Violência doméstica e subsídio de desemprego. APAV reage a observação polémica de Ricardo Martins Pereira

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[Fotografia: pexels-karolina-grabowska-4379964]

Nos dados divulgados em janeiro de 2023, a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica acolheu 1455 pessoas, entre o período de outubro e dezembro de 2022. Destas, 54,2% eram mulheres, 44,7% crianças e 1,2% homens.

Os números são cada vez mais elevados. Para dar apoio, o Governo anunciou que iria aprovar o decreto-lei “sobre a aplicação do subsídio de desemprego” às vítimas de violência doméstica.

Nas redes sociais, Ricardo Martins Pereira, empresário e ex-marido de Ana Garcia Martins, “A Pipoca Mais Doce”, fez a seguinte observação: “Querem ver os números da violência doméstica a disparar em 3,2,1…”. As palavras do empresário merecem uma atenção especial por parte de Raquel Segadães, trabalhadora do departamento de comunicação da APAV.

Através do LinkedIn, Raquel escreveu: “O Ricardo Martins Pereira achou sensato fazer esta história no Instagram. Este discurso é para lá de perigoso vindo de qualquer pessoa, mas acima de tudo de uma figura pública”.

“O Ricardo (…) tem obrigação de conhecer as consequências deste tipo de declarações. Por isso, só me resta concluir que ele não quer saber das mulheres que são diariamente atacadas pelos seus maridos, namorados ou companheiros. Não dá valor às vidas delas, aos seus direitos ou à sua subsistência. Porque quando vítimas de violência doméstica se veem obrigadas a fugir dos seus agressores, mudando de cidade, perdendo o emprego e abandonando as suas raízes, um subsídio de desemprego é o mínimo dos mínimos que o Estado, que nos representa a todos enquanto sociedade, pode fazer”, acrescentou.

No final, Raquel Segadães falou sobre o aumento exponencial de casos e no quão importante é dar voz às pessoas que passam por situações deste género: “Os números de violência doméstica sobem de ano para ano porque infelizmente ela existe e felizmente há cada vez menos tolerância perante a violência conjugal e cada vez mais redes de apoio para quem a sofre. É a estas pessoas que devemos dar voz, não a quem acha que um subsídio provavelmente miserável será razão para alguém decidir criar todo um moroso e doloroso processo de violência doméstica, colando a si própria o ainda estigmatizante rótulo de vítima”.