Barbara Schett: “Mulheres no ténis têm de ter mais oportunidades para ganharem dinheiro”

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Ex-tenista e apresentadora da Eurosport, Barbara Schett [Fotografia: DR]

Barbara Schett, 44 anos, tem sido um dos rostos da Eurosport no comentário ao torneio Roland-Garros, o último Grand Slam da temporada e que termina este fim de semana e cuja final feminina está marcada para este sábado, 10 de outubro.

A ex-tenista profissional austríaca nunca saiu, afinal, dos courts, e tem-se apresentado na pele de apresentadora e analista do formato The Cube, um programa alicerçado na tecnologia de realidade aumentada e através do qual foi possível fazer a cobertura das provas de ténis do US Open numa altura em que as viagens foram interrompidas devido à pandemia provocada por Covid-19.

Com quase a cair o pano sobre Roland-Garros, Barbara Schett fala ao Delas.pt no dia em que se disputa a final feminina, este sábado, 10 de outubro. E as fichas desta analista e apresentadora são depositadas em Iga Swiatek, que, aos 19 anos, se torna na primeira mulher polaca a chegar às finais do Open francês. “Para mim, ela é muito divertida de ver, ela é confiante no jogo, é também muito engraçada de ouvir nas entrevistas que dá fora dos courts. Tem apenas 19 anos, é tudo novo para ela e está super-entusiasmada. Gosto muito da forma como ela joga e tem uma história fantástica. Ela está numa boa fase da vida, equilibrada e tenho gostado imenso de a ver”, analisa.

Iga Swiatek irá disputar a final com a norte-americana Sofia Kenin, de 21 anos. Juntas, vão bater-se pela final mais jovem de Roland-Garros dos últimos 17 anos.

Covid-19 e os novos desafios para os tenistas

Esta edição do Open francês abriu espaço, ao contrário de outros torneios realizados em 2020, ao público. Uma plateia reduzida a 70% devido ao Covid-19 mas cuja decisão Schett crê que faz a diferença. “Tudo isto junta mais atmosfera, tem sido desafiante. Nesta altura do ano, com o frio e chuva, era mesmo importante que tivesse esta presença”, refere a apresentadora do The Cube.

Barbara espera, contudo, que não existam surpresas no que diz respeito a eventuais casos de infetados devido à pandemia e anseia para que tudo mude rapidamente.”Falei com jogadores do torneio de Hamburgo (que decorreu em setembro) e têm-me dito que se têm sentido mais aborrecidos, vão apenas do hotel para o court“, revela. Ao detalhe, a ex-tenista relata que “os jogadores gostam de ir jantar fora, ir ao cinema e tudo é agora mais difícil”. A estas restrições juntam-se as “inúmeras testagens, tempos de espera longos, o que acarreta mais pressão aos jogadores”.

A adaptabilidade dos atletas é, claro, a solução. “Eles têm de se adaptar. O desporto obriga sempre a conciliação com novas condições, novos atletas, novos pisos”.

Ténis: das lutas femininas ao Black Live Matters

A dar nas vistas no ténis, a nipónica Naomi Osaka venceu o US Open (desistiu de Roland-Garros devido a lesões musculares) dentro e fora dos courts. Neste último caso, apresentou-se em campo e, a cada prova, usou máscaras de proteção individual com nomes de uma vítimas por crime racial nos Estados Unidos da América.

No rosto e antes de iniciar as partidas, a tenista usou máscaras negras com os nomes escritos a branco de Breonna Taylor, Elijah McClain, Ahmaud Arber, Trayvon Martin, George Floyd, Philando Castile e Tamir Rice, vítimas de violência policial, casos que emergiram ao abrigo da causa #Blacklivematters.

E se a atitude da atleta de 22 anos mereceu amplos aplausos, houve quem criticasse os atletas que estavam a usar o seu trabalho em campo para criar consciência para esta realidade. Schett não tem dúvidas: “Estou completamente de acordo. Ela tem muita influência, sendo asiática lutou contra a discriminação durante toda a sua vida, por isso, porque não? Quando se tem tantos olhos em nós, a televisão, seguidores, e se se é interventivo, ter uma voz é importante”.

