
A advogada e académica Anita Hill, de 61 ano, acaba de ser a escolhida para presidir à Comissão que deverá lidar com as queixas de assédio e agressão sexual bem como pela igualdade laboral em Hollywood. A escolha desta mulher é cirúrgica, afinal ela foi uma das primeiras a denunciar um caso de assédio exercido por um poderoso e a testemunhar publicamente contra ele.
Corria outubro de 1991 quando a advogada acusou Clarence Thomas, acabado de ser nomeado pelo Senado para o Supremo Tribunal de Justiça norte-americano, de práticas sexuais indevidas numa altura em que ele era seu chefe no Departamento de Educação e na Comissão para a Igualdade de Oportunidades no Emprego.

A denúncia privada acabou numa revelação perante uma comissão de investigação que, na altura, foi acompanhada televisivamente. E apesar das acusações, Thomas acabou por ser confirmado no cargo.
Apesar de, à data, Hill não ter conseguido impedir nada, nunca mais a advogada baixou os braços, tendo-se tornado numa ativista nesta luta das mulheres contra o assédio sexual, promovendo os desenvolvimentos cultural e legal para contrariar a prática, mas também pugnando pela igualdade racial e de género.
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Agora, a Comissão de Hollywood para Eliminar o Assédio Sexual e avançar em matéria de Igualdade no Trabalho, que entrará em vigor no início de 2018, deverá trabalhar estas matérias numa altura em que a indústria enfrenta acusações, sem precedentes, de comportamentos sexuais.
Entre os fundadores desta nova entidade estão, entre outros, Kathleen Kenndey, presidente da produtora LucasFilm, Maria Eitel, a copresidente da Fundação Nike, os diretores executivos da Disney, Bob Iger, e da Academia do Cinema, Artes e das Ciências, Dawn Hudson.
“É tempo de acabar com a cultura do silêncio”, diz Anita Hill
“A comissão não busca apenas uma solução, procura também uma estratégia completa e integrada das causas dos problemas da paridade e do poder”, explicou a responsável da LucasFilm.
Para Hill, é claro o “orgulho” com que aceita a nomeação para esta nova entidade. “Tem sido uma luta longa no sentido de promover e ver adotadas as práticas que contrariem esta realidade e de criar mudanças institucionais que procurem respeitar a cultura e dignidade humana na indústria”, afirmou a académica.
A sua lista de intenções e de trabalhos também já foi divulgada, assim que foi comunicada a nomeação. “Focar-nos-emos em matérias como a disparidade de poder, equidade, igualdade, segurança, estabeleceremos linhas para lidar com o assédio sexual, a educação e formação, a denúncia e capacitação, a pesquisa constante e a recolha de dados”, afirmou.
“É tempo de acabar com a cultura do silêncio. Estou neste trabalho há 26 anos e o presente traz uma oportunidade sem precedentes para fazer e estabelecer verdadeiramente a diferença”, sublinhou Anita Hill.
Imagem de destaque: Jim Urquhart /Reuters