Aurea: “Estou feliz com tudo o que aconteceu até agora na minha vida”

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É em tom confessional que se faz o novo disco de Aurea. A cantora acaba de lançar o seu quarto álbum de originais, o sucessor de ‘Restart’ – um trabalho recheado de temas que resultam de segredos bem guardados, seus e de outros, e que são agora revelados, sem no entanto desvendarem demasiado sobre a quem pertencem. “Estes segredos são assuntos universais, que já aconteceram a qualquer um de nós, no decorrer das nossas vidas”, diz a artista sobre o seu novo “Confessions” (título do novo disco), em entrevista ao Delas.pt. Uma dessas confissões tem assinatura de Carolina Deslandes, na música e na letra do single de apresentação, ‘Done With You‘. O “tema que ela escreveu, é um segredo meu”, admite. Outra das confissões de Aurea, desta feita na entrevista, é a possibilidade de vir a fazer, a médio prazo, um disco em português. O gosto pela mudança e a maturidade trazem à cantora de 30 anos vontade de arriscar novos caminhos, como já começou a fazer em ‘Confessions’, ela que, enquanto jurada do concurso The Voice, vê tantos novos talentos a iniciarem os seus, como Cláudia Pascoal, de quem foi mentora, no concurso, e que no próximo sábado representa Portugal, na final da Eurovisão. “Estou super contente por ela, ela merece muito isto”.

 

Acaba de lançar um novo disco, chamado ‘Confessions’. Podemos dizer que este é um álbum confessional?
Este disco é composto por 10 músicas e cada uma das músicas é um segredo, um segredo de alguém próximo de mim – familiares, amigos, pessoas que se cruzaram a determinada altura na minha vida. Daí este “Confessions”, porque é um disco de confissões, muito íntimo. E a principal diferença deste [disco] para o álbum anterior é não ser tão da minha vida, mas ser da vida das pessoas que me rodeiam. A ideia surgiu numa viagem – acho que as viagens são fabulosas para pensar na vida. Tanta gente que já me confessou coisas durante a minha vida, tantos segredos que já me contaram… E nós mantemos tudo dentro de nós e é assim que deve ser, ainda bem! Porque são segredos.

Então por que é que decidiu partilhar esses segredos com o público?
Porque são histórias tão interessantes, pelo menos para mim, que sei do que é que as músicas falam em específico, são histórias tão ricas, tão reais, que mereciam vir cá para fora. Obviamente que mantenho o anonimato de toda a gente, não vou dizer a quem é que pertencem os segredos ou do que é que as músicas falam em específico. Também tenho segredos meus no disco [risos]. São informações tão ricas que fazia sentido pegar nelas: Por que é que não fazemos uma música, um disco a falar destas coisas?

E não receia o risco de que quem ouve possa achar que essas confissões são todas suas. Não a incomoda que possa haver essa associação, de que são histórias suas?
Não, não, de todo. Até porque eu acho que estas histórias, estes segredos são assuntos universais, que já aconteceram a qualquer um de nós no decorrer das nossas vidas. São músicas, segredos, que falam de desejo, de paixão, de amor, de solidão, de frustração, desilusão. E quem é que nunca passou por nada disto?

Um dos temas, o ‘Done With You’, é da autoria da Carolina Deslandes. Isto é uma confissão quase assumida ou não?
Não. É engraçado, porque na altura ela enviou-me a música num dia em que pensou: “Olha eu já tinha aqui um tema guardado há muito tempo que gostava que ouvisses”. Ela enviou a música e eu quis ouvir de imediato e assim que ouvi a música percebi que aquela letra, aquele tema que ela escreveu, é um segredo meu. Portanto, ficam a saber que o ‘Done With You’ é um segredo meu! Não vos vou dizer do que é que fala em específico, podem levar a letra literalmente, pode não o ser. Mas foi engraçado porque ela não sabia da temática do disco, o disco estava quase fechado, já estávamos quase em estúdio e de repente a música dela foi assim como uma peça que falta num puzzle. E encaixou na perfeição.

Foi na altura certa.
Foi completamente. Eu costumo dizer que foi um presente que a Carolina me deu.

