‘Cada Suspiro Teu’: conheça em primeira mão o novo romance de Nicholas Sparks

Nicholas Sparks NUNOPINTOFERNANDES000000115_resultado

‘Cada Suspiro Teu’ é o novo livro do autor norte-americano Nicholas Sparks.

O 21º. romance do escritor, bestseller mundial, é inspirado numa história real e fala-nos de um encontro que fica na memória, e no coração, de duas pessoas de mundos opostos, transcendendo o tempo, os continentes, e o toque do destino.

‘Cada Suspiro Teu’ é lançado mundialmente no próximo dia 16 de outubro e é editado em Portugal pela ASA.

O Delas.pt, em parceria com a ASA, antecipa o lançamento e pré-publica, em exclusivo, um excerto do novo livro de Nicholas Sparks, que pode ler em baixo:

 

 

Sunset Beach

Tru não fazia ideia do que Hope estava a pensar quando ela se aproximou, mas não conseguiu desviar os olhos. Ela usava calças de ganga claras, sandálias e uma blusa amarela sem mangas com um profundo decote em bico à frente. Com pele macia e levemente
bronzeada e cabelo castanho a emoldurar maçãs do rosto altas, aquela mulher atraiu o seu olhar com uma força irresistível. Os olhos dela abriram‑se com uma efusiva emoção – Alívio? Gratidão? Surpresa? – quando, por fim, parou sem fôlego à sua frente. Igualmente sem saber o que dizer, olharam‑se sem falar até Tru pigarrear por fim.

– Suponho que o cão é seu? – perguntou, estendendo‑lhe Scottie.

Hope percebeu que ele tinha sotaque, algo que parecia britânico ou australiano, mas não percebeu muito bem de onde era. No entanto, aquelas palavras bastaram para quebrar o feitiço e estendeu as mãos para pegar em Scottie.

– Porque é que tem o meu cão no colo?

Ele explicou‑lhe o que acontecera enquanto lhe entregava o animal, e observou Scottie a lamber os dedos da dona e a guinchar de entusiasmo.
Quando terminou, detetou pânico na voz dela.

– Está a dizer‑me que ele foi atropelado por um carro?
– A única coisa que sei é o que ouvi. E ele estava apoiado na pata esquerda e a tremer quando o encontrei.
– Mas não viu nenhum carro?
– Não.
– Estranho.
– Talvez fosse apenas de raspão. E, como ele fugiu, as pessoas pensaram que não tinha ficado ferido.

Observou‑a enquanto ela apertava as patas de Scottie com cuidado, uma por uma. O cão não ganiu; em vez disso, começou a contorcer‑se de excitação. Tru percebeu que ela estava preocupada quando, por fim, pousou Scottie no chão e ficou a observá‑lo enquanto ele se afastava.

– Agora não está a coxear – comentou. Pelo canto do olho, reparou que o homem também estava a observar Scottie.
– Não parece.
– Acha que devo levá‑lo ao veterinário?
– Não sei.

Scottie avistou outro bando de gaivotas e desatou a correr, saltando para uma delas, antes de se desviar. Depois, colou o focinho ao chão e começou a dirigir‑se para casa.

– Ele parece bem – murmurou Hope, mais para si do que para ele.
– Não há dúvida que tem imensa energia.
Não faz ideia, pensou ela.
– Obrigada por ter ido ver o que lhe tinha acontecido e por o trazer para a praia.
– Foi um prazer ajudar. Antes de ir, por acaso sabe se há algum sítio aqui perto para tomar um café?
– Não. Nesta direção há apenas casas. Um pouco depois do quebra‑mar, há um lugar chamado Clancy’s. É restaurante e bar, mas acho que só abre à hora do almoço.

Hope percebeu bem a expressão desanimada do homem. As manhãs sem café eram terríveis e, se tivesse poderes mágicos, baniria até esse pensamento. Entretanto, Scottie estava a afastar‑se e Hope apontou para ele.

– É melhor não perder o meu cão de vista.
– Eu ia para esse lado antes de ser desviado – disse ele, virando‑se.
– Importa‑se que caminhe consigo?

No instante em que ele perguntou, Hope sentiu um frisson de… alguma coisa. O olhar, a cadência profunda da voz e os modos descontraídos e graciosos produziram uma vibração como a da corda de um instrumento a ser tocada. Surpreendida, o seu primeiro instinto foi recusar. A velha Hope, a Hope que ela sempre fora, tê‑lo‑ia feito sem pensar. Porém, alguma coisa se apoderou de si, um instinto que não reconheceu.

