Bumba na Fofinha: ” O humor é das coisas mais igualitárias que há”

Mariana Cabral, aka Bumba na Fofinha, é aos 30 anos uma das humoristas mais conhecidas em Portugal. Foi no Facebook que começou por postar alguns textos cómicos, até que um dia a vida lhe pregou uma partida, ou neste caso lhe partiu um dedo, e na impossibilidade de escrever Mariana decidiu fazer um vídeo. O sucesso foi tal que nunca mais parou.

Bumba na Fofinha, que como a autora já se fartou de explicar, significa algo como “incha, porco” ou “toma lá que já almoçaste” (qualquer conotação alternativa e mais apimentada é pura imaginação), dedica-se sobretudo à sátira do quotidiano, sobretudo às temáticas que mais inquietam as mulheres e que só elas compreendem. No passado sábado, 23 de junho, a Bumba – como é chamada na rua – subiu ao Digital Stage do Rock in Rio, e depois de pôr mais de 20 pessoas em cima do palco para jogar ao quem é quem humano, o Delas.pt falou com uma das humorista com mais sucesso no YouTube nacional.

(Orlando Almeida / Global Imagens)

Normalmente gravas os teus vídeos em casa sem estar à frente do público. Como é que foi subir ao Digital Stage do Rock in Rio e fazer um espetáculo ao vivo?

Foi uma experiência muito interessante, mas algo assustadora, estou habituada a estar num ambiente protegido. Mas foi incrível ver este mar de gente. A minha avó ia ficar muito orgulhosa apesar de nem perceber muito bem o que é que eu faço. Foi muito giro e divertido e espero que as pessoas tenham gostado.

Quando é que percebeste que tinhas graça?

Eu até hoje ainda não percebi. As pessoas é que percebem por mim, que tenho graça. Mas provavelmente comecei a ter essa noção quando comecei a ter reações da pessoas, quando me começaram a encorajar a fazer mais coisas.

Se criasses hoje o Bumba na Fofinha, o nome era o mesmo?

Eu acho que era, porque acabei por absolver o nome, em vez de ser um nome de filme porno de terceira agora até é um nome com um certo significado. É verdade que me cansa explicar várias vezes o porquê, mas até é um nome engraçado e que já tem uma certa identidade.

As pessoas já te chamam Bumba na rua?

As pessoas só me chamam Bumba na rua, porque não sabem o meu nome.

Fazes muitos vídeos inspirados nas vicissitudes de ser mulher. Como a saga dos saltos altos em casamentos, o filme que é ir a uma casa de banho pública sem nos sentarmos na sanita, as despedidas de solteira, etc. Achas que as mulheres têm mais material com potencial cómico para explorar que os homens?

Não, não acho que haja um desequilíbrio. Há é mais humoristas homens a pegar no material deles e não há tanta gente a satirizar o lado feminino. Não é que exista mais mundo para satirizar do nosso lado, mas há muita coisa muito fértil e não há tanta gente a produzir em cima disso.

A minha mãe é um poço de virtudes e de temas e sente-se visada nos meus vídeos, com alguma razão, porque é uma pessoa com muita coisa para dizer.

Achas que as mulheres fazem humor de maneira diferente dos homens?

Não, acho que é tudo igual, o importante é ter graça. O humor é das coisas mais igualitárias que há, ou tens graça ou não tens. Não existem propriamente fações. Quando tens público, tens graça, sabes estar, é isso que interessa, e é válido tanto para homens como para mulheres.

Alguma vez recebeste um telefonema de um amigo depois de publicares um vídeo a dizer “este foi inspirado em mim”?

Sim, e isso acontece sobretudo com a minha mãe que é uma musa inspiradora. A minha mãe é um poço de virtudes e de temas e sente-se visada nos meus vídeos, com alguma razão, porque é uma pessoa com muita coisa para dizer. Mas com amigos também acontece às vezes, mas tudo muito na boa.

E nunca ninguém ficou chateado?

Nunca, nunca houve assim uma questão complicada para gerir, até ver… porque nunca se sabe.

Além da sátira ao quotidiano feminino, às vezes também juntas alguns elementos da atualidade. Volta e meia aparece uma imagem do Trump nos teus vídeos e outras questões mais atuais. Achas que é importante essa ligação do humor à realidade e que o humor pode ajudar as pessoas a perceber o que se passa à sua volta?

Acho isso super importante. Não é muito a minha onda, eu só faço isso de vez em quando, o meu humor não é, de todo, de atualidade. Mas acho que é uma coisa que devia existir mais, acho importante pôr as pessoas a debater de uma forma inteligente mas que tenha graça. Ainda não temos muito isso cá em Portugal, um trabalho como do John Oliver por exemplo, um trabalho de investigação e de exposição de casos que estão a correr mal. Acho que existe espaço no nosso país para fazer isso.

O humor tem limites?

Não tem limites nenhuns. O limite é o bom senso e a sensibilidade de cada um, que são diferentes de pessoas para pessoa. Da mesma forma que quem cria tem os seus limites, que são o seu próprio bom senso, também quem assiste os tem. Por isso é uma questão match:matchs que funcionam e outros que não, e as pessoas têm a liberdade de ver ou não.

Este Rock in Rio já te deu algumas ideias para os próximos vídeos?

Ainda não porque estava muito concentrada no espetáculo, mas a partir de agora vou estar de olho aberto porque já despachei o meu servicinho e já posso relaxar.

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