Até no supermercado se fala de ténis

Até na fila do supermercado se fala de ténis. Vim agora de lá. O meu país do futebol acordou a falar de courts e raquetas, mal quis saber do Varandas, enterrou por momentos as toupeiras, e há anos a fio que sabe tudo sobre amortis, ou drop shots, vocês escolhem. Eu acordei a olhar para a raqueta no fundo do quarto – dormi pouco, estive a ver a final masculina, é possível que isto tudo morra na rede -, pensei nas cordas que não fervem há anos, nos braços que pesam para lá da conta, e no sonho que podia não ter deixado pelo caminho.

Com os anos, sobrou-me seguir tudo pela televisão, o fraco consolo dos fracos. Eu sempre achei que podia ter sido apunhalada (cruzes, credo) como a Selles, apupada como a Hingis, esganiçada como a Sharapova. O que eu sei hoje, de certezinha, é que mais que invejar talento, invejo boa educação, e Osaka, aquela de quem mal se fala porque uma brisa dá menos cliques que um furacão, ainda que esse furacão tenha sido um autêntico desastre natural, serviu-me dos dois.

A primeira japonesa a vencer o Us Open, um dos quatro torneios do Grand Slam, com apenas 20 anos, ultrapassou o seu ídolo de infância e trepou até ao sétimo lugar do ranking liderado pela romena Simona Alep. Não teve direito ao conto de fadas, ou a grande reforço de prosa na falível Wikipedia, apenas a um excesso de letras nos jornais, que continuam a insuflar aquela polémica febre de sábado à noite em Nova Iorque.

O meu consolo, agora mais forte que fraco, é que a história mais justa de Naomi começa e acaba de ser escrita onde deve começar e acabar de ser escrita. Primeiro em campo, frente à rede, e à 23 vezes campeoníssima que sai derrotada a dobrar. Logo de seguida, na tabela WTA, onde as contas arrumam todas as parangonas e caprichos. O resto é folclore. Como o meu namoro matinal com a velha raqueta. Ou o fervor pelo ténis na caixa do super. Mas foi uma bela partida ganha ao futebol nos últimos dias, lá isso foi.