Arte e política no desfile de Katty Xiomara

Katty Xiomara levou para a passerelle do Portugal Fashion quadros de grandes dimensões da autoria de João Jass, o artista plástico que emprestou o seu estúdio para servir de cenário às fotografias da campanha da coleção. Um pano de fundo artístico que retrata a inspiração das propostas que Katty importou para outono-inverno 2018/2019 e que trouxe do cubismo e do abstracionismo lírico.

A designer chegou a esta fonte de inspiração ao tentar encontrar uma palavra para descrever o momento em que vivemos, o resultado deste exercício foi ‘abstrato‘, tendo por isso escolhido este momento particular da História de Arte.

“O abstrato é a palavra ideal para descrever aquilo que estamos a viver agora. Estamos a viver um momento de abstracionismo e de pensamento, não percebemos se as coisas que se dizem são verdade ou mentira, se o que vai acontecer a seguir no mundo pode ser grave, não se percebe se é algo iminente ou que vai demorar. Por isso, acho que vivemos um momento muito abstrato”, justificou.

E prosseguiu: “A maneira como se vê a moda e a política está a mudar. Vivemos um momento de incerteza, antes a tradição das grandes casas era muito importante, neste momento tentamos encontrar um ponto de viragem, algo que seja diferente. Apesar de, na moda, o conceito de diferente está sempre rodeado de aspas, porque o nosso trabalhado é sempre construído em cima de acumular de histórias, não podemos fechar os olhos ao que está para trás.”

Olhando em detalhe para a indústria da moda, Katty vinca, ao Delas.pt, que “se está a tentar mudar o que conhecemos como o see now buy now, as coleções sem estação e as vendas fora de temporada. Neste momento, estamos num momento de incerteza”.

Na roupa proposta pela designer nascida em Caracas, Venezuela, este abstracionismo é encontrado em peças com “alguma desconstrução, assimetria, com recurso a coordenados que descaem”.

Quanto às silhuetas, Katty manteve a linha da coleção passada, com alguns elementos comuns às propostas feitas para primavera 2018. Falamos, claro, dos folhos verticais, dos decotes quadrados, das alças largas e da renda. A novidade é que “esta coleção tem um cheirinho aos anos 70”, que é dado pelos tons castanhos e laranja, pelos veludos, por sobreposições e pelas calças à boca-de-sino.

Imagem de destaque: PF/DR

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