Beyoncé lança álbum surpresa

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No sábado 23, à noite, Beyoncé Knowles lançou o seu sexto álbum a solo, Lemonade. Eram nove da noite na costa leste dos Estados Unidos quando o canal por cabo HBO começou a emitir as canções inéditas do novo disco. Cada canção foi apresentada com o vídeo diferente, tendo como realizadores alguns pesos pesados como Mark Romanek – este realizador já fez vídeos para os Red Hot Chilli Peppers, Madonna e mais recentemente dirigiu o ‘Shake it up’ de Taylor Swift. Entre cada música, um poema dito pelo escritor Warsan Shire.

Sem anúncios prévios, sem suspeitas, o que quis Beyoncé provar com o lançamento deste disco (e já discutimos o conceito de disco a seguir)? Provavelmente mostrar que é a cantora pop mais influente dos EUA. Provavelmente mostrar que a música que faz vale por ela própria. Provavelmente posicionar-se num patamar mais próximo da arte e menos da música pop – mesmo se as melodias não se afastam da matriz de Beyoncé, apesar de ir ao rock e ao country com as colaborações escolhidas, a forma como a apresenta tem pressupostos artísticos evidentes.

As músicas novas de Beyoncé falam de traição, de família, de mulheres fortes e emancipadas, da condição das mães negras nos EUA. A cantora está apostada em transmitir cada vez mais as suas convicções políticas e a sua veia feminista é muito evidente. Mas a exposição de uma parcela da sua vida privada, mostrando fotografias da família, deu azo a interpretações menos discretas.

A canção de abertura desta apresentação de ‘Lemonade’ é ‘Pray You Catch Me’ e nela vemos Beyoncé a destruir um carro com um bastão de baseball enquanto canta sobre um homem que traiu a sua confiança. As interpretações sobre o tom autobiográfico e a ligação à conhecida traição do marido de Beyoncé, Jay Z, não se fizeram esperar.

Mas mais importante, e recuperando a temática que chocou meia América na última Super Ball, Beyoncé situa-se e reafirma-se na cultura negra norte-americana, aquela que tem estado à margem da cultura dominante, da mesma forma que a maioria da população de origens remotamente africanas tem estado fora dos círculos de poder. E este situacionismo artístico não se manifesta de forma anti-branca, mas sim anti-forças policiais e outras formas de autoridade – o vídeo ‘Formation’ já tinha mostrado em fevereiro esta conceção.

Mas há também uma narrativa de relação conjugal que os críticos afirmam ser comum (e exclusiva?) às mulheres negras da América: ser negra e ser mulher é motivo de dupla discriminação, inclusive nas relações familiares.

O álbum, o sexto de Beyoncé, pode ser descarregado na sua versão completa no Tidal e não se conhece por enquanto um suporte físico para o disco. Nem é de esperar que o novo trabalho de Beyoncé venha a ter apenas suporte sonoro uma vez que o subtítulo de ‘Lemonade’ é, precisamente, ‘The Visual Album’ – uma afirmação artística que reitera as que as canções valem por elas próprias mas que a narrativa visual de cada uma faz parte integrante da criação.

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