
Dois dias depois o lançamento da bruma íntima, PIPY, da apresentadora Cristina Ferreira, a VIDAs – Associação Portuguesa de Menopausa alerta, em nota oficial divulgada nas redes sociais, para o facto de a promoção de “produtos que perpetuam desinformação prejudica as mulheres e desvia o foco do que realmente importa: conhecimento, prevenção e saúde”, lê-se na nota oficial publicada na página da plataforma.
Apresentada no âmbito do novo projeto de empoderamento feminino liderado por Cristina Ferreira, #eusouGIRA, a apresentadora detalhou que a solução foi “testada dermatologicamente e ginecologicamente” e garante ter sido “desenvolvido com uma fórmula com pH equilibrado compatível com a zona íntima externa”. Nas mensagens de explicação da apresentadora e que podem ser lidas no direto que Cristina Ferreira fez no Instagram, na segunda-feira, 20 de janeiro, há quem pergunte sobre se há efeitos do produto para quem está nesta fase da vida, e a resposta é a de que não há incompatibilidades.
Contudo, a VIDAs salvaguarda que “durante o processo de menopausa – pré, peri e pós-menopausa – o corpo feminino enfrenta mudanças significativas, como secura vaginal, infeções recorrentes ou disfunções urinárias”. Por isso, prossegue, “produtos que prometem mascarar odores naturais podem: alterar a microbiota vaginal, aumentando o risco de infeções, disfarçar sinais de alerta, atrasando diagnósticos, provocar irritações em pele sensível, especialmente nesta fase da vida”.

Cristina Mesquita de Oliveira, presidente da entidade, considera que, “embora iniciativas como a de Cristina Ferreira alegadamente promovam confiança e bem-estar, é crucial garantir que esses produtos sejam apresentados com responsabilidade e que não promovam padrões irrealistas de higiene ou saúde vaginal. Apelamos pois a um diálogo mais informado e consciente, priorizando a saúde real das mulheres”.
“A saúde vaginal deve ser prioridade, e não uma oportunidade de mercado”, acrescenta e prossegue: “A saúde íntima não é um luxo nem um tabu – é uma prioridade. Nesse sentido, a associação vinca que “o lançamento de produtos cosméticos destinados à área íntima feminina, como o recentemente lançado no mercado “PIPY”, reacende um debate importante: até que ponto estes produtos promovem saúde ou perpetuam mitos e inseguranças sobre o corpo feminino?”.
A entidade presidida por Cristina Mesquita de Oliveira avança ainda que “o odor vaginal natural não deve ser estigmatizado ou mascarado” e que “alterações persistentes ou desconfortáveis precisam de avaliação médica, não de cosméticos”. Defende, por isso, “educação e desmistificação sobre o corpo feminino, cuidados médicos reais e acessíveis, em vez de soluções cosméticas e aceitação e confiança no corpo natural, sem padrões artificiais”.
“Produtos para mascarar ou alterar o odor vaginal, mesmo “brumas leves “ou com “pH equilibrado”, podem representar riscos”
Cristina Mesquita de Oliveira reitera à Delas.pt que “o odor vaginal é um dos indicadores da saúde geniturinária” e que “qualquer alteração significativa neste parâmetro pode indicar condições que necessitam de acompanhamento médico”.
![Cristina Mesquita de Oliveira, autora do livro 'Descomplicar a Menoapusa' [Fotografia: Divulgação]](https://www.delas.pt/files/2022/10/Cristina-Mesquita-De-Oliveira.jpeg)
A presidente elenca diagnósticos eventuais como “vaginose bacteriana (caracterizada por um odor forte e desagradável, acompanhado de corrimento anormal), infeções por fungos (candidíase, podem alterar o cheiro e causar outros sintomas, como prurido e desconforto) e atrofia vaginal: comum na pós-menopausa, pode levar a um desequilíbrio na microbiota, promovendo infeções recorrentes”.
A presidente da plataforma acrescenta que “produtos para mascarar ou alterar o odor vaginal, ainda que sejam ‘brumas leves’ ou com ‘pH equilibrado’, podem representar riscos para a saúde vaginal, especialmente em mulheres na menopausa”, podendo provocar “interferência com a microbiota vaginal”. “Mesmo produtos com pH ajustado podem, inadvertidamente, alterar a flora natural, comprometendo o equilíbrio entre lactobacilos e outros microorganismos”, detalha por escrito a presidente e autora de livros nesta matéria. A responsável convoca a atenção para a possibilidade de “o uso de fragrâncias para disfarçar odores poder mascarar sintomas importantes” poder “atrasar diagnósticos e tratamentos” e levar a uma “desvalorização de sintomas”. Mesquita de Oliveira aponta ainda para a “sensibilidade cutânea”: “Mulheres na menopausa, devido à secura vaginal e à pele mais fina, estão mais suscetíveis a irritações ou reações alérgicas.”