Beijar os filhos na boca: devemos ou não imitar os Beckham?

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David e Victoria Beckham dão beijo na boca à filha, Harper. O gesto de afeto gera tantos aplausos como críticas [Fotografia: Instagram/Montagem]

Da imagem de ternura surgiu a polémica. O ex-futebolista David Beckham publicou uma fotografia a dar um beijo nos lábios da sua filha Harper, de sete anos, e não tardaram as críticas. Juntos, pai e filha estavam a meio de um passeio no gelo, um programa – como o próprio ex-atleta de 43 anos descreveu – de antecipação do Natal.

Esta já não é a primeira vez que os Beckham se veem envolvidos numa celeuma desta natureza. Já antes, em julho de 2016, Victoria tomou semelhante iniciativa, recolhendo milhares de aprovações e inúmeras críticas pelo facto de estar a dar um selinho à sua filha Harper, numa piscina.

Por cá, em 2016, a atriz Cláudia Vieira postou uma imagem sua a fazer o mesmo com a sua filha, Maria – então com seis anos -, e legendou-a como sendo “o melhor beijo do mundo”

Cláudia Vieira beijo filha instagram
Cláudia Vieira a dar um beijo à sua filha Maria, em abril de 2016. Um momento que foi publicado no Instagram da atriz, em abril de 2016 [Fotografia: DR]
Quando cada vez mais, nas redes e fora delas, vemos pais a beijarem os filhos com uma demonstração de afeto desta natureza, é tempo de tirar teimas e de esclarecer se esta atitude está correta ou nem por isso.

“O beijinho, que é habitualmente dado na cara, é dado nos lábios e trata-se de um carinho. Há famílias que se sentem confortáveis com isso, sem que exista qualquer conotação negativa ou sexual e sem que isso, muito menos, afete a criança”, diz Inês Afonso Marques. Para a psicóloga-clínica e coordenadora da área infanto-juvenil da Mindkiddo, da Oficina da Psicologia, este é um tema que “está ligado aos valores de cada família e pode ser falado com abertura” entre miúdos e graúdos.

“É um gesto de afeto, mas é importante explicar que se trata de uma atitude que não pode ser dirigido a outras pessoas. Ou seja, pode ser bem-vindo em família, mas não é aceitável que seja alargado a toda a família ou aos amigos”, refere Inês, sublinhando, novamente, que esta atitude pode ser pretexto para esclarecimentos: “Quando se fala sobre isto em família, então estamos perante uma ótima altura para falar sobre o respeito para com o nosso corpo e sobre os limites de contacto corporal”.

“Pode ser bem-vindo em família, mas não é aceitável que seja alargado a toda a família ou aos amigos”, ressalva Inês Afonso Marques

Pese embora as limitações de caráter médico – Inês Afonso Marques lembra que há especialistas que discordam por ser uma eventual via de transmissão de algumas doenças para crianças que estão, por via do seu desenvolvimento, mais vulneráveis – e as cautelas necessárias, o importante é não transformar este tipo de atitudes em alegadas monstruosidades, quando nada disso lá está. “Descomplicar”, exorta a especialista, lembrando que “essa é a melhor forma de abordar estes temas”, até porque “não há e não tem de haver confusão na cabeça das crianças”.

E no futuro, haverá confusão para as crianças?

“Não tem de haver confusões, que baralhação é que podia acontecer?”, inquire Inês Afonso Marques. A especialista conta que, no exercício da sua atividade, tem verificado que se trata de “uma prática comum dentro das famílias, sem que esse gesto se revista de um significado ligado ao amor romântico”.

Inês Afonso Marques
Inês Afonso Marques [Fotografia: Oficina da Psicologia]

A psicóloga clínica distingue, claro, estes casos de outros eventualmente mais problemáticos (mas já lá vamos), mas olha para este ato de ternura de “uma forma muito descomplicada”, que tem de ser obrigatoriamente “bem gerido pelos adultos e sem impacto negativo”.

E aponta um dado interessante: “Em determinados períodos da infância pode ser uma prática habitual e são, no início, as crianças quem mais procuram este gesto de afeto”, começa por explicar, admitindo que este tipo de beijo pode até surgir por “modelagem”, por verem os pais a fazerem este tipo de cumprimento.

este é um Ato de ternura que tem de ser obrigatoriamente “bem gerido pelos adultos e sem impacto negativo”

No entanto, Inês Afonso Marques também nota que são as próprias crianças que, muitas vezes, põem fim a esta forma de afeto. “À medida que vão crescendo, seja por vergonha ou por verem que noutras famílias não é assim, elas deixam cair esta prática”, refere a especialista.

E quando chega este momento, então, não há margem para dúvidas: é mesmo preciso respeitar. “Quando a criança manifesta algum desconforto e rejeita, é importante respeitar. Se ela se sente envergonhada, se diz que não gosta, se diz mesmo que são beijos de namorados, é importante não insistir”, reitera a responsável da Oficina da Psicologia.

Do ‘selinho’ aos sinais de alerta

Entre uma realidade de afeto familiar e outra – a da tragédia – há um mundo de distância. Ainda assim, e porque os temas nunca são estanques, é importante relembrar os alertas que permitem perceber se uma criança está no limite de algo que não deve viver.

E os sintomas são tão claros que não há margem para confusão. “Os sinais de alerta, do ponto de vista emocional, de que alguma coisa não está a correr bem passam por mudanças comportamentais da criança – e generalizando – que, sendo alegre, começam a ter alterações de humor significativas, a estarem mais isoladas, a brincarem sozinhas”, refere Inês Afonso Marques.

A especialista junta ainda outras pistas como “alterações no sono, o surgimento de pesadelos, mudança de apetite e respostas mais agressivas da criança”, “marcas e sinais de alerta a que os adultos devem estar atentos e que permitem perceber se algo está fora do expectável”, refere.

Imagem de destaque: Instagram/Montagem

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