AVC: “Deixei de coser, de abotoar as blusas. É um bocado complicado”

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Há dez anos que Maria Lúcia Silva, hoje com 73 anos, vive de mão e de braço dados com o marido, Jacinto Silva. É ele que, aos 80 anos, a encaminha nos passeios diários e nos cruzeiros que já conseguiram fazer depois de um episódio de AVC que a deixou internada durante 22 dias e em fisioterapia de forma recorrente. “Na altura, o médico disse-me: ‘Agora vai ter de lhe dar a mão’. E eu dei-lhe o braço”, conta agora ao Delas.pt este homem reformado, num tom bem disposto e repetindo que está casado com Maria Lúcia há mais de meio século.

Com algumas frases truncadas, a mulher demonstra esta mesma alegria: “Tenho um marido fantástico”. Mesmo quando convite, há tantos anos, com uma dormência permanente do lado esquerdo e a deixar cair as coisas”, revela.

Ao mesmo tempo que conta que consegue “ajudar a fazer a cama, a arrumar a roupa nos armários e também a ajudar o almoço”, Maria Lúcia lamenta também “ter de andar de babete”. “Sabe, sujo-me muito!”. Mas o que a deixa a suspirar na hora de se recordar do que teve de deixar de fazer – que foi praticamente tudo – suspira: “Deixei de coser, de abotoar as blusas. É um bocado complicado.” Um relato que chega no dia em que se assinala o Combate contra a doença, que se evoca esta segunda-feira, 29 de outubro.

Enquanto Maria Lúcia foi lidando a viver a sua nova condição – antes era empresária e tinha lojas de mobiliário -, o marido foi aprendendo as novas tarefas que lhe cabiam. “Temos uma empregada duas vezes por semana, mas também sei cozinhar. Sei fazer uns ovos estrelados ótimos, faço pescada… moldamos-nos à situação diária e, mesmo quando não se sabe, aprende-se”, conta Jacinto.

“Ele está sempre presente, mesmo quando tomo duche e tento fazê-lo sozinha, ele está lá porque tem medo que eu caia”, revela a mulher que ainda hoje faz fisioterapia de recuperação, embora a espaços: sem sessões de 15 aulas cerca de três vezes por ano.

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