É assim que as atrizes estão a lidar com a nudez e as cenas de sexo em Hollywood

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Quase um ano depois do escândalo Weinstein e, consequentemente, do aparecimento do movimento #MeToo, as coisas parecem estar a mudar em Hollywood. Os filmes continuam e as cenas ousadas não desapareceram do grande ecrã, com os seus momentos de sexo e de nudez, mas as atrizes começam a ficar mais exigentes com as condições em que o fazem, logo desde o início da carreira.

Nos contratos que realizam, os profissionais da representação têm procurado estar salvaguardados a nível legal, garantido que imagens com pouca roupa não são utilizadas de forma inapropriada e que não há pressões momentâneas que os obriguem a despir-se mais do que o argumento inicial exige. Algo que antes parecia não acontecer.

“Durante a terceira temporada, tive uma experiência muito má no set, onde basicamente me senti encurralada para filmar uma cena de nu parcial. Senti que não tinha escolha”, contou a atriz Evangeline Lilly ao recordar a sua participação na série Lost. E acrescentou: “Quando terminei, comecei a tremer, senti-me mortificada. Tinha as lágrimas nos olhos”, descreveu o jornal espanhol El Periódico.

Tal como Evangeline, outras atrizes sentiram essa pressão, sobretudo no início da carreira. Salma Hayek foi uma delas. Em 2017, a atriz escreveu numa coluna de opinião que o produtor Harvey Weinstein a ameaçou deixar fora do elenco de ‘Frida’ caso ela não aceitasse filmar uma cena sexual com outra mulher, em que teria que aparecer completamente nua.

“Acontece a todos”, afirmou o advogado Loan Dang ao Washington Post. “Eles dizem: ‘Estás a atrasar o processo, podes decidir-te de uma vez?’, a pessoa está no cenário cercada de pessoas, trabalha com elas e pensa: ‘Meu deus, como é que vou dizer que não?’”.

Atualmente, uma das soluções passa pelas cláusulas de nudez incluídas nos contratos realizados. Não é algo novo, mas tornou-se mais frequente nos últimos dez meses – ou seja, desde o escândalo que estalou em Hollywood. Ora bem, essas mesmas cláusulas devem incluir uma descrição completa de tudo aquilo que deverá ser aceite ou não pelo ator, desde a descrição física da cena, passando pelo grau de nudez e de contacto necessário durante a ação, bem como uma série de condições estritas relativamente ao material conseguido, ficando bem explícito o que pode ou não ser utilizado fora do filme. Além disso, o intérprete mantém o direito de poder retirar o seu consentimento a qualquer momento, mesmo que tenha assinado este acordo.

Mas estas são apenas as bases de qualquer cláusula, às quais se podem juntar outras caso os atores assim queiram. Muitas atrizes incluem ainda o direito de autorizar quem está presente no cenário no momento da ação, permitindo apenas a entrada ao pessoal essencial para a gravação da cena. Há ainda quem deixe por escrito o uso obrigatório de certos adereços essenciais à privacidade íntima, como tapa mamilos ou remendos para as zonas púbicas.

Todas estas mudanças podem fazer parte, ou ter como base de inspiração, o novo código de conduta, instituído no final do ano passado pela Academia de Cinema e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, com objetivo evitar que mais pessoas violassem os padrões da decência recorrendo (ou não) a possíveis estatutos, poder ou influência.

[Imagem de destaque: Reuters]

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