‘Burn on’. O outro lado do ‘burn out’ que é perigoso, mas mais silencioso

pexels-nataliya-vaitkevich-6837623
[Fotografia: Pexels/Nataliya Vaitkevich]

Esteja de férias, o que lhe permite o distanciamento e análise, esteja a trabalhar, o que lhe permite fazer uma autoavaliação, é importante fazer o retrato da atitude individual perante o trabalho.

Sabemos que o burn out é uma realidade que atinge mais de metade dos portugueses, com 63% a reportar pelo menos três sintomas e quase 80% a referir pelo menos um, segundo dados conhecidos em fevereiro deste ano e pela mão do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis. Ora, os sinais mais elencados são a tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo.

Porém, as patologias do âmbito de saúde mental não se ficam por aqui. Chegam agora indicativos de burn on (o que se apresenta como o contrário de burn out), ou seja, um estado igualmente depressivo e irritável que está disfarçado pela imagem de que está tudo bem, mas que é aparente. Uma realidade que se apresenta como invisível e indetetável, mas perigosa e, no limite, traiçoeira.

Manifesta-se através do mesmo tipo de efeitos na saúde física e mental do burn out, mas, geralmente, os doentes conseguem esconder esses mesmo sinais dando falsamente a impressão de que estão perfeitamente bem.

“O [burn-on] também pode ser descrito como uma depressão mascarada. Os pacientes estão sempre à beira do colapso, mas continuam e cultivam, sempre com um sorriso, outro tipo de exaustão e depressão”, afirmou o psicoterapeuta e co-autor do livro Burn-on: Always on the Brink of Burnout. Bert te Wildt foi, então, quem cunhou o conceito, a par do psicoterapeuta psicológico Timo Schiele, e ambos consideram que “o burn out é a exaustão depressiva aguda, enquanto o burn on é crónico”.

Neste último caso, está-se diante de um “mecanismo pelo qual um funcionário continua a ‘matar-se a trabalhar’, mesmo que se esteja emocional e fisicamente exausto”, dizem os psicólogos.

Concretamente, e de acordo com os especialistas, o trabalhador em burn on continuará a cumprir todas as missões confiadas, a responder atempadamente aos seus emails, a fazer horas extraordinárias, a ser produtivo, organizado mas, na realidade, está no limite das suas capacidades físicas e mentais. E faz tudo isto por vergonha ou medo de perder o trabalho tendo em conta as dificuldades atuais.