As mulheres que deram cor aos números da NASA

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O percurso fantástico das extraordinárias Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson dá mote ao filme ‘Elementos Secretos’ (‘Hidden Figures’, no original), que estreia nas salas de cinema nacionais esta quinta-feira, 2 de fevereiro.

A ação decorre em 1961 e em plena Guerra Fria. O soviético Yuri Gagarin é o primeiro homem a viajar para o espaço e os americanos sofrem uma pesada derrota numa guerra tecnológica que é cada vez mais disputada na órbita terrestre.

Ao mesmo tempo que vê o seu inimigo e rival a avançar na corrida espacial, a Agência Espacial Norte Americana (NASA) não consegue desprender-se de condicionantes bem terrestres e na sua própria casa. 1961 é também época de luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos da América e o Centro de Investigação de Langley da Agência, onde se desenvolve o Projeto Mercury, que tem como objetivo colocar um americano no espaço, situa-se na Virgínia, um dos estados onde a segregação e o racismo são lei.

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É aí que trabalham e vivem três das mentes mais brilhantes da história da NASA e que vão ser fundamentais para o sucesso da missão de colocar em órbita John Glenn – o primeiro americano a viajar à volta da Terra, em 1962. Há, no entanto, um (duplo) senão e vários reveses na escolha dessas mentes brilhantes: elas são mulheres e afro-americanas. Por essa razão, os seus nomes ficaram muitas vezes na sombra e seriam precisos alguns anos para que fossem resgatados e ocupassem o seu devido lugar na História.

Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe dão vida, respetivamente, a Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson. Cientistas, matemáticas e engenheiras aeroespaciais, que alcançaram posições inéditas, à data, para as mulheres e para a comunidade negra. É essa dupla discriminação que vemos na adaptação que o realizador Theodore Melfi fez a partir do livro de Margot Lee Shetterly sobre a vida destas três mulheres.

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‘ Elementos Secretos’ centra-se na personagem interpretada por Taraji P. Henson (Katherine Johnson), pela sua importância no Projeto Mercury, e a sua história pessoal seria suficiente para uma biopic deste género. Mas o contributo das outras duas mulheres para essa missão da Agência Espacial Norte-Americana merece, no grande ecrã, a reprodução do destaque que lhes é dado no livro.

Além da partilha da amizade, da cor da pele – e dos preconceitos a ela associados – e da capacidade intelectual, a história das três interligada oferece uma perspetiva mais completa da emancipação feminina naquele contexto e naquela época. Ou seja, num mundo exclusivamente masculino como o da engenharia e investigação aeroespacial, contaminado pela discriminação racial da América dos anos 60.

A cor destaca-se neste filme também noutro campo: o do guarda-roupa. As mulheres negras que trabalhavam na altura na NASA, apesar de remetidas para um patamar inferior, em sentido literal e figurado, davam cor, com os seus vestidos coloridos e de padrões diversos, aos imensos corredores cinzentos de um espaço onde a ascensão feminina é coroada com um colar de pérolas.

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É na constante superação dos obstáculos que surgem de todos os lados e que sucedem a cada progressão que conquistam – tratada no filme com uma boa dose de humor –, que se encontra o maior factor de interesse de ‘Elementos Secretos’, nomeado para os Óscares de Melhor Filme, Melhor Atriz Secundária (Octavia Spencer) e Melhor Argumento Adaptado e vencedor da categoria principal dos prémios do Sindicato de Atores (Screen Actors Guild Awards).

Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monae levaram para casa o prémio de “desempenho excecional de elenco num filme”, equivalente ao Óscar de Melhor Filme. “Esta história é sobre o que acontece quando colocamos as nossas diferenças de parte e nos unimos como raça humana. Nós ganhamos. O amor ganha”, afirmou a primeira na cerimónia de entrega dos prémios, que decorreu em Los Angeles, na passada segunda-feira.