As mulheres e as artes em discussão em Lisboa

Patrícia Reis, escritora
Lisboa, 22/03/2017 - Patrícia Reis, escritora. (Leonardo Negrão / Global Imagens)

A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, recebe esta segunda e terça-feira, 16 e 17 de outubro, a conferênciaMulheres nas Artes – Percursos de Desobediência’.

O objetivo deste encontro de dois dias é “ouvir mulheres nas diferentes áreas criativas, de forma a perceber se o mundo mudou, se as mulheres têm mais oportunidades, que tipo de ambições e sonhos é que têm e dar-lhes palco e protagonismo, porque a maioria dos encontros que se fazem, assim como a maioria dos comentadores na televisão, são com outro sexo”, explica ao Delas.pt Patrícia Reis, curadora do evento com a também escritora Inês Pedrosa.

Da literatura ao cinema, passando pelo teatro, as artes plásticas, a dança e a música, os debates vão reunir mulheres de renome, nessas expressões artísticas, para discutir a posição feminina nestes contextos. Na conferência serão também homenageadas as escritoras Maria Teresa Horta e Lídia Jorge e a pintora Graça Morais.

“Achámos que seria engraçado juntar várias gerações, vários estilos, várias tendências, várias correntes e, durante dois dias, debater o que é que é isto de ser mulher e ser criativa, em áreas distintas e se, de facto, há um percurso de desobediência, considerando que estamos muito longe da paridade a todos os níveis”, diz Patrícia Reis, que lançou recentemente o livro ‘Construção do Vazio’ (D.Quixote).

Num conjunto de debates com um foco feminino houve, no entanto, quem não visse com bons olhos as escolhas dos moderadores. No página de Facebook do evento algumas pessoas criticaram o facto de serem todos homens.

A escritora diz não entender a polémica, rejeitando que esta seja uma conferência fechada onde os homens não entram e questiona por que “ninguém se rebela, nem ninguém gera polémica quando as moderadoras são mulheres e os debates são exclusivamente feitos por homens”.

“Nada contra os homens, até porque eu acho que um homem inteligente é um bom feminista”, sublinha, defendendo que a forma como a conferência está organizada permite discutir os assuntos entre pares, de uma forma construtiva.


“Ouvir mulheres nas diferentes áreas criativas, de forma a perceber se o mundo mudou, se as mulheres têm mais oportunidades, que tipo de ambições e sonhos é que têm e dar-lhes palco e protagonismo”

Sem querer entrar em generalizações, porque “o mundo não é feito de generalizações”, para Patrícia Reis o importante é reconhecer que no século XXI, “as mulheres continuam sem ter os mesmos direitos e as mesmas regalias que os homens, nas várias áreas, e têm uma vida mais complicada para conseguir algumas coisas.”

Um facto, estatisticamente provado, que se traduz em progressões mais lentas na carreira e salários menores, e que se estendem ao panorama das artes. [As mulheres] são muito menos traduzidas na área da literatura do que os homens – e quando digo muito menos, é mesmo muito menos, no mundo inteiro. As atrizes de Hollywood ganham menos do que os atores de Hollywood. Tudo isto é conhecido e sabido”, exemplifica.

Novos livros e ante-estreias no feminino

O cinema e a literatura são duas das áreas em destaque na conferência, não apenas em debate mas também com ante-estreia do novo filme de Sally Potter, ‘A Festa’, e do lançamento do livro, ‘Eu Matei Xerazade – Confissões de Uma Mulher Árabe em Fúria’, da libanesa Joumana Haddad, ambos na segunda-feira.

O filme trata a história de uma mulher na política e a forma como a família e as pessoas que a rodeiam podem facilitar ou dificultar o seu percurso. A entrada é gratuita, às 21h30, no Grande Auditório, mediante levantamento de bilhete no próprio dia, a partir das 10h00.

Já Joumana Haddad fala às 18h, numa conversa conduzida por Inês Pedrosa, tradutora do seu livro para português e mentora da nova editora, Sibila, que se vai dedicar, prioritariamente, à publicação de autores do sexo feminino e através da qual é lançada a obra da poeta, jornalista e ensaísta libanesa.

“O livro é um bom retrato de como o Ocidente está enganado relativamente ao mundo árabe e às mulheres. E ao mesmo tempo é também uma rebeldia por parte de Joumana Haddad, que tem tido um percurso ímpar em Beirute. Ela é editora de uma revista em árabe com poemas, erotismos, imagens, ficções. A revista chama-se ‘Corpo’ e tem gerado bastante polémica, mas ela é a prova de que uma mulher árabe pode ser muito mais do que aquilo que no Ocidente se imagina”, descreve Patrícia Reis.

O lançamento do livro segue-se à palestra e está marcado para as 19h15, com apresentação de Nuno Júdice.

Maria Manuel Viana, a Maria Teresa Horta, a Tatiana Salem Levy (escritora brasileira a residir em Portugal), Olga Roriz, Aldina Duarte, Mafalda Veiga, Patrícia Vasconcelos e Ana Vidigal são outros dos destaques da programação, ao longo dos dois dias.

No primeiro, 16 de outubro, será ainda inaugurada uma exposição de ilustradoras premiadas com o Prémio Nacional de Ilustração.

Para consultar a programação completa clique aqui.