O progresso caminha a diferentes velocidades e para as mulheres sauditas o seu ritmo tem sido mais lento que na generalidade do mundo.
24 de junho de 2018 fica para a história como o dia que põe fim a uma tradição que vigorou ao longo de décadas sob a alçada do ultraconservador ‘establishment’ saudita: a condução era um privilégio reservado aos homens, por mais que os movimentos de contestação tenham ganho rodas nos últimos anos.
Foi em setembro passado que o Rei Mohammed bin Salman, de 32 anos, rosto de uma revolução que pouco a pouco vai agitando as águas e reconfigurando a sociedade, anunciou a suspensão das restrições que impediam as mulheres de conduzir, podendo agora ser emitidas livremente as respetivas licenças (20 dias antes, no entanto, já se despachavam as primeiras cartas).
À boleia das decisões
Claro que algumas das principais bandeiras do universo das tendências e da emancipação feminina não tardaram a dar eco aos ventos de mudança, que ainda assim não se livram de polémica.
Já este mês, a revista Vogue Arábia veiculava – literalmente – a força motriz que acompanha a suspensão da lei: “Driving Force” é o título associado à imagem de uma mulher ao volante, sendo que esta não é uma mulher qualquer, razão suficiente para que diferentes vozes questionem esta escolha para a produção.
Trata-se da princesa Hayfa Bint Abdullah al-Saud, filha do rei Abdullah, que morreu em 2015, e irmã do atual monarca, que surge num descapotável vermelho, numa pose glamorosa que está a anos da luz da realidade da maioria das mulheres sauditas.
O grito de poder não se livrou de contestação nas redes, com a capa a ser alvo de inúmeras alterações – uma delas destacava-se pela inclusão dos rostos das 11 ativistas que foram detidas em maio, por defenderem o direito à condução.