Bárbara Barbosa Neves: “Tenho o sonho romântico de regressar para construir uma espécie de retiro”

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Bárbara Barbosa Neves (Fotografia: DR)

Bárbara Barbosa Neves tem 36 anos é socióloga, investigadora e professora na School of Social and Political Sciences, da Universidade de Melbourne, Austrália. Natural de Leça da Palmeira, vive e trabalha naquele país, do outro lado do globo, desde novembro de 2015. Antes disso passou pelo Canadá e pela Noruega.

As condições para progredir na carreira académica e na investigação sociológica têm-na levado a diferentes paragens e conquistas profissionais e adiando um possível regresso a Portugal.

A vontade de voltar permanece, assim como o de “querer fazer parte da mudança, da solução”, conta a socióloga ao Delas.pt, a propósito do dia do Emigrante, e que se assinala este domingo, 13 de agosto. Mas as oportunidades ainda não são as mesmas que a investigadora de Ciências Sociais encontra lá fora.

Para já fica o desejo de, se não antes, pelo menos na reforma regressar e construir o retiro dos seus sonhos – o projeto de vida pessoal comum a quase todos os emigrantes portugueses, para lá das diferenças geracionais, da formação escolar e das motivações para sair.

O que a levou a sair do país?

Após concluir o meu doutoramento, regressei a Portugal para lecionar e investigar a nível universitário. Contudo, depois de dois anos, decidi voltar a emigrar. A excessiva carga letiva e a falta de recursos para garantir um ensino superior e investigação de qualidade foram as principais razões. Estive em Portugal durante a crise financeira e o período de austeridade…o desinvestimento na educação e na ciência foi atroz, acompanhando o desinvestimento noutras áreas sociais fundamentais. Assim, com alguma tristeza, sobretudo por deixar família e colegas que me receberam tão bem, aceitei uma posição de diretora e investigadora de um laboratório na Universidade de Toronto (Canadá). Entretanto, surgiram novas oportunidades e estou atualmente como professora universitária na Universidade de Melbourne (Austrália).

Como foi a adaptação ao exterior?

No meu caso foi relativamente fácil, porque tinha estudado fora e tinha estado como académica visitante durante dois anos na Universidade de Oslo, Noruega. Portanto, já estava um pouco habituada às mudanças e aos processos de adaptação a novos estilos de vida, sistemas, normas, culturas. Claro que é sempre uma aventura com altos e baixos, cheia de momentos imprevisíveis, de choro e de riso.

Como olha para Portugal?

Com um misto de saudade, alegria, pesar…É o querer constantemente voltar, querer fazer parte da mudança, da solução, mas depois sempre concluir que profissionalmente – pelo menos para já – é difícil ter as mesmas oportunidades em Portugal. É pensar que não iria conseguir avançar a minha investigação sobre pessoas idosas e tecnologia da mesma forma como me é facilitado aqui; que não conseguiria ter a mesma disponibilidade e recursos para acompanhar as minhas alunas e alunos no seu desenvolvimento científico, profissional e cívico.

Pensa voltar?

Penso, pelo menos espero voltar quando me reformar. Tenho o sonho romântico de regressar para construir uma quinta, uma espécie de retiro, com família, amigos e amigas e muitos companheiros não humanos. Costumo dizer, que seria uma mistura da casa no campo da Elis Regina e da casa no campo da nossa Capicua, que aliás é da minha terra de origem, a maravilhosa Leça da Palmeira. O meu marido é Australiano, mas apaixonado por Portugal, logo é um sonho conjunto.

Imagem de destaque: DR