Respiração: uma maneira improvável de perder a barriga

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“- Abdominais Hipopressivos. – Hipo quê? – Hipopressivos. – O que é isso? – Uma forma de reeducação postural que serve para recuperar o tónus muscular da barriga e do pavimento pélvico.” Verdade seja dita, eu nunca tinha ouvido falar desta da fisioterapia que promete diminuir alguns furos no cinto das calças através da recolocação dos órgãos internos no lugar certo. Esta técnica de fisioterapia ainda não está muito divulgada no nosso país, mas lugares como a Expoclinica ou o Holmes Place da Quinta da Fonte já dispõem de terapeutas qualificadas para nos fazer encolher a barriga, literalmente.

Movida pela vontade de perder a minha barriga de quatro meses (já falei aqui dela) sem esforço fui experimentar o tratamento inovador não invasivo. Na Expoclínica tive a oportunidade de fazer várias sessões com a terapeuta Telma Teixeira. Fui para perder uns centímetros de barriga antes do verão e regressei da primeira consulta com a noção que muito mais interessante do que diminuir o perímetro da cintura era a recuperação da funcionalidade da parede abdominal e do pavimento pélvico. O abatimento de uns centímetros seria apenas a consequência natural da melhoria do tónus muscular interno. E também percebi, nessa primeira consulta, que sem esforço não há prémio – apesar de não haver exercícios aeróbicos, a pulsação aumenta e a transpiração também e da sensação de cansaço nem vou falar…

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Depois de três consultas individuais – a primeira das quais para fazer o diagnóstico da minha condição física interna e as restantes para treinar a técnica postural e respiratória – ingressei nas aulas de grupo de Abdominais Hipopressivos. Eu bem precisava dessa iniciação individual à técnica porque, embora as aulas decorram a um ritmo muito calmo, é bastante difícil manter uma postura que parece absolutamente antinatural. Só com indicações diretas e imediatas do passo a passo se tornaria possível encontrar a posição correta para por os abdominais a trabalhar.

Colocar ombros para a frente, peito para fora, queixo para baixo, abrir as omoplatas, dilatar o diafragma, dobrando os joelhos, encolher a barriga e respirar de uma forma ritmada e, ainda (!), ficar em apneia durante alguns momentos não é nem simples nem fácil. Mas, conforme me vai lembrando Telma Teixeira ao longo destas e das demais sessões, “o que não é natural é não usar os músculos para o que foram criados pela natureza. Os do pavimento pélvico, por exemplo, que deviam trabalhar sempre que nos agachamos.” O problema é que em vez de fazermos esse movimento vezes sem conta ao longo do dia, passamos agora os dias sentadas, digo eu.

Sessões de grupo ou terapia de grupo? Os dois

Nas sessões de grupo acontecem várias coisas curiosas ao mesmo tempo. A vergonha é a primeira. A ideia é que o corpo vá para estas aulas destapado q.b., com roupa de treino (umas leggins justas de cintura descaída e apenas um top é o ideal) mostrando a parte mais importante para ver se estes exercícios estão a ser bem feitos: a barriga. Estamos todas ali mais ou menos com os mesmos problemas – diástase dos abdominais, períneo sem força, bexiga e/ou útero descaídos – com barrigas flácidas e (na primeira sessão) t-shirts a tentar tapá-las. Rapidamente percebemos que é escusado porque a terapeuta Telma insiste em que mostremos a barriga para ver se estamos de facto a trabalhar os músculos que é suposto trabalhar.

A consciência corporal é outra consequência curiosa desta fisioterapia e que perdura além das sessões. “Esta parte podemos tirar e esta não”, diz Telma enquanto separa o tecido muscular do adiposo no corpo das pacientes, “para perder esta parte só com dieta”. E eu a pensar que era tudo o mesmo… Nesta altura (na segunda sessão de grupo) confesso que a gordura da barriga já não é uma questão, por perceber de aula para aula que a funcionalidade do corpo melhora a olhos vistos. Sentada à secretária ou a conduzir dou por mim a manter a barriga para dentro e as costelas abertas como me ensinou a fisioterapeuta da Expoclínica.

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A ideia dos Abdominais Hipopressivos é mesmo esta: modelar o corpo através da postura e da respiração de forma constante. A partir do momento em que temos noção de que adotámos uma postura errada passamos a tentar corrigi-la. Com o tempo e este treino quase inconsciente começamos a melhorar o tónus muscular e no limite, ou melhor, na meta, passamos a ter os órgãos internos no lugar certo. Enfim, meta é talvez um pouco exagerado porque este é um trabalho que nunca acaba, mas é um trabalho que pode ser feito em casa a partir do momento em que nos sintamos autónomas o suficiente para por em prática os exercícios.

O ritmo das sessões e a evolução é condicionada pela condição física geral de cada pessoa, pela predisposição para o exercício, e por outras condicionantes individuais. Como as sessões coletivas são ministradas a grupos pequenos o acompanhamento da terapeuta continua a ser individualizado e as sessões acabam por ser mais divertidas. No final da cada uma surgem conversas engraçadas, como as razões que nos levam ali e, variando nos períodos de tempo, acabamos sempre por ouvir histórias como características semelhantes: “depois de ter os miúdos (…), deixei de ter tanta atenção comigo (…), fiquei completamente diferente depois da gravidez.” E, entre as colegas que fazem os hipopressivos mais tempo, há verdadeiros testemunhos de mudança de vida: “deixei de ter aquela incontinência ligeira (…), agora já posso correr (…) as minha relações sexuais passaram a ser muito melhores”.

No entanto, nem todos os problemas musculares da barriga ou do pavimento pélvico podem ser resolvidos com esta terapia. Telma Teixeira é peremptória quando diz: “Os tecidos com lesão, por exemplo, as hérnias não têm solução com os Abdominais Hipopressivos, mas vários sintomas desde a incontinência de esforço às dificuldades respiratórias podem ser muito melhorados através destes exercícios.”

Quanto a mim, o que posso dizer depois das férias e da interrupção destas sessões apenas um mês depois de ter começado? Que resultou comigo e que enquanto escrevo estas linhas o faço numa postura muito mais correta do que a que teria antes ter ouvido falar dos Abdominais Hipopressivos. Que à medida que o tempo passa e eu vou repetindo algumas rotinas e mantendo a postura correta vou sentindo os abdominais a trabalhar. A perda da barriga não é muito expressiva mas noto que está menor. Não há nada como abrir o diafragma e respirar para tonificar a barriga!