#BlackLivesMatter. Tudo sobre a origem do movimento e a mulher que o criou

Alicia Graza
Alicia Graza [Fotografia: Instagram]

A morte de George Floyd, a 25 de maio, nos Estados Unidos da América, fez multiplicar uma palavra de ordem que se espalhou pelo mundo – #BlackLivesMatter – com origem num processo judicial de 2013, em que um polícia foi absolvido pelo assassínio de um outro afro-americano.

A expressão que explodiu de novo logo após a morte de Floyd, #BlackLivesMatter (As Vidas Negras Importam) – depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, surgiu pela primeira vez em 2013.

Rapidamente, tornou-se num movimento que passou fronteiras e se afirmou como declaração de princípios éticos contra o racismo e a xenofobia, tornando-se arma política que alguns críticos dizerem estar a ser manipulada por interesses nem sempre declarados.

Naquele ano, George Zimmerman, um vigilante de bairro voluntário na cidade de Sanford, na Florida, foi absolvido da morte a tiro de um jovem afro-americano de 17 anos, Trayvon Martin, no ano anterior, quando este saía de uma loja de conveniência. Alicia Garza, hoje com 39 anos, que se viria a tornar uma influente ativista de direitos humanos, na Califórnia, interessou-se pelo caso de Martin e ficou muito abalada quando soube que o homem responsável pela sua morte tinha sido absolvido de qualquer responsabilidade.

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Beautiful piece by @thewilliemaze @amendtdk and @agentdecoy with support from @somarbar. #GeorgeFloydLivesInUs #blacklivesmatter

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No momento em que soube da decisão judicial, pegou no telemóvel e escreveu palavras sentidas, que foram replicadas nas redes sociais, sob um ‘hashtag’ que ficaria conhecido mundialmente: #BlackLiveMatters.

A expressão tornou-se movimento organizado, contra o racismo e a violência policial sobre as minorias negras, no ano seguinte, 2014, como reação a duas outras mortes de afro-americanos às mãos de autoridades policiais. Em 17 de julho, Eric Garner, morreu após cerca de 20 segundos de estrangulamento, quando estava a ser detido pela polícia de Staten Island, Estado de Nova Iorque.

Alguns dias depois, a 9 de agosto, em Ferguson, Missouri, Michael Brown, um jovem negro de 18 anos, morreu, alvejado pelo oficial de polícia Darren Wilson.
Brown não estava armado, não tinha antecedentes criminais e a sua morte provocou uma forte onda de protestos, quando as pessoas ainda se recordavam do caso de Garner e decidiram manifestar o seu repúdio pela atitude da polícia, perante a minoria negra.

Os distúrbios começaram nessa mesma noite de 9 de agosto de 2014 e a expressão #BlackLiveMatters ganhou uma dimensão global e foi repetida em dezenas de cidades, por milhares de pessoas, ultrapassando fronteiras à velocidade das redes digitais.

Em janeiro de 2015, a Sociedade Americana de Dialeto declarou #BlackLivesMatter a “palavra” do ano, mas por essa altura ela já era um símbolo e o nome de um movimento cívico e político, com departamentos espalhados por todo o país.

Alicia Garza, a autora da expressão, que se tornou cofundadora desse movimento, ainda hoje confessa o espanto pela dimensão que ganharam as suas palavras, perante o desespero da absolvição de Zimmerman.

Mas os resultados dos ativistas começaram a perceber-se, logo em 2015, quando o então Presidente Barack Obama recebeu um relatório de uma ‘task force’ nomeada por si para estudar o comportamento das autoridades policiais, com recomendações para evitar descriminações racistas. Mas os ativistas ligados ao #BlackLivesMatter mostram-se ainda hoje descontentes e invocam relatórios do Centro de Investigação para Assuntos Públicos que dizem que três em cada cinco afro-americanos dizem que eles ou seus familiares foram alvo de tratamento discriminatório por parte da polícia.

Nas recentes eleições primárias do Partido Democrata, que elegeram Joe Biden como candidato presidencial, o movimento esteve particularmente ativo, tendo sido muito crítico da candidatura do senador Bernie Sanders, que acusaram de estar excessivamente ligado a lóbis brancos.

O Presidente Donald Trump tem acusado os manifestantes contra a morte de George Floyd, incluindo os ativistas do #BlackLiveMatters, de estarem ao serviço de organizações de extrema-esquerda. Em algumas recentes manifestações, contudo, têm surgido imagens de pessoas brancas a pintar o símbolo #BlackLivesMatter que são acusadas de estar ao serviço de outros movimentos para incriminar o movimento contra a discriminação de afro-americanos.

O procurador-geral dos EUA, William Barr, acusou o grupo Antifa (um movimento antifascista) de estar por detrás de ações radicais e violentas que têm provocado distúrbios em muitas cidades, aconselhando os ativistas do #BlackLivesMatter a não se deixarem confundir por esse grupo.

Aproveitando a notoriedade do movimento, a organização vai lançar uma série documental, na Internet, chamado “What Matters” (“o que interessa”) que procura fazer uma reflexão sobre “a liberdade, a justiça e a libertação coletiva”.

As celebridades não se calaram e têm apelado ao protesto antirracista, multiplicaram-se as manifestações de protesto em cidades dentro e fora do território norte-americano pela morte de George Floyd e emerge a palavra de ordem multiplicada por milhares de cartazes, de vozes e de ‘hashtag’ nas redes sociais: #BlackLivesMatter.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

Com Lusa