As três duras críticas de Ana Gomes em noite de derrota, mas de “missão cumprida”

EleiÁıes Presidenciais 2021 - Ana Gomes
[Fotografia: Álvaro Isidoro/Global Imagens]

Se eu não tivesse estado nesta disputa [Eleições Presidenciais], estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita”, afirmou, logo no início do discurso, Ana Gomes.

A candidata militante socialista, mas apenas com apoio do PAN e do Livre, assumiu pessoalmente a derrota neste sufrágio – por não ter ido a uma segunda volta -, mas deixou duras críticas ao Partido Socialista, a António Costa e a toda a Esquerda, que não se mobilizou permitindo a “vitória da direita democrática”.

Saio com a “missão cumprida” e com “o objetivo patriótico” cumprido: “Impedir que a ultra direita ascendesse a uma posição de possível alternativa”.

Ana Gomes terminou este sufrágio em segundo lugar, com mais de meio milhão de votos, deixando para trás o líder e deputado único do Chega!

A socialista e diplomata lamentou “a não comparência do partido”. Não ter vindo a jogo “contribuiu”, afirmou, “para dar vitória à direita democrática”. “Foi uma situação para a qual alertei. Foi mais uma missão de serviço público que cumpri num momento de insuportável adversidade pessoal. Porque nunca me resignei, nem resignarei perante a necessidade de a democracia se regenerar de forças antidemocráticas que cavalgam o ressentimento dos cidadãos”.

“António Costa foi o principal responsável por essa deserção” do PS nestas eleições, acusou. “Não estivesse no terreno a minha candidatura, acabavam por fazer o jogo de extrema-direita, permitindo-a como alternativa”, vincou. “Quanto à direção do PS, espero que os militantes os leve a tomar conclusões e reflexão.”

Ana Gomes vincou ainda que “nestas eleições, as esquerdas preocuparam-se com as suas próprias agendas e, assim, concorreram para dar a vitória à direita democrática”.

A candidata assumiu que irá continuar como militante do Partido Socialista. “Mantenho a condição de militante base, mas não desistirei de fazer tudo o que for preciso defender e reforçar a democracia, o que implica lutar pela isenção e transparência a quem governa e e exigir o regular e independente funcionamento de quem o governa incluindo parlamento e órgãos judiciais”, concluiu.

A candidata independente a Belém e militante socialista torna-se na mulher mais votada neste sufrágio presidencial. Ana Gomes obteve 536 mil votos, com quase 13%. Em 2016, Marisa Matias tinha segurado essa liderança, com 479 mil votos. O recorde estava, até aí, em 1986, quando Maria de Lourdes Pintasilgo tinha conquistado 419 mil.