Apple e Google criticadas por app que permite aos homens controlar as mulheres

A Apple e a Google estão a ser criticadas por disponibilizarem nas suas lojas, a Apple Store e a Google Play, respetivamente, a Absher, uma aplicação que permite aos homens da Arábia Saudita controlar as mulheres e filhas. A ferramenta foi criada pelo Centro Nacional de Informação que, de acordo com o site do governo daquele país, é um projeto do Ministério do Interior saudita.

Na descrição que tem em ambas as lojas digitais, a Absher é caracterizada como uma app que permite controlar familiares ou trabalhadores e oferece “uma ampla gama de serviços eletrónicos online”. Algo que vem restringir ainda mais a liberdade das mulheres sauditas que, de acordo com a organização internacional não-governamental Human Rights Watch, precisam de permissão do pai ou do marido sempre que pretendem deixar o país.

“É realmente projetada para os homens. E, claro, é incrivelmente humilhante, insultuosa e francamente abusiva para as mulheres em muitos casos porque está a permitir o controlo absoluto dos movimentos das mulheres por parte dos homens”, explicou Rothna Begum, investigadora sénior dos direitos das mulheres na Human Rights Watch, à rádio NPR.

O aspeto da app Absher na Google Play

Numa entrevista à mesma rádio na segunda-feira, Tim Cook, CEO da Apple, foi questionado sobre a app. “Não ouvi nada sobre isso. Mas obviamente vamos ver“, garantiu Tim Cook. A Google, por sua vez, ainda não reagiu (percorra a galeria de imagens no topo do texto para conhecer as dez aplicações que podem ajudar no controlo do ciclo menstrual, momentos de fertilidade e gravidez).

Esta não é a primeira vez que a Apple e a Google se veem envolvidas em controvérsias por disponibilizarem, nas suas lojas, conteúdo que promove discursos de ódio, violência, intimidação e assédio. Ainda assim, Rothna Begum acredita que as empresas possam não ter percebido que a aplicação poderia ser usada para monitorizar as mulheres.

“Eles têm outros serviços que são bastante genéricos e serviços governamentais normais. Mas devem considerar as implicações nos direitos humanos, especialmente quando é um serviço oferecido por um governo”, sublinhou a investigadora.

Ironicamente, a Absher, utilizada por 11 milhões de pessoas, também tem sido útil para algumas mulheres que tentam escapar do regime repressivo da Arábia Saudita. Rothna Begum revelou que há registos de várias mulheres que conseguiram alterar as configurações da app, no telefone do seu tutor masculino, para que o homem lhes permitisse viajar e fugir do país.

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