Este disco tem uma sonoridade um bocadinho diferente daquela que nos habituamos a associar à Aurea. Por que quis marcar a diferença também a esse nível?
Por natureza, sou uma pessoa que não gosta de se acomodar e se já fazia música mais virada para a soul, desde que comecei – às vezes fugia um bocadinho em determinados temas outras vezes ia mesmo à raiz da soul ou tentava ir –, neste disco pensei: “por que é que não faço qualquer coisa diferente”? E quis explorar a minha voz de forma diferente, explorar novos sons, ter um universo sonoro completamente diferente para o próximo disco. Eu desde que comecei a cantar que falo muito em influências da soul, antigas e mais recentes, desde a Aretha Franklin ao James Brown, à Joss Stone à Amy Winehouse, mas raramente falei de outras coisas que ouvi ao longo da minha vida e que foram tantas.

Por exemplo?
Zero 7, que já falei anteriormente, Air. Eu tenho um irmão mais velho que me mostrava muita coisa, desde Metallica, a Placebo, a Muse. Ouvi muita, muita coisa diferente. E ouvia tanto fado. Por que é que não pego nestas influencias todas que tenho e que são tantas para além do soul e faço um álbum que tenha mais a ver com isso? Por que é que não mudo um bocadinho? E vai-me saber tão bem mudar. Vai ser desafiante. E eu gosto disso, eu gosto do desafio. E falo disso no booklet do meu disco, na mudança. Eu tinha muito medo de tudo o que tinha a ver com a mudança quando era mais miúda e quando comecei. E neste momento percebi que a mudança é necessária. A mudança faz parte das nossas vidas e só ela é que nos faz crescer. E acho que era necessário mesmo para este novo disco.

Já tem 30 anos…
É verdade! 30! [risos]

Sente que esta idade, o facto de entrar nesta fase, lhe trouxe mais segurança e confiança para assumir esses riscos, essa mudança?
Sim, talvez também tenha a ver com o processo de amadurecimento e de perceber que não tem mal nenhum nós mudarmos. Faz-nos bem a todos. Acho que o mais importante aqui é nós estarmos rodeados das pessoas certas, que nos vão também amparar, e de acreditarmos no produto que temos nas mãos. E para mim é muito importante que o trabalho seja genuíno, seja real e que eu acredite mesmo nele. E daí ter tanta confiança também para ir em frente e atirar-me para a frente e dar este salto de fé. Realmente acho que está nas pessoas que estão à minha volta e neste trabalho em que eu acredito tanto e que me tem dado tanto gozo.

Falando em salto de fé, algum dia arriscaria um disco em português?

Claro que sim, porque não? Acho que o cantar em inglês veio de uma opção que nós tomamos no início e porque fazia todo o sentido. Era soul, nós queríamos ficar o mais próximo das raízes possível e assim continuámos, mas nunca fechei as portas a cantar em português ou a fazer um trabalho em português e é óbvio que eu quero fazer um trabalho em português, mas queria fazê-lo no momento em que fizesse mesmo sentido para mim. E acho que isso está mais próximo do que nunca.

E talvez com um bocadinho de fado?
Quem sabe? Eu respeito muito o fado, adoro ouvir e não sei se por isso mesmo tenho medo de tocar ali, porque é tão especial para mim. Eu cresci a ouvir fado, o meu pai tocava e acompanhava fadistas. Então parece que o fado está num lugar muito especial.

É sagrado.
É sagrado para mim. Então tenho-me limitado a ouvir e ver quem sabe realmente cantar fado.

Também tem ouvido e visto muita gente nova, enquanto jurada do programa The Voice, a mostrar o seu talento. O que é que isso lhe trouxe como artista?
Eu aprendi muito com toda a equipa do The Voice, porque é maravilhosa, aprendi muito com o Anselmo [Ralph], com o Mickael [Carreira], com a Marisa [Liz]. Temos uma ligação muito bonita, os quatro, e acho que isso passa também para o público. E com os concorrentes é maravilhoso. Nós vemos pessoas de todas a idades a passar por ali e vemos pessoas com alguma idade que nos dão autênticas lições de vida à nossa frente, que nos ensinam que nunca é tarde de mais para acreditar nos sonhos. E pessoas que apostaram nos filhos, na família, naquele trabalho, naquela rotina uma vida inteira e de repente dizem: “agora vou tirar um bocadinho para mim e vou fazer aquilo que realmente me vai no coração”. Ensinam-nos que nunca devemos desistir das coisas que fazem parte de nós e em que nós acreditamos. Se o fizermos deixamos de viver. Precisamos de seguir o sonho e o sonho comanda a vida, como dizem, portanto, nós aprendemos muito com as pessoas que lá vão. Há muita força de vontade, há muito querer, muito trabalho, muita dedicação. Supostamente estamos ali como mentores, mas eles ajudam-nos também muito a nós e a manter toda esta motivação.

