Brasil: Regina Duarte sai da Secretaria da Cultura

regina Duarte GI_ Jorge Carmona
[Fotografia: Jorge Carmona/Global Imagens]

A atriz Regina Duarte está de saída do cargo de secretária de Estado da Cultura de Jair Bolsonaro. O icónico rosto das novelas brasileiras vai assumir, depois de amplas polémicas, a Cinemateca de São Paulo.

“Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o governo e a cultura brasileira, assumirá, a Cinemateca em SP. Nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias”, justificou o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no vídeo do Twitter publicado esta quarta-feira, 20 de maio, no qual anunciou a remodelação.

Uma saída que acontece cerca de 15 dias de ter negado essa possibilidade. “Demissão, não. As pessoas têm uma certa ansiedade em ver-me fora. Demissão, exoneração é algo que está sempre a acontecer. Em nenhum momento [falou de demissão com Bolsonaro], estava um ambiente súper bom, ele [Jair Bolsonaro] está sempre alegre e rindo”, afirmou Regina, horas depois de se ter reunido com o Presidente.

“Tenho um projeto e quero deixar um legado, sou uma artista, uma pessoa que ama a cultura, ama o setor. Apesar de saber que há uma minoria que gosta não de mim, o setor ama-me”, reforçou.

Recorde-se que, no início deste mês, a atriz tinha minimizado a censura e a tortura durante a ditadura que vigorou no país entre 1964 e 1985, e afirmou que a covid-19 “trouxe uma morbidez insuportável”.”Se ficar a cobrar coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80, nós não vamos para a frente. (…) Sempre houve tortura, não quero arrastar um cemitério. Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Se nós ficarmos a arrastar essas mortes… Não quero arrastar esse cemitério”, disse Regina Duarte, de 73 anos, em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira.

A secretária falava sobre ter aceitado integrar o Governo do Presidente Jair Bolsonaro, que considera “heróis” alguns dos envolvidos em casos de prisão e tortura na ditadura militar, como o coronel Brilhante Ustra.

“A humanidade não para de morrer, se você falar de vida, de um lado tem morte (…) Acho que tem uma morbidez neste momento. A covid-19 está trazendo uma morbidez insuportável, isso é perigoso para a cabeça das pessoas. Isso não está bom”, reforçou a atriz.

A secretária tem sido alvo de várias críticas por não se pronunciado publicamente sobre a morte, nos últimos meses, de vários escritores e artistas brasileiros, como o cantor Moraes Moreira, o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, ou o compositor Aldir Blanc.
Regina Duarte afirmou que não fez manifestações públicas por ter optado por “mandar uma mensagem como secretária para as famílias”, porque, caso contrário, “a secretaria viraria um obituário”. “Mas se isso é importante para as pessoas, eu posso ter no ‘site’ da secretaria o obituário, a biografia. (…) Pode ser que eu esteja a errar, vou me corrigir, não fiz por mal, peço desculpas, lamentei com as famílias”, justificou.

Ao ser confrontada com um vídeo da atriz Maitê Proença, que exigiu à secretária mais medidas de apoio aos artistas durante a epidemia da covid-19 e uma conversa com a classe artística, Regina Duarte interrompeu a entrevista, visivelmente irritada.

Apesar do vídeo ser datado de quinta-feira, a secretária entendeu que as declarações de Proença eram antigas, recusou ouvir e pôs fim à participação na entrevista. “Acho de baixo nível(…) Vocês estão a desenterrar mortos, estão a carregar um cemitério nas costas, fiquem leves(…) Telespetadores, desculpem o chilique”, concluiu Regina Duarte.

A atriz Regina Duarte, conhecida pela participação em novelas famosas produzidas no Brasil, como “Roque Santeiro”, “História de Amor” e “Páginas da Vida”, assumiu no inicio de março o cargo de secretária da Cultura do país sul-americano.

A artista foi convidada para secretária em 17 de janeiro, no mesmo dia em que Roberto Alvim foi demitido da Secretaria da Cultura por ter citado partes de um discurso do antigo ministro da Propaganda nazi Joseph Goebbels, gerando uma onda de protestos.