– Não me importo nada – respondeu.

Mesmo naquele momento, não soube muito bem porque é que concordara. E também não conseguiria compreender a razão anos mais tarde. Seria fácil atribuir a sua reação às preocupações que a atormentavam naquela altura, mas sabia que não era inteiramente
verdade. Em vez disso, acreditaria que, apesar de só se terem conhecido naquele momento, ele apelara a uma coisa que ela desconhecia em si, uma necessidade primitiva e estranha.

O homem acenou com a cabeça. Começaram a caminhar lado a lado e Hope não conseguiu perceber se ele tinha ficado surpreendido com a sua resposta. Não estava desconfortavelmente próximo, mas estava bastante perto para Hope reparar na forma como as pontas do grosso cabelo preto dele esvoaçavam ao vento. Scottie
continuava a explorar à frente deles e Hope sentiu minúsculas conchas a esmagarem‑se debaixo dos seus pés. No alpendre das traseiras de uma casa, uma bandeira azul‑clara esvoaçava ao sabor do vento. A luz do Sol incidia sobre eles, transparente e quente. Como
estavam sozinhos na praia, caminhar ao lado dele parecia muito íntimo, como se estivessem juntos num palco vazio.

– A propósito, eu chamo‑me Tru Walls – disse ele por fim, falando alto para ser ouvido acima do ruído das ondas.
Hope olhou para ele, reparando nas rugas nos cantos dos olhos, o tipo de rugas de quem passava horas ao sol.
– Tru? Acho que nunca tinha ouvido esse nome.
– É um diminutivo de Truitt.
– É um prazer conhecê‑lo, Tru. Eu sou a Hope Anderson.
– Acho que a vi caminhar na praia ontem à noite.
– Provavelmente. Sempre que estou cá, passeio com o Scottie duas vezes por dia. Mas não o vi.

Tru esticou o queixo na direção do quebra‑mar.

– Eu fui para o outro lado. Precisava de esticar as pernas. Foi um longo voo.
– De onde é que veio?
– Zimbabué.
– É lá que vive? – O rosto dela expressou surpresa.
– A vida inteira.
– Desculpe a minha ignorância – começou Hope –, mas em que parte de África é que isso fica?
– No Sul. Faz fronteira com a África do Sul, o Botswana, a Zâmbia e Moçambique.

A África do Sul estava sempre nas notícias, mas os outros três países só lhe eram vagamente familiares.

– Está muito longe de casa.
– Pois estou.
– É a primeira vez que vem a Sunset Beach?
– A primeira vez que venho aos Estados Unidos. Isto é um mundo diferente.
– Como assim?
– Tudo… as estradas, as infraestruturas, Wilmington, o trânsito, as pessoas… e o verde da paisagem é extraordinário.

Hope não tinha nenhuma imagem do Zimbabué para comparação, por isso limitou‑se a acenar com a cabeça. Observou Tru a levar a mão ao bolso.

– E você? – perguntou ele. – Disse que está de passagem?
Ela acenou com a cabeça.
– Vivo em Raleigh. – Depois, percebendo que ele não devia fazer ideia onde era, acrescentou: – Fica a duas horas de distância, para noroeste. No interior… mais árvores, sem praia.
– É tão plano como aqui?
– Nem pensar. Tem colinas. E é uma cidade bastante grande, com imensas pessoas e coisas para fazer. Como deve ter reparado, isto pode ser muito parado.
– Pensei que a praia estaria mais cheia.
– No verão pode estar, e provavelmente haverá mais algumas pessoas à tarde. Mas nesta época do ano nunca há muita gente. É mais um local de férias. Aposto que a maior parte das pessoas que encontrar vivem na ilha.

Hope puxou o cabelo para trás, a tentar impedir que as madeixas se colassem à cara, mas, sem elástico, era uma guerra perdida. Olhou para ele e reparou que tinha uma pulseira de couro no pulso. Estava muito gasta e coçada, e as costuras desbotadas formavam um desenho que não conseguiu perceber. No entanto, achou que parecia adequada para ele.

– Acho que é a primeira vez que conheço uma pessoa do Zimbabué.
– Olhou‑o com os olhos franzidos. – Está cá de férias?
Ele deu alguns passos sem responder, surpreendentemente gracioso até na areia.
– Vim conhecer uma pessoa.
– Oh. – A resposta fê‑la pensar que devia ser uma mulher e, embora isso não devesse incomodá‑la, sentiu um inesperado momento de deceção. Ridículo, censