APAV contra a violência no namoro

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"Se te marcam sabes com quem podes partilhar". Este é o lema da nova campanha da APAV

“Se te marcam sabes com quem partilhar”. Este é o lema da nova campanha da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) especialmente pensada para a prevenção e de olho na violência física e psicológica no namoro entre jovens. Uma iniciativa que vai tomar conta das redes sociais em dia de celebração do amor, Dia dos Namorados.

Uma aposta que surge em paralelo com a divulgação, no final da semana, de números impactantes que indicam que cerca de 22% dos inquiridos não reconhece a violência no namoro. Estes dados, resultantes de um estudo levado a cabo pela União de Mulheres e Alternativa e Resposta (UMAR) e para o qual foram ouvidos cerca de 2500 jovens entre os 12 e os 18 anos, aponta ainda que 16% crê que pressionar o namorado ou namorada a ter relações não é violento. Contas feitas, refere ainda o mesmo estudo, só 4,5% dos participantes admitiu ter sofrido violência sexual numa relação.

“Estes dados, que trazem uma perspetiva muito próxima dos que são conhecidos por quem está no terreno, não nos surpreendem, mas levam-nos a refletir para conseguir prevenir e intervir melhor”, afirma Daniel Cotrim, assessor técnico da Direção da APAV. Daí, a aposta nesta campanha mais juvenil – mas não exclusiva.

Os números continuam a impressionar. O Instituto de Medicina Legal tornou público, neste sábado, que a violência no namoro e no ex-namoro disparou 44% entre 2014 e 2015, de 484 para 699 pessoas. Segundo o estudo, que conta com jovens com 14 anos e mais, quase metade das pessoas que fez exames tem até 25 anos.

Certo é que estamos perante uma faixa etária em que a vivência deste drama pode vir a ser feita em absoluto silêncio. E o especialista da Associação explica porquê:

“As raparigas falam menos do que as mulheres adultas, sob pena de serem afastadas do grupo, muitas vezes, não têm tanta consciência do que lhes está a acontecer e não percebem qual é o limite, a fronteira entre o consentimento nas relações sexuais e a negação”.

“Com esta iniciativa queremos chegar a um público mais jovem e pretendemos fazê-lo pelas redes sociais, remetendo para a ideia de que se alguém nos identifica nas fotos, ou seja, nos agride, também não podemos ficar calados”, explica Daniel Cotrim.

A aposta em campanhas mais direcionadas para adolescentes com 12 anos e mais é, no entender daquele assessor técnico da direção da APAV, uma necessidade que também já está a ser trabalhada em conjunto com escolas, alunos e professores. Aliás, os resultados do estudo da UMAR parecem vir corroborar essa prioridade.

Mas tal parece não chegar. O facto de se recorrer às redes sociais para passar a mensagem ganha ainda mais relevância quando grande parte da violência psicológica, cujos dados são difíceis de calcular, é exercida precisamente por meios com o Facebook, Instagram e outras plataformas semelhantes. “Sabemos que as redes sociais são usadas para pressionar os namorados. A entrega ao parceiro ou parceira da password da sua conta pessoal, com o argumento de que não há nada a esconder, acarreta um maior controlo e domínio sobre a vida do outro. E isto não é viver em liberdade”, vinca Daniel Cotrim.

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Depois dos esforços concentrados em torno do problema da violência doméstica, é tempo – alertam os responsáveis – de a prevenção passar a estar no centro do combate.

“Com o aparecimento das questões da violência doméstica trabalhamos o problema e não tanto a prevenção. Agora, é preciso ter programas estruturados para trabalhar ao lado dos jovens a partir do momento em que eles iniciam o seu processo de socialização”, confirma Daniel Cotrim. O especialista sublinha que este drama é ainda muito estruturado no género: “O número de raparigas é superior aos dos rapazes e, neste campo, há ainda um longo caminho a fazer como sociedade. Mas as organizações estão já em alerta para estas situações”, afirma o assessor técnico.

Uma nota final para vincar que, de acordo com os dados da PSP, o número de participações em caso de violência dobraram de 2013 para 2014, atingindo as quatro participações por dia (os dados de 2015 ainda não são conhecidos).