Assédio: mulheres portuguesas célebres assumem ter sido vítimas

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Pouco mais de dois anos depois de a primeira vaga de #MeToo ter chegado timidamente a Portugal, as declarações polémicas da atriz Sofia Arruda ao programa Alta Definição na SIC em torno do assédio voltaram a abrir um baú que há muito as mulheres carregam no silêncio e que começam a tornar público.

Do mundo do espetáculo e das artes, passando pelo mundo académico e empresarial, multiplicam-se os casos públicos e anónimos de mulheres que dizem ter sido vítimas deste tipo de humilhação e subjugação. Aliás, estudo apontam para que oito em cada dez (79%) das portuguesas tenham já sofrido uma situação desta natureza, refere o estudo de 2019, As Mulheres em Portugal, Hoje, da Fundação Francisco Manuel dos Santos

De volta a Portugal, a coragem de Sofia Arruda tem levado a que várias figuras públicas portuguesas se pronunciem, não só no apoio a Sofia, mas assumindo também elas terem passado por situações semelhantes, como se pode ver nos casos, apenas uma pequena parte, abaixo elencados. Na entrevista a Daniel Oliveira, Sofia Arruda explicou que sofreu de uma “aproximação menos profissional da parte de uma pessoa com muito poder dentro de uma estação de televisão, uma produtora”. O facto de a jovem se ter negado a avançar com o envolvimento fez com que o assediador a proibisse de trabalhar na estação durante anos.

Dois anos antes, a atriz Dânia Neto dava o pontapé de saída para o tema, em janeiro de 2018, cerca de três meses depois do terramoto que o #MeToo tinha iniciado nos Estados Unidos da América e no mundo. Hoje, em conversa com o Delas.pt, Dânia Neto fala da importância de “dois anos depois” mais mulheres virem a público relatar estas histórias sem medo. Claro que Dânia sabe que arriscou e ouviu exatamente mulheres a acusá-la disso mesmo. Porém, dois anos depois, fala em mudança de mentalidades, uma maior consciência por parte das mulheres para este tema e um cerco cada vez mais apertado a agressores.

Em 2018, Olívia Ortiz, então apresentadora da TVI, também foi uma das primeiras a reconhecer que havia assédio no trabalho. No entanto, hoje, afastada dos ecrãs, prefere não fazer comentários, análises ou balanços dos últimos dois anos após a denúncia. Recorde o impacto do movimento, na altura, ame Portugal.

Veja dez, das cada vez mais, celebridades portuguesas que já se pronunciaram sobre o tema.

Carolina Deslandes: A cantora assumiu, em entrevista à revista Sábado, ter sido vítima de assédio. “Não disse nada por vergonha”. A artista explicou que, anos mais tarde, se arrependeu de não ter apresentado queixa. “Uns anos depois, ele teve um problema com uma menor. Só pensei: ‘porque é que eu não disse?!”, lamentou.

Bárbara Norton de Matos: A atriz revelou ter sido vítima de assédio. Na maioria dos casos, o não apresentar queixa é sinónimo de medo de represálias ou de perder trabalho, ou até mesmo de vergonha de se assumir vítima, considerou à revista Nova Gente.

Cláudia Lucas Chéu: A argumentista sublinhou a importância de, à semelhança de Sofia Arruda, falar sobre o assédio. Sobre aquilo que viveu, contou: “Não vou dizer o nome do ator, nem qual a companhia de teatro porque não vale a pena, ele sabe bem quem é. O importante aqui é falar sobre a situação”. Citada pela revista TV7 Dias, contou: “Era uma novata acabadinha de sair do Conservatório, ele era um tipo uns anos mais velho e já experiente na representação. Começámos por nos dar bem e desenvolver uma certa ligação, o que até nos dava jeito, porque fazíamos par romântico nesse espetáculo. Acontece que, na única cena sexual que fazíamos juntos, o energúmeno colocava-me a mão mesmo sobre o sexo. Primeiro, achei que aquilo tinha sido sem querer, mas depois repetiu-se na noite seguinte”. “É a vez dos assediadores ficarem calados, a não ser que seja para pedirem desculpa, e de nós os fazermos baixar a bolinha”, concluiu.

