As nove mensagens feministas dos Prémios Goya

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Os prémios Goya – os troféus do cinema espanhol – já tinham sido palco de protestos pacíficos pela maior parte da presença feminina em 2018 e 2019 não fugiu à regra. Desde leques vermelhos contra a violência de género até discursos sobre o sexismo, os Goya deste ano continuaram a dar voz às mulheres e à luta pelos seus direitos.

Se no ano passado Isabel Coixet e Carla Simón, as únicas realizadoras nomeadas, foram as primeiras a refrescar-se com o célebre leque vermelho que pede, exatamente, “mais mulheres” (#MásMujeres) nesta indústria, este ano, a cerimónia de entrega dos prémios foi também marcada por vários momentos simbólicos.

Silvia Abril, atriz e comediante espanhola, aproveitou a sua mediatização para evidenciar o sexismo entre homens e mulheres e as premiadas também discursaram para confrontar os políticos ou para celebrar as “mulheres invisíveis” nas narrativas dos filmes.

Estas foram as nove mensagens feministas dos Goya deste ano:

1 – Arantxa Echevarría, protagonizou um dos discursos mais emblemáticos: “Quero dedicar este filme, que é de amor, a todos aqueles que não permitem amar de forma diferente, àqueles que não são capazes de se pôr na pele da minoria e do distinto, àqueles que não acreditam que é necessário haver uma lei sobre a violência de género, àqueles que não acreditam que a comunidade LGBTI precisa de apoio, aos que pensam que o aborto e a mudança de sexo não fazem parte da saúde pública. Estas foram as suas palavras ao pegar o seu prémio para Realizadora Revelação, pelo filme Carmen y Lola.

2 – Leques vermelhos, porque a violência de género existe: Pelo segundo ano consecutivo, a Asociación de Mujeres Cineastas (CIMA) – Associação de mulheres cineastas – marcou presença na cerimónia com leques vermelhos. No ano passado a simbologia era o apelo por “mais mulheres” na indústria cinematográfica e, este ano, foi sobre a violência de género. “Estamos conscientes da importância que o cinema e o audiovisual têm para derrubar estereótipos nefastos e perigosos. Continuamos a reclamar por mais mulheres que acabem com os estereótipos machistas desta sociedade”, explicaram as porta-voz ao apresentarem a sua iniciativa, citadas pelo S Moda. Atrizes como Natalia de Molina, Ruth Gabriel ou mesmo a equipa do filme Carmen y Lola não dispensaram os seus leques vermelhos durante o evento.

3 – Eva Llorach, ‘é difícil ser mulher’: Eva Llorach ganhou o prémio de melhor atriz revealção com o filme Quién te cantará (Quem te cantará, em tradução literal). A atriz pediu às suas colegas, e também a Penélope Cruz, que se levantassem dos seus lugares e discursou:”É muito difícil ser mulher. Vocês são muito poucas, muito poucas. Quero pedir às guionistas, criadoras, produtoras e atrizes que têm a possibilidade de impulsionar projetos que criemos histórias com protagonistas femininas, sobretudo nos anos em que começamos a ser invisíveis: a partir dos 40, 50 e 60 anos nós continuamos a existir. Não nos metam num buraco negro. Tenho a ideia louca de que o cinema pode mudar as coisas, pode reinventar os clichés que nos esmagam e penso que, a pouco e pouco, conseguiremos fazer do cinema um mundo mais igualitário e mais justo”, declarou a atriz.

4 – Amaia e o pelo corporal: Participou na Operação Triunfo espanhola e já havia afirmado, no passado, que iria depilar as suas pernas, “porque as mulheres também têm pelos”. Agora, no evento dos Prémios Goya 2019, voltou a aparecer sem a depilação feita debaixo dos braços e foi assim que se apresentou na passadeira vermelha.

5 – Para Silvia Abril, as atrizes não são modelos da Vitoria’s Secret. A atriz e comediante apresentou os Prémios Goya e começou a gala de uma forma forte e impactante, afirmando que as mulheres não precisam de ser magras para fazer cinema. “As atrizes são artistas e não modelos da Victória Secret’s”, afirmou a atriz.

6 – Groucho Marx para lembrar o mercado é “realmente machista”: Groucho Marx foi um ator e comediante americano, que se tornou popular na primeira metade do século XX. Durante os Goya foi passado um pequeno trecho de um filme seu e Andreu Buenafuente, marido de Silvia Abril, apareceu no palco vestido de Groucho para recordar que “do total de nomeados esta noite, apenas 26,5% são mulheres.”

7 – Silvia Abril volta ao palco e rompe com regras de indumentária: Silvia Abril apareceu no palco sem vestido, apenas com corset de meia perna. O marido acompanhou-a, e ambos protagonizaram o momento da noite, cujo objetivo foi abordar o tema da tirania sobre o corpo e sobre o aspeto das mulheres aos olhos do público.

[REUTERS: Marcelo Del Pozo]
8 – Carolina Yuste e a visibilidade feminina: A atriz ganhou o prémio de melhor atriz secundária no filme Carmen y Lola e, assim como Eva Llorach, agarrou o seu prémio e pediu por mais visibilidade feminina. Carolina Yuste afirmou que se sentia “feliz por estar num projeto com uma equipa 70% feminina”. Acrescentou ainda que “quando nos dão voz, saem filmes como este, que podem mudar consciências”.

9 – Mariano Barroso e o seu apelo para uma igualdade sem medo: “Talvez tenha chegado o momento em que, quando uma menina chega a casa e diz que quer ser diretora, guionista ou atriz, os seus pais não sintam um calafrio de medo. Talvez devessem sentir um arrepio de orgulho, porque a sua filha quer ter uma profissão digna. Porque quer fazer parte da explosão internacional do audiovisual espanhol”, afirmou o presidente da Academia de Cinema.

Esta foi, sem dúvida, uma gala marcada por muitos momentos feministas e de empoderamento da mulher onde nem os homens da indústria cinematográfica ficaram indiferentes.

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