Associação apela aos fibromiálgicos para denunciarem médicos que os desrespeitam

costas dor

A presidente da Associação Portuguesa de Doentes com Fibromialgia (APDF) apelou aos doentes para denunciarem os médicos que não cumprem as orientações clínicas da Direção-Geral da Saúde (DGS) e que “ainda ousam dizer” que a doença é imaginária.

Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Fibromialgia, Fernanda Neves de Sá disse à agência Lusa que este ano a data tem um significado especial para os fibromiálgicos, porque finalmente foram reconhecidos como doentes.

“Este ano é muito especial, muito importante, porque, pela primeira vez, no nosso país, os doentes fibromiálgicos vão viver o seu dia mundial, sendo considerados finalmente como doentes, o que até agora não acontecia”, afirmou.

Para o reconhecimento da doença, que atinge mais de 300 portugueses, foi fundamental a publicação no final de 2016 da “norma de abordagem diagnóstica da fibromialgia” da DGS, onde estão inseridos todos os pontos de diagnóstico, a forma como os doentes devem ser diagnosticados, acompanhados, e as bases científicas que levaram à sua elaboração, disse Fernanda Neves de Sá.

“Portanto, aqueles médicos que ainda ousam dizer que é uma doença que não existe, que é uma doença psiquiátrica, que é da imaginação da pessoa, etc. todos esses médicos estão sujeitos a sanções porque são obrigados a cumpri-la”, salientou.

A associação aconselha os doentes a denunciarem estas situações. Já há auditorias a decorrer, mas “infelizmente também são muito poucos os doentes que ao ouvirem-se insultados, ao ouvirem o médico que têm à sua frente dizer ‘isso não é doença nenhuma’, ‘vá para casa’, ‘vá ao psiquiatra’ ou ‘vá passear'”, apresentam queixa.

“Nós aconselhamos, insistimos para as pessoas escreverem para a Entidade Reguladora da Saúde ou para a Direção-Geral da Saúde, para haver as devidas participações dos doentes contra esses médicos que não os sabem receber e desconhecem a norma existente, mas acontece uma coisa: os doentes têm medo”, lamentou.

Fernanda Neves de Sá contou que estes doentes “ainda vivem debaixo do medo e da vergonha e escondem que são fibromiálgicos”, tendo “vergonha daquilo que ouvem dos próprios médicos”.

Os clínicos têm que “conhecer e cumprir a norma e a DGS tem que atuar de uma forma forte sobre os médicos incumpridores” e “tem que que haver o máximo de esclarecimento também da DGS, que já está pronto, sobre as normas terapêuticas”, defendeu.

Por outro lado, os médicos de família estão “pouco informados e nem se interessam” e, perante as queixas dos doentes de dor, o maior sintoma da fibromialgia, que pode afetar uma grande parte do corpo, reencaminham-nos para a consulta da dor.

Para a presidente da associação, um doente fibromiálgico não deveria ser tratado apenas por um médico: “É uma patologia que deveria ser tratada de uma forma multidisciplinar a começar pelo médico de família, que devia ser o primeiro a dar apoio ao doente, começando pela parte afetiva”.

“A partir daí poderá haver o apoio de um neurologista, de um reumatologista e de um médico de medicina interna porque a fibromialgia afeta drasticamente muitos órgãos internos”, sustentou.

A fibromialgia caracteriza-se por dores neuromusculares difusas, fadiga, perturbações do sono e distúrbios emocionais. Alguns doentes queixam-se de perturbações gastrointestinais.

As estimativas apontam para que a fibromialgia possa atingir cerca de dois por cento da população adulta portuguesa, sendo que as mulheres são cinco a nove vezes mais afetadas do que os homens por esta doença que se inicia, em regra entre os 20 e os 50 anos.