Catarina Furtado: Não é recente o testemunho da apresentadora sobre assédio sexual. Catarina Furtado já se havia pronunciado, pela primeira vez, em 2018, tornando-se das primeiras celebridades portuguesas a dar o rosto pelo assunto. A revelação foi feita a David Beja, no podcast Cada Um Sabe de Si, da Rádio Comercial. Catarina Furtado explicou que o momento mais embaraçoso da sua vida “foi quando fui assediada sexualmente”.

Inês Simões: A atriz, que começou a carreira nos Morangos com Açúcar, na TVI, revelou nas redes sociais ter sido vítima de situações semelhantes às descritas por Sofia Arruda. “Nunca mais trabalhei em televisão”, explicou. No comentário feito, pode ler-se: “Sei bem o que é isso porque também me aconteceu. Acredito que aconteça ainda com frequência com muitas atrizes e atores. Efetivamente, nunca mais trabalhei em TV, mas criei outros projetos e mantive a minha dignidade e consciência tranquila”.

Bárbara Guevara: Durante anos trabalhou como jornalista na SIC, mas foi recentemente que, através do Twitter, revelou também ter sido vítima de assédio. “Durante anos, fui alvo de assédio sexual e abuso de poder (chantagem), sobretudo quando trabalhava em televisão enquanto jornalista, na SIC. Ao longo desse tempo, outras miúdas confidenciaram-me relatos semelhantes, com as mesmas ou outras pessoas”

Sara Sampaio: A modelo afirmou, em 2017, na Cimeira da Tecnologia e Empreendedorismo, ter sido “forçada a fazer coisas que não queria”. Sampaio, de 26 anos, considerou que as redes sociais “vieram dar voz” a quem trabalha no setor e dar margem de denúncia a alvos mais frágeis.

Cristina Ferreira: Muito antes do assédio sexual a figuras públicas ser discutido em voz alta, a apresentadora já havia revelado ter sido vítima deste tipo de atitudes.

“As flores indiciavam uma óbvia tentativa de conquista. As palavras, mansas, acusavam um objetivo claro: ele queria ‘comer-me’. E não! Não há outra expressão que melhor defina o que ele queria. Percebi, em todas as entrelinhas dos elogios despropositados, uma gana que me metia nojo”, escreveu a apresentadora no seu livro ‘Sentir’, lançado em 2016.

Dânia Neto: Foi no podcast Maluco Beleza, conduzido por Rui Unas em janeiro de 2018, que a atriz afirmou: “Eu já sofri de assédio, não posso dizer que não”. Dânia Neto, ainda em respota à pergunta do ouvinte, explicou que esta situação “desconfortável aconteceu há anos, ainda no início de carreira”.

Débora Monteiro: Foi no programa da Júlia Pinheiro, na SIC, que Débora Monteiro fez a revelação. “Acho que me tornei um bocado agressiva. Foi: ‘Não estou aqui para isto, estou aqui para trabalhar, portanto, ou é isso ou vou-me embora’. E pronto, foi assim. Depois sofri na pele”. Este comportamento levou a que ficasse “infeliz” e “insegura” no ambiente de trabalho. “É horrível porque temos um contrato, eu por mim rasgava o contrato e ficava por ali, mas não dá, tem que se fazer o projeto até ao fim”, contou. À época da entrevista dizia já não sofrer desse tipo de situações. “Na altura, houve um ou outro técnico que se apercebeu e me protegeu muito. Estavam sempre a tentar proteger-me, ainda hoje em dia falamos sobre isso. Foram uns cavalheiros”, concluiu.