As malas às costas de Dino, o amor cego de Faísca, a arte de Olga

Dizem que ‘depois da tempestade vem a bonança’, e mais uma vez o ditado se confirmou com a ModaLisboa a encerrar esta edição sem sinal dos ventos que agitaram a noite anterior. Este domingo, 14 de outubro, foi o último da edição 51 da semana de moda lisboeta e sem tempestade à vista os dois primeiros desfiles foram ao ar livre, como estava no programa.

A ModaLisboa encerrou de malas às costas com a linha final do desfile Dino Alves pejada de modelos com sacos e trouxas, numa crítica aos despejos que os aumentos das rendas em Lisboa têm provocado, o próprio designer foi despejado do seu atelier. Uma sátira que roubou as palmas ao público, mas só depois dos 15 segundos que duraram os stories que registaram o momento. Da coleção destacam-se os casacos com as costuras para fora – que representavam o mote da coleção que era a beleza interior e como as experiências de cada um é que fazem a sua personalidade e não os bens materiais – o regresso das saias de balão e as calças à boca de sino para homem.

Vinte e seis coordenados fizeram a coleção de Gonçalo Peixoto que desta vez arriscou em tecidos sofisticados que contrastaram de forma brilhante com a assinatura desportiva e cool do criador . As rendas têm bordadas as mesmas flores que as malhas têm desenhadas, linhas únicas criadas pelo designer. Há ainda um tecido que Gonçalo trouxe de Nova Iorque e um linho italiano com acabamento encerado e efeito holográfico. Esta é uma coleção para quem gosta de tecidos. A impressão geral quando entrámos nos bastidores e vimos esta coleção pela primeira vez foi a de que tudo era muito cor de rosa, mas na passerelle os verdes e os amarelos ganharam outra vida e impuseram a sua presença. Esta é uma “coleção dedicada às mulheres. É uma coleção despreocupada, para mulheres 100% dedicadas a si próprias”, explicou o designer ao Delas.pt.

Dois dias foi o tempo que demorou a fazer a última peça do desfile de Olga Noronha, uma peça porque quando falamos de Olga falamos de obras de arte e não de roupa. Nesta coleção a designer explorou as técnicas de embutidos e encastre muito usados no mobiliário e joalharia respetivamente. Dos três materiais usados destaca-se o celuloide, que foi o “primeiro plástico sintético a ser inventado, por volta 1800, mas que ainda tem canfora, portanto ainda tem algo de orgânico. Também o único plástico que não derrete mas arde”, explicou a criadora ao Delas.pt. Apesar desta reação drástica, o celuloide só se consegue trabalhar debaixo de fogo o que foi uma dificuldade acrescida à criação de cada peça.”Aconteceram umas coisas muito interessantes no estúdio”, contou ironicamente a criadora.

Já o estúdio de Filipe Faísca voltou a encher-se de bordados da madeira, à semelhança do que aconteceu na coleção anterior. Além das flores e cornucópias tradicionalmente madeirenses, o designer também trouxe para a passerelle abelhas. A paleta cromática fez-se de tons suaves, com destaque para o pêssego, mas o grande momento da noite vestiu-se de branco. O amor é cego e Filipe Faísca sabe disso, por isso fechou o desfile com uma noiva com um véu atado à cara, uma personificação perfeita da figura do cupido.

Desfilaram ainda a Imauve que se inspirou na cultura grega e a Duarte que levou referências da Formula 1 para a passerelle, já Carolina Machado viajou até à Cuba dos anos 50, enquanto Andrew Coimbra foi buscar as suas referências ao dias de hoje. As propostas de Kolovrat também desfilaram no último dia de ModaLisboa e inspiraram-se aos sonhos e à liberdade imaginativa que estes nos dão.

Imagem de destaque: Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

Imagens da galeria: ModaLisboa

O regresso de Alexandra Moura, o padrão de Ricardo Andrez e as cerejas de Luís Carvalho