As saídas de concorrentes são muito emocionais. Como é que gere isso?
Às vezes, lá em casa, até podem pensar que é fita, que é tudo falso. Não, não é! Nós criamos ligações com as pessoas, passamos muito tempo em estúdio, dias após dias com os concorrentes, com a equipa, e realmente há ali uma união muito especial e quando chega a altura de dizer adeus a alguém custa sempre.

Mantém contacto com alguns dos ex-concorrentes?
Claro que sim! Estou super, super orgulhosa da Cláudia Pascoal nos ir agora representar agora na Eurovisão. Estou super contente.

Vai fazer claque com uma peruca cor-de-rosa, como alguns fãs da Cláudia sugerem?
Com a peruca cor de rosa, não! [risos] Estou a brincar. Mas estou super contente por ela, ela merece muito isto e a música da Isaura é muito especial e acho que juntas fazem uma dupla muito, muito boa. Vai ser mesmo um orgulho ouvi-las no meio daquelas músicas todas, na Eurovisão.

Pegando na questão imagem da Cláudia, e no cabelo cor-de-rosa, a Aurea também tem uma imagem muito forte, desde que apareceu…
Tenho?

Tem.
Forte?

Forte.
Sou curiosa, é só por isso que estou a perguntar [risos]

Quando apareceu a sua imagem era mais clássica, talvez mais associada ao glamour das cantoras soul… Mas nota-se uma evolução no seu estilo, um pouco à medida que os anos foram passando e os discos se foram. Essa é também uma afirmação de mudança, sente-se mais à vontade para assumir o que quer também em termos de imagem?
Acho que tem a ver com o ser mulher, de querer mudar e gostar de mudança. Voltamos ao início quase da conversa. Eu gosto de mudar, de experimentar coisas novas. Acho que isso é que apimenta a vida. E daí estar constantemente a mudar o cabelo, a mudar a roupa. Eu no próprio dia a dia sou assim, por que não ser assim como artista também? Acho que temos todos muito mais a ganhar, não só eu. Mais diferença.

Nesta fase da sua carreira, sente que há alguma coisa que gostasse já de ter realizado e ainda não tenha conseguido ou que não tenha surgido a oportunidade certa?
Eu estou feliz com tudo o que aconteceu até agora na minha vida e não sou uma pessoa de sonhar muito. Não sonho muito alto, não gosto de elevar as expectativas porque não gosto de me desiludir. Sou assim na vida pessoal e sou assim na vida profissional também. Tenho vivido muito o dia-a-dia e tudo o que me vai acontecendo. Quando acontece uma coisa muito boa fico super feliz, quando acontece uma menos boa não me desiludo assim muito. Por isso, eu acho que não há nada que tenha ficado por realizar. É óbvio que ainda tenho muita coisa que quero que aconteça e espero ter muito tempo para isso, que não me falhe a voz, que as pessoas se continuem a identificar com aquilo que faço, com a forma como eu canto, com as minhas músicas, com a mensagem que eu quero passar, porque são as pessoas que me vão permitir também realizar essas etapas e os objetivos que tenho em mente. Eu sou é muito agradecida por tudo o que me tem acontecido até agora.

Pode partilhar connosco alguns desses objetivos?
Oh, claro! [risos] Passam muito por continuar a cantar, por continuar a fazer o meu trabalho, por ter concertos. Passam muito por aí. Eu não sou muito exigente. Quero cantar, porque é isso que me faz feliz. Partilhar música com os meus músicos, coma minha equipa e passar isso tudo ao público, partilhar energias com o público, porque é disso que se trata um concerto.

E para recarregar as suas energias, o que é que faz?
Eu adoro cinema, adoro ver séries, adoro estar com a minha família, com os meus amigos. O recarregar energias está nesses pilares, que é estar com as minhas pessoas, o meu núcleo, poder partilhar tempo com eles, partilharmos experiências, termos esses momentos só nossos. Acho que é isso que me dá forças.