‘Avenida Q’: o musical que leva os portugueses a cometer loucuras

Foi a 9 de fevereiro que Lisboa ganhou uma nova avenida. Tinha chegado ao Teatro da Trindade o musical Avenida Q, inspirado no espetáculo com o mesmo nome, escrito por Robert Lopez e Jeff Marx, em 2003, e que tanto sucesso fez na Broadway, conquistando vários Tony, os prémios que distinguem os melhores do teatro norte-americano.

A Portugal, o musical chegou pelas mãos de Henrique Dias e do encenador Rui Melo. No elenco, conta com Ana Cloe, Samuel Alves e caras conhecidas como Inês Aires Pereira, Rodrigo Saraiva, Manuel Moreira, Gabriela Barros, Diogo Valsassina e Rui Maria Pêgo. E transformou-se num verdadeiro fenómeno do teatro no nosso país logo no primeiro dia.

As figuras públicas que foram à estreia não pouparam nos elogios através de posts nas redes sociais, mas foi com as loucuras do público anónimo nas semanas seguintes que o sucesso se confirmou. Alguns foram ver o Avenida Q seis vezes, outros fizeram viagens com mais 300 quilómetros, vindo do Porto e do Algarve de propósito para ver a peça de teatro, e houve até um casal de emigrantes português que cometeu uma loucura ainda maior: veio da Alemanha até Lisboa, em menos de 24 horas, só para ver esta versão portuguesa do espetáculo da Broadway (percorra a galeria de imagens acima para ver algumas das loucuras e fotos do elenco).

Com sessões de quarta-feira a domingo, entre 9 de fevereiro e hoje, 2 de abril, o Teatro da Trindade esteve quase sempre a abarrotar e os bilhetes esgotaram com vários dias de antecedência.

Fãs desesperam por segunda temporada

Tanto no Facebook como no Instagram, os responsáveis pelo Avenida Q fizeram questão de se manterem sempre perto do público, esclarecendo dúvidas e partilhando todas as loucuras. Este domingo o musical despede-se do Teatro da Trindade com a sala esgotada – mais uma vez –, mas promete regressar em setembro, no Casino de Lisboa, e ir até ao Porto em janeiro de 2018. Ainda faltam alguns meses, mas já há portugueses a “ressacar” com o regresso e fazem questão de o demonstrar no Facebook.

“Aguardo ansiosamente pela segunda temporada”, “em setembro podemos voltar a ver o Avenida Q” e “temos que esperar tanto” são algumas das mensagens deixadas na página de Facebook do espetáculo.

Eles vivem na Avenida Q

Na versão portuguesa do musical é-nos apresentada a história de Luís (Samuel Alves), um recém-licenciado cheio de esperança que vai ficando desmotivado à medida que se depara com as dificuldades em encontrar emprego. À procura de uma casa barata para viver, Luís acaba por mudar-se para a Avenida Q, onde se apaixona por Marta Monstra (Ana Cloe), que anda à procura do verdadeiro amor.

Inês Aires Pereira, com o seu sotaque do norte, dá vida a Paula, a porca cantora e sedutora, e vai-se desdobrando ao longo do espetáculo para ajudar Rodrigo Saraiva a manusear a sua marioneta, o tarado Trekkie, cujo passatempo preferido é filmes pornográficos.

A homossexualidade também é abordada através da personagem Félix (Manuel Moreira), um gay no armário que está apaixonado pelo seu melhor amigo e colega de casa, mas teima em esconder os seus sentimentos.

Rui Maria Pêgo interpreta o pequeno Saul, o cantor de música popular portuguesa que angariou uma pequena fortuna a cantar durante a infância e, aos 18 anos, descobriu que os pais só lhe tinham deixado 14 euros na conta bancária. Em Avenida Q, o pequeno Saul é o senhorio das casas da avenida. “O das rimas geniais, já fui rico mas fui roubado pelos meus pais”, diz o filho de Júlia Pinheiro durante o musical.

Gabriela Barros faz par com Diogo Valsassina, um jovem que fica desempregado depois de a empresa de tuk tuk para a qual trabalhava não lhe ter renovado contrato, e aborda a descriminação dando vida a uma psicóloga muçulmana que não tem clientes porque todos estão “com medo que os rebente”.

O que tem o Avenida Q de tão especial?

Se não chegou a ir ver o Avenida Q ao Teatro da Trindade, seja porque não teve tempo ou é daqueles que dizem que não gostam de ver peças de teatro e musicais, é normal que não perceba o fenómeno. Mas nós vamos tentar explicar-lhe.

Nesta adaptação do espetáculo da Broadway as personagens humanas convivem com as marionetas, tal como acontecia na Rua Sésamo e nos Marretas. A diferença é que esta versão é para adultos. E esse é um dos ingredientes de sucesso.

O texto está muito bom. Parece de um qualquer programa infantil que aborda temas adultos, levando-nos a refletir sobre as desilusões que afetam todos. O desemprego, as relações amorosas, os problemas com os colegas de casa e até os preconceitos são abordados através de uma linguagem simples que atrai as pessoas porque, além de se identificarem, não têm de se esforçar muito para a compreenderem.

No entanto, não é só o texto que vai fazer com que saia satisfeita do teatro depois de ver o Avenida Q. O talento inegável e a entrega, que se estende desde a banda que toca ao vivo ao longo do espetáculo aos atores, vão fazer com que até os mais carrancudos e mal-humorados riam até que lhes doa a barriga e o maxilar.