Barbara Schett, no seu percurso como tenista, nunca o fez. “Quando jogava, nunca me envolvi em temas de política ou questões religiosas, estava fora, mas claro que nos afeta pessoalmente”, afirma. Reconhece, porém, que “são necessárias referências, posições públicas”. Tudo depende – prossegue – “do quão longe os atletas querem ir, até onde querem estar envolvidos”.

Sobre as lutas de igualdade das mulheres no ténis, Barbara crê que o mais urgente é a igualdade no prémio final. “Lemos sempre que os prémios no Grand Slam são iguais, mas não é caso. As mulheres têm de ter mais oportunidades para ganharem dinheiro, o alargamento da WTA tour seria ótimo”, pede. “Haveria mais tenistas que poderiam viver deste desporto, que não é o caso. Deveria haver mais e outros eventos combinados e conjuntos entre géneros. Era por aqui que eu iria”, diz.

Serena Williams pugnou pela equidade no ténis após a maternidade. Aliás, em 2018, o caso chegou mesmo a polémica porque Roland-Garros recusou o estatuto de cabeça-de-série a Serena Williams, na ocasião com 36 anos. Recorde-se que, por ter sido mãe (o que a obrigou a tenista a fazer uma pausa na carreira), ficou colocada no 453.ª lugar do ranking mundial. Tenistas reclamaram, por isso, proteção na maternidade.

Schett prioriza a questão da igualdade dos prémios face a restantes protestos femininos no mundo do ténis. Contudo, sobre Serena Williams, a apresentadora da Eurosport, lembra que “tanto ela como a irmã, Venus, fizeram imenso pelas mulheres no mundo do ténis”. “A Serena é inspiradora, veio do nada, é mãe, é uma atleta extraordinária, é campeã”, enumera.

Como analista, Barbara Schett diz não poder “mudar muito” nas conquistas femininas que ainda estão por fazer no ténis. O caminho, defende, terá de ser feito de outra forma. “Para isso, terei de me envolver nos quadros para poder ter impacto ou discutir estes aspetos”.

Por agora, afirma: “O Ténis deu-me tanto, a minha segunda carreira [na televisão] é sobre este desporto, e estou a olhar por mim, estou feliz.” “Vejo tanta gente envolvida e que está a lutar por estas questões no Ténis que, neste momento, talvez não queriam ouvir isto, mas deixo nas mãos delas”, refere.

O The Cube e os próximos projetos

Dos courts, para estúdio e para o virtual. O caminho de Barbara na televisão fez-se desta forma, na Eurosport. “Fiquei muito entusiasmada por trabalhar no The Cube pela primeira vez, nunca o tinha feito num cenário virtual, mas sim num estúdio. É como se estivesse num teletransporte”, afirma.

The Cube barbara Schett
[Fotografia: DR]
“Sinto-me orgulhosa por fazer parte de algo tão futurista. Adoro desafios e podemos mostrar diferentes shots e técnicas. Creio que é uma possibilidade muito avançada e tem sido um privilégio fazê-lo, fazer esta combinação tem sido fantástico”, refere.

Quanto ao futuro próximo, Schett segue para o ATP de Viena, que arranca a 24 de outubro, e para uma estreia. “Estarei como analista e especialista para uma TV austríaca. Estou a querer trabalhar no meu país, nunca o fiz”, refere. Dali seguirá para a Austrália e depois para tempo em família. “Estou ansiosa, não nos vemos há três meses e meio”, desabafa.

As regras e o isolamento devido ao Covid-19 impuseram esta distância. “É impossível levar a minha família comigo. Entrar e sair para Austrália requer autorizações, e apenas para trabalhar. São tempos um pouco desafiantes, mas tenho tido um marido [o ex-tenista australiano Joshua Eagle] que me dá muito apoio e que tem sido incrível”, explica e sublinha: “Foi um ano fora das nossas vidas, um pouco diferente, fico contente por ter resultado, fazendo o que faço, e a distância nunca foi um problema, sempre fizemos tudo funcionar. Quando voltar ao normal, tudo vai acalmar.”