Queixas por violência caem para pouco mais de metade do que antes da quarentena

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[Fotografia: Istock]

Temos tido muito poucos contactos neste período da quarentena. Os números não são os mesmos, são mais baixos”, refere Daniel Cotrim, psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio de Vítima (APAV). O especialista diz que em média, por dia, a linha “recebe 30 a 40 chamadas e pedidos de apoio” e que agora esse valor regista “uma redução e que estará agora um pouco acima da metade” registada ainda antes do início do isolamento social.

Dados, ressalva, que decorrem de uma análise empírica – ainda não estão tratados -, mas que o psicólogo não duvida e afirma tratar-se “de uma realidade aparente”.

Para lá do convívio permanente em casa não permitir tantos contactos com o exterior e de as saídas de casa estarem reduzidas, Cotrim admite ainda uma outra razão: “As pessoas têm outras preocupações, estão mais focadas na doença, na ansiedade associada à infecção por Covid-19″. “Neste momento a adaptação ao que é normal. As questões relacionadas com a violência doméstica ou com outro tipo de crimes não são uma preocupação ainda”, afirma o especialista.

Crê que o número de pedidos de ajuda e de informações vá aumentar findo este primeiro período de confinamento, previsto para 2 de abril (mas sujeito a prorrogação) e lembra até que estes tempos de quarentena “podem exponenciar a violência física, psicológica e sexual” e pode “manifestar-se em novas famílias onde não havia histórico” porque é “natural que o conflito cresça nesta altura”.

E para lá da violência entre o casal, Daniel Cotrim lembra a agressão sobre pessoas mais velhas e dependentes – “que já antes eram silenciosos e agora são-o ainda mais” – e crianças.

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A solução passa pelos “vizinhos”, pede o psicólogo. “O nosso grande apelo passa pela vizinhança, que esteja muito atenta. Têm de ser as comunidades próximas a atuar porque as vítimas estão trancadas”, sublinha Daniel Cotrim, recomendando: “Se antes contávamos até dez antes de chamar a polícia, agora não podemos fazer isso.

O psicólogo da APAV lembra que todas as estruturas de apoio, mesmo em tempo de quarentena, estão a funcionar, a receber queixas, acompanhar vítimas e a cumprir todos os procedimentos como em período regular e que “há medidas específicas no âmbito do decreto do Estado de Emergência que protegem as vítimas”.

Daniel Cotrim deixa também algumas recomendações aos elos mais fracos neste tempo de isolamento. “Evitar, na medida do possível, o confronto com o agressor porque isso vai aumentar a intensidade da violência”, “que sejam, na medida do possível, as potenciais vítimas a saírem à rua para irem, por exemplo, às compras de forma a que possam combinar com um vizinho um qualquer sinal de emergência em caso de necessidade” e “que não deixem de ligar para as linhas de apoio e autoridades, porque todas estão a funcionar”.

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