Associação de Menopausa faz alertas para bruma íntima de Cristina Ferreira: “Promover produtos que perpetuam desinformação prejudica as mulheres”

Captura de ecrã 2025-01-21, às 20.08.16
[Fotografia: captura de ecrã/ Instagram/Cristina Ferreira]

Dois dias depois o lançamento da bruma íntima, PIPY, da apresentadora Cristina Ferreira, a VIDAs – Associação Portuguesa de Menopausa alerta, em nota oficial divulgada nas redes sociais, para o facto de a promoção de “produtos que perpetuam desinformação prejudica as mulheres e desvia o foco do que realmente importa: conhecimento, prevenção e saúde”, lê-se na nota oficial publicada na página da plataforma.

Apresentada no âmbito do novo projeto de empoderamento feminino liderado por Cristina Ferreira, #eusouGIRA, a apresentadora detalhou que a solução foi “testada dermatologicamente e ginecologicamente” e garante ter sido “desenvolvido com uma fórmula com pH equilibrado compatível com a zona íntima externa”. Nas mensagens de explicação da apresentadora e que podem ser lidas no direto que Cristina Ferreira fez no Instagram, na segunda-feira, 20 de janeiro, há quem pergunte sobre se há efeitos do produto para quem está nesta fase da vida, e a resposta é a de que não há incompatibilidades.

Contudo, a VIDAs salvaguarda que “durante o processo de menopausa – pré, peri e pós-menopausa – o corpo feminino enfrenta mudanças significativas, como secura vaginal, infeções recorrentes ou disfunções urinárias”. Por isso, prossegue, “produtos que prometem mascarar odores naturais podem: alterar a microbiota vaginal, aumentando o risco de infeções, disfarçar sinais de alerta, atrasando diagnósticos, provocar irritações em pele sensível, especialmente nesta fase da vida”.

[Fotografia: Captura de ecrã/Facebook/ViIDAs]

Cristina Mesquita de Oliveira, presidente da entidade, considera que, “embora iniciativas como a de Cristina Ferreira alegadamente promovam confiança e bem-estar, é crucial garantir que esses produtos sejam apresentados com responsabilidade e que não promovam padrões irrealistas de higiene ou saúde vaginal. Apelamos pois a um diálogo mais informado e consciente, priorizando a saúde real das mulheres”.

“A saúde vaginal deve ser prioridade, e não uma oportunidade de mercado”, acrescenta e prossegue: “A saúde íntima não é um luxo nem um tabu – é uma prioridade. Nesse sentido, a associação vinca que “o lançamento de produtos cosméticos destinados à área íntima feminina, como o recentemente lançado no mercado “PIPY”, reacende um debate importante: até que ponto estes produtos promovem saúde ou perpetuam mitos e inseguranças sobre o corpo feminino?”.

A entidade presidida por Cristina Mesquita de Oliveira avança ainda que “o odor vaginal natural não deve ser estigmatizado ou mascarado” e que “alterações persistentes ou desconfortáveis precisam de avaliação médica, não de cosméticos”. Defende, por isso, “educação e desmistificação sobre o corpo feminino, cuidados médicos reais e acessíveis, em vez de soluções cosméticas e aceitação e confiança no corpo natural, sem padrões artificiais”.

“Produtos para mascarar ou alterar o odor vaginal, mesmo “brumas leves “ou com “pH equilibrado”, podem representar riscos”

Cristina Mesquita de Oliveira reitera à Delas.pt que “o odor vaginal é um dos indicadores da saúde geniturinária” e que “qualquer alteração significativa neste parâmetro pode indicar condições que necessitam de acompanhamento médico”.

Cristina Mesquita de Oliveira, autora do livro 'Descomplicar a Menoapusa' [Fotografia: Divulgação]
Cristina Mesquita de Oliveira, autora do livro ‘Descomplicar a Menoapusa’ [Fotografia: Divulgação]

A presidente elenca diagnósticos eventuais como “vaginose bacteriana (caracterizada por um odor forte e desagradável, acompanhado de corrimento anormal), infeções por fungos (candidíase, podem alterar o cheiro e causar outros sintomas, como prurido e desconforto) e atrofia vaginal: comum na pós-menopausa, pode levar a um desequilíbrio na microbiota, promovendo infeções recorrentes”.

A presidente da plataforma acrescenta que “produtos para mascarar ou alterar o odor vaginal, ainda que sejam ‘brumas leves’ ou com ‘pH equilibrado’, podem representar riscos para a saúde vaginal, especialmente em mulheres na menopausa”, podendo provocar “interferência com a microbiota vaginal”. “Mesmo produtos com pH ajustado podem, inadvertidamente, alterar a flora natural, comprometendo o equilíbrio entre lactobacilos e outros microorganismos”, detalha por escrito a presidente e autora de livros nesta matéria. A responsável convoca a atenção para a possibilidade de “o uso de fragrâncias para disfarçar odores poder mascarar sintomas importantes” poder “atrasar diagnósticos e tratamentos” e levar a uma “desvalorização de sintomas”. Mesquita de Oliveira aponta ainda para a “sensibilidade cutânea”: “Mulheres na menopausa, devido à secura vaginal e à pele mais fina, estão mais suscetíveis a irritações ou reações alérgicas.”