Bloom: A rampa de lançamentos dos talentos da moda nacional

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A 40ª edição do Portugal Fashion em terras lusitanas iniciou-se esta quarta-feira em Lisboa, seguindo hoje, dia 23 de março, para o Porto. Os primeiros desfiles desta edição na Invicta têm como palco o Palácio dos CTT. As honras de abertura dos desfiles no Porto ficam a cargo do projeto Bloom, que mais uma vez revela, os novos talentos da moda nacional. Esta plataforma integrada no Portugal Fashion foi criada em 2010 e tem como objetivo mostrar o trabalho dos melhores jovens a criar moda portuguesa. Quisemos saber mais sobre este pequeno laboratório de futuros grandes designers e fomos falar com o novo coordenador do projeto, Paulo Cravo.

Qual é a importância do Bloom na carreira dos jovens designers portugueses?

O projeto serve de rampa de lançamento para jovens designers e as suas marcas, já que representa uma oportunidade de apresentação de coleções num evento com grande notoriedade pública e exposição mediática, como é o Portugal Fashion. No Bloom, os jovens designers desenvolvem a sua individualidade e consolidam os seus métodos de trabalho, as suas linguagens estéticas e as suas formas de apresentação em passerelle. Uma vez concluído este processo, é expectável que a indústria e os agentes de compras se interessem pelo trabalho destes novos criadores, que em alguns casos apresentam já uma qualidade assinalável. O projeto Bloom, criado pelo Portugal Fashion em outubro de 2010 (27.ª edição do evento), já possibilitou a apresentação de coleções a 39 jovens designers e a seis marcas de novos criadores. E alguns dos jovens criadores do Bloom têm participado em desfiles e showrooms internacionais com o apoio do Portugal Fashion ou do seu projeto comercial complementar, o Next Step, marcando assim presença em importantes certames de moda de Londres, Paris, Milão, Viena, Copenhaga ou Madrid, por exemplo.

Como é feita a seleção de designers para participar no Bloom?

Os designers do Bloom são na sua maioria os mesmos das últimas edições do projeto, pois é nossa intenção amadurecer e consolidar o trabalho deste grupo de novos criadores. É nossa intenção criar novas regras de seleção para as próximas edições do Bloom, de forma a sermos ainda mais criteriosos na avaliação da qualidade e potencial dos jovens criadores.

Como é garantida a qualidade das peças apresentadas?

Para assegurar a qualidade das peças, é feito um acompanhamento regular do trabalho dos designers, desde a ideia inicial ao conceito estético da coleção, passando pelas referências e inspirações, a escolha das matérias-primas, a seleção da paleta de cores, o desenvolvimento das silhuetas, a criação dos detalhes. Procuramos que as coleções tenham efetivamente qualidade e pertinência estética, sem deixar de privilegiar a identidade criativa dos designers. É muito importante dar aos jovens designers a possibilidade de mostrarem publicamente aquilo que de facto os distingue, que os individualiza enquanto criadores e diferencia os seus trabalhos.

Qual é o tempo de permanência dos designer no Bloom e qual é o passo seguinte?

A permanência no Bloom ronda os dois anos, permitindo-se assim a apresentação de quatro coleções. Depois desse período, o trabalho dos jovens designers é reavaliado e é analisada a evolução das coleções. Em função dos resultados obtidos, é decidido o futuro dos criadores no quadro do projeto Bloom.

Há mercado em Portugal para a quantidade de jovens designers de moda que participa no projeto?

O mercado da moda em Portugal está ainda em crescimento. Mas, se continuar a evoluir no sentido de um maior interesse dos consumidores, os jovens designers podem conquistar e fidelizar clientes. Contudo, estamos num mundo global e a tecnologia permite-nos divulgar, promover e vender produtos de vestuário para todo o planeta. Por isso, nós procuramos incutir nos designers a ideia de que devem vender para o mercado internacional, sem receios paroquiais ou desconfianças em relação ao made in Portugal.

Desfile Modatex no Bloom, outubro, 2016. (crédito: Portugal Fashion/ Ugo Camera)
Desfile Modatex no Bloom, outubro, 2016 (crédito: Portugal Fashion/ Ugo Camera)

Sente que há mais novos talentos na moda hoje em dia? Porquê?

A moda portuguesa conheceu, nos últimos anos, um extraordinário salto qualitativo. E essa evolução decorreu, em boa medida, do aparecimento de novos criadores. Para a emergência desta nova geração de criadores foi determinante o progresso do ensino da moda em Portugal, que deu aos jovens designers uma formação técnica sólida, abrangente e atual. Por outro lado, o acesso a informação especializada sobre moda e o próprio contacto com realidades internacionais nesta área tornaram-se muito mais simples, com tudo o que isso significa em termos de conhecimento atualizado.

O que é os criadores já estabelecidos tem a aprender com o novos talentos nacionais?

A juventude é mais propensa ao risco, mais aberta à inovação e mais irreverente na sua forma de estar. Creio que os criadores consagrados podem apreender alguma coisa com este desassossego dos jovens designers, que os leva a criar ruturas estéticas e a desenvolver novas linguagens, muitas vezes com recurso às novas tecnologias.

Tendo em conta esta edição do Bloom o que podemos esperar da moda nacional daqui a dez anos?

Considerando a qualidade dos jovens designers e o potencial humano que as escolas de moda encerram, as oportunidades de afirmação nacional e internacional de criadores e marcas tendem a aumentar. Acreditamos num futuro promissor para os jovens designers de moda portugueses e, neste sentido, pensamos que a fileira vai continuar a ganhar criatividade, competitividade e dimensão global. Paralelamente, a indústria têxtil e de vestuário não deixará de aprofundar a sua relação com os designers. Os empresários do setor têm hoje perfeita consciência da importância do design, da propriedade intelectual, da moda e da customização como fatores de valorização do produto e da competitividade das marcas.

A moda nacional evoluiu muito nos últimos anos, quais são as principais diferenças?

A moda nacional está a atravessar um bom momento, quer do ponto de vista estético, quer do ponto de vista comercial. Sublinho que os criadores mais conceituados têm vindo a reforçar a sua notoriedade internacional, graças à participação em grandes eventos mundiais, com o apoio do Portugal Fashion. Também assistimos à evolução estética da moda portuguesa associada a novas tecnologias, a novas mentalidades, a novas perspetivas culturais e a novas mundividências cosmopolitas.

http://www.delas.pt/quer-chegar-a-velha-com-saude-nao-pode-comer-nada-disto/

Qual é a principal preocupação que os jovens designers têm hoje?

A escassez de eventos e plataformas para divulgarem as suas coleções, com as dificuldades de integração profissional no setor industrial, com a ainda reduzida abertura da indústria a apoios e parcerias, com a ausência de instrumentos de financiamento específicos, com a falta de competências de gestão e com a ainda limitada recetividade do mercado português a produtos de moda.

Quais são as características que os jovens criadores têm de ter para vingar no mundo da moda?

Autenticidade, individualidade, contemporaneidade, inovação e raízes culturais.