Assunção Cristas e Catarina Martins: duas líderes, dois destinos distintos

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Assunção Cristas, presidente do CDS-PP, e Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda [Fotografia: Paulo Spranger e Reinaldo Rodrigues/Global Imagens/montagem]

Ambas estavam vestidas de azul e branco, mas os rostos das duas líderes femininas de forças partidárias tinham expressões opostas. Em noite de legislativas, este domingo, 6 de outubro, a presidente do CDS-PP Assunção Cristas, de 45 anos, felicitava os vencedores do sufrágio, mas anunciava, diante de um dos mais baixos resultados do partido centrista, a sua saída da liderança.

A líder democrata cristã prometeu congresso antecipado – estatutariamente marcado para março de 2020 – e anunciou que não se recandidataria “em face dos resultados”. Os 18 lugares que ocuparam no hemiciclo, entre 2015 a 2019, passaram agora a cinco.

Quanto a Cristas, a líder centrista, na sua curta declaração e sem direito a perguntas, afirmou: “Dei o meu melhor durante quatro anos”, falou numa “oposição forte e construtiva” por parte do CDS-PP. “Muitas vezes sentimos que fomos uma voz isolada no parlamento”, lamentou. Saiu depois acompanhada do marido, Tiago Machado da Graça, e sem mais respostas. “Boa noite e bom descanso. E agora deixem-me descansar a mim também”, declarou.

Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, sorria diante das percentagens de votos que consolidavam o partido como “a terceira força política”. À meia-noite, a coordenadora contava com 19 deputados eleitos na bancada parlamentar da futura legislatura (igualando resultados de 2015).

Para lá da “derrota histórica” da direita, a coordenadora do BE vincou: “Estes quatro anos provam como tínhamos razão quando dissemos que estava na altura de fazer uma mudança neste país”.

Num futuro ainda por definir – com contas por fechar – o BE mostrou-se disponível para renovar um acordo com o PS, mas definiu regras. “Sempre dissemos que nestas coisas não temos tabus nem fazemos suspense”. Catarina considerou que o “Partido Socialista tem todas as condições para fazer governo e o BE está preparado para negociar uma solução que ofereça estabilidade ao país”. Assim, o partido “manifesta a sua disponibilidade, mantendo o compromisso que sempre afirmámos”. “Aqui estamos, aqui estaremos, em qualquer dos cenários, para lutar pelos compromissos que afirmamos desde o primeiro dia”, concluiu.

O líder do PS, António Costa, diz que “os portugueses gostaram da geringonça e desejam a continuidade, mas agora com um PS mais forte”. Falou em “estabilidade e credibilidade internacional” e, por isso, “garantir a construção de soluções de estabilidade no horizonte da legislatura”.

A disponibilidade de Catarina Martins teve eco, com Costa a falar em “parceiros parlamentares”, em “renovar a parceria política que os portugueses disseram que queriam ter como continuidade”.

O secretário-geral do PS e ainda primeiro-ministro pisca o olho a quem nem sempre o apoiou ou a quem está a chegar de novo ao hemiciclo. “Repetiremos os contactos já estabelecidos com PAN de modo a ver como aconteceu em três dos quatro Orçamentos do Estado e ver se há agora, então, acordo político no horizonte da legislatura”, referiu. E acrescentou: “E entraremos em contacto também com o Livre, cuja presença no parlamento entendemos com um reforço da solução política que produziu boas políticas e bons resultados que todos os portugueses conhecem ao fim destes quatro anos”, referiu.

A nova líder de um novo partido e o adeus de Heloisa

O Livre consegue eleger uma deputada: Joacine Katar Moreira é historiadora e ativista e tem 37 anos.

Joacine Katar Moreira

No polo oposto está Heloísa Apolónia, de Os Verdes. A líder parlamentar falhou a eleição pelo difícil distrito de Leiria, onde a CDU não elegia desde 1985, revelando ter “vários projetos” de vida, incluindo maior participação na vida do partido.

“Foram 24 anos no parlamento a defender as causas ambientais e sociais. Agora, espera-me outra frente partidária para continuar essa luta. Tenho vários projetos na cabeça, mas ainda nada está definido”, afirmou a jurista de formação, que começou por ser assessora do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), ainda na década de 1990.

 

LISBOA , 28/04/2017 -Heloísa Apolónia, deputada do partido Os Verdes(Gonçalo Villaverde / Global Imagens)

 

A deputada ecologista garantiu, citada pela agência Lusa, que vai estar “empenhada, com a experiência adquirida, a ajudar o grupo parlamentar” e terá “um papel maior na dinamização e vida interna do partido”. “[O resultado eleitoral] Não foi positivo para os avanços que poderiam ser conseguidos para o país, mas a CDU lá estará, a propor e a continuar o seu trabalho por melhores condições de vida das pessoas”, disse Heloísa Apolónia, sobre a votação de domingo na qual a CDU perdeu vários mandatos a nível nacional, recuando em termos de percentagem e votos face a 2015.

Os outros dois novos partidos

O Iniciativa Liberal vê chegar o seu primeiro elemento ao hemiciclo: João Cotrim Figueiredo, gestor e empresário, ex-director-Geral da TVI e ex-presidente do Turismo de Portugal. Na extrema-direita, o partido Chega, de André Ventura, consegue um primeiro lugar na Assembleia da República.

PS e PAN reforçam presença na AR

De 80, em 2015, para 106, este ano. Esta é a subida do número de deputados do Partido Socialista que vai ter lugar na AR. O partido Pessoas-Animais-Natureza passa de um deputado, André Silva, para quatro. “Um partido feminista, uma vez que elegeu mais mulheres do que homens” na Assembleia da República, referiu André Silva.

O PCP/PEV desce de 17 para 10 deputados. Também o PSD cai. Dos 89 deputados com assento parlamentar na última legislatura, os resultados provisórios apontavam para 77.

Imagem de destaque: DR

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