente diferente o estimulo já será diferente.

E o que espera que a China dê, então?

O mesmo que espero em qualquer viagem que faço: enriquecimento pessoal, é só isso que procuro.

Sai-se mais da zona de conforto quando se vai para a China do que para o Brasil, por causa da língua?

Sim. O facto de não termos a mesma língua vai dificultar e vai fazer-me desenvencilhar de uma forma diferente de quando partilhamos a mesma língua, como no Brasil. E o facto de pouca gente – já me avisaram e já estive a ler sobre o assunto – saber falar inglês… a minha língua gestual vai ter de ser bastante apurada [risos].

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Tentou aprender mandarim?

Não, vou querer ter aulas no próprio país.

Vai com rota planeada ou à descoberta?

Há algumas cidades que quero conhecer e tenho um itinerário mais ou menos na cabeça para o que pretendo fazer, mas como é um mês permite-me ter alguma ginástica sobre o tempo que fico em cada cidade. Vou querer passar por Pequim, Xangai, e depois Hong Kong e Tibete.

Porquê a China depois do Brasil?

Acaba por ser um regresso à Ásia. Eu gosto muito da Ásia – é o meu destino de eleição sempre que pretendo viajar e descansar a cabeça. [A Ásia] É sempre uma desculpa para viajar. O custo diário para estar nos países do sudoeste asiático acaba por ser mais barato do que estar cá em Portugal, portanto tenho isso em conta também. Será que vale a pena ficar parado um mês em Portugal ou a viajar para outro país pelo mesmo preço e só tenho de pagar a viagem? São esses os pesos na balança e acabo sempre por viajar.

Viajar é apenas lazer?

Quantas mais experiências conseguir colecionar mais consigo povoar o meu sótão emocional, que depois é a partir desse sótão que vamos buscar as experiências que precisamos para compor personagens. Acredito que viajar é a melhor formação para um ator.

É também uma viagem espiritual?

Acredito que todas as viagens são. Venho sempre mais rico do que quando vou, portanto sim. Tenho também uma certa simpatia pela Ásia pela forma como eles encaram a religião. Simpatizo com o budismo, apesar de ser ateu. A forma de encarar a vida que eles têm agrada-me. Fascina-me aquela comunhão com a vida.

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Há alguma preocupação que tenha, como com a segurança no Brasil?

Na Ásia acaba por ser quase o extremo. Há uma metáfora engraçada em relação à China e ao Japão – se perderes um computador portátil numa praça, quando voltares não só o computador vai estar lá como já tem o sistema operativo atualizado [risos]. A taxa de crime é muito reduzida, e nisso acaba por estar nos antípodas da América do Sul.

Nas razões pelas quais não há tanta criminalidade na China está também a força do regime. Isso preocupa-o?

Preocupa-me um bocado porque tenho a expectativa de ir ao Tibete e está a ser complicado. Só se entra no Tibete com a conivência do governo chinês e tudo o que se faz lá tem de já estar preparado com antecedência – o alojamento, as cidades onde se vai e a que horas se chega, a rota. Essa rota tem de ser feita por uma pessoa do governo. Na prática, não há liberdade de backpacker (andar de mochila às costas).

Cada vez mais pessoas procuram formas de viajar mais económicas. Tem algum conselho?

Não sou a melhor pessoa para dar conselhos. Eu ganho para viajar. Não compro roupa há dois anos. Todo o meu dinheiro vai para viajar. O único conselho é que viajar faz as pessoas mais ricas. Somos pássaros dentro de gaiolas… não quero ser muito filosófico em relação a isto, mas de facto vivemos em gaiolas. E nascemos livres. As pessoas têm um medo absurdo do escuro e do desconhecido.

Já pensou em lançar um blogue ou um site?

Sim, só que há uma sobredosagem tal, nesta era digital, desse tipo de blogues… não queria ser mais um. O meu propósito nisto é uma coisa visceral e íntima. Preciso disto para viver, tal como preciso da minha profissão. Não é para mostrar aos outros. Tenho várias coisas escritas, mas estou à espera do melhor momento. São tantas figuras públicas a lançarem coisas que, de repente, fico perdido – sou só mais um. E, humildemente, eu não quero ser mais um.

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Fez voluntariado em Moçambique e foi estudar para o Rio de Janeiro. Embrulhar-se na realidade é a melhor forma de conhecer um país?

Completamente. Se viajar como turista acabo por conhecer as coisas superficialmente. Cansei-me disso. Não é do meu interesse chegar à muralha da China e tirar a foto, a tentar que 30 ou 50 chineses não apareçam para parecer que estive sozinho na fotografia. É giro deixar imortalizado num registo fotográfico, mas não é disso que estou à procura. Estou à procura de experiências que me engrandeçam por dentro. Tocar no coração do país, é isso de que estou à procura.

Quando abandonamos o nosso país depois valorizamos coisas que consideramos pormenores. O que valoriza mais em Portugal?

Temos um dos melhores países do mundo. Quanto mais viajo mais incrível acho Portugal. Passei a dar valor ao que realmente interessa: a beleza natural – estamos plantados à beira mar, temos das melhores gastronomias do mundo, temos a melhor carne, o melhor vinho, o melhor queijo. Temos é que comunicar o nosso país para fora de maneira melhor. Fui provar a carne argentina e é marketing. Nós temos a posta mirandesa, o porco preto do Alentejo… temos a melhor carne do mundo! E, depois, a nossa hospitalidade… tenho dificuldade em encontrar isso noutro sítio.