“Estar casado é bom para trabalhar, não se perde tempo a perseguir mulheres”

António Lobo Antunes EPA_José Mendez
O escritor António Lobo Antunes [Fotografia: José Mendez/EPA]

António Lobo Antunes lamenta que Portugal e Espanha não seja um mesmo país, diz que Lisboa está impossível à conta dos famosos, prefere a periferia porque está sempre a ser solicitado para fazer fotografias e diz que estar casado é bom para o trabalho, sobretudo porque poupa tempo à necessária ‘perseguição’ das mulheres.

Estas são algumas das ideias que o escritor António Lobo Antunes acaba de dizer numa entrevista ao jornal catalão La Vanguardia, no âmbito da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, e publicada esta terça-feira, 11 de dezembro.

Segundo a agência Lusa, o autor – que lançou recentemente em Portugal A última porta antes da noite – diz que estar casado “é uma coisa muito boa para trabalhar, caso contrário perde-se muito tempo a perseguir mulheres”. “Nunca trabalhei tanto como quando estou casado”, concluiu

Independência de Portugal

A fusão de Portugal e Espanha é uma ideia que Lobo Antunes não estranha dada a proximidade dos povos. “Não consigo descobrir muitas diferenças entre a gente da península, somos a mesma coisa, temos a mesma maneira de reagir, embora se coma melhor na Catalunha do que em Portugal. É uma pena que não sejamos o mesmo país, todos os ibéricos. Filipe II de Espanha e I de Portugal tinha todo o direito de ser nosso rei, era neto do monarca legítimo”, afirmou o escritor logo na primeira resposta da entrevista, antes de acrescentar que o “grande amor” da sua infância foi uma criada galega que trabalhava para os pais.

O autor realçou que o escritor que mais o comove “ainda é um grande poeta do século de ouro” da Península Ibérica, Francisco Gómez de Quevedo, a quem só Camões se pode igualar, na opinião de Lobo Antunes. “O meu pai lia-nos em voz alta aos seis filhos, gostava muito de poesia”, lembrou o escritor nascido em 1942.

Há mais de dez anos, o Nobel da Literatura José Saramago (1922-2010) disse, ao Diário de Notícias, que Portugal acabaria por se integrar em Espanha, tornando-se uma província de um país que se chamaria Ibéria, para não ofender “os brios” portugueses.

Na mesma entrevista em que recorda que “a ditadura é violência, com os cabrões da polícia política a perseguir a gente“, quando a imprensa escrevia que os presos políticos se suicidavam (“sim, com um tiro nas costas”), Lobo Antunes é ainda questionado sobre se ainda reside em Lisboa, ao que responde que sim, ressalvando que “Lisboa está horrível agora”.

O inferno com Madonna e os prémios literários

“É um inferno desde que a Madonna e tantos famosos vieram viver para lá. A vida é barata, eu almoço sempre em restaurantes de bairro por seis ou sete euros. Vivo na periferia, porque sou uma espécie de emblema do país e, no centro, as pessoas querem tirar fotos comigo. Só estou tranquilo no meu bairro, onde as pessoas me conhecem e me protegem”, afirmou o escritor.

O entrevistador diz não se atrever a perguntar-lhe pelo prémio Nobel, ao que Lobo Antunes lembra ter entrado na coleção Pléiade, “que é muito mais importante que ganhar o Nobel”, acrescentando que os seus livros estão a ser traduzidos também para o árabe, antes de questionar: “Que mais posso desejar?” “A única coisa que me interessa dos prémios é o dinheiro. Quando me telefonam a dizer que ganhei um, a primeira coisa que pergunto é ‘quanto?'”, acrescentou.

CB com Lusa

Imagem de destaque: José Mendez/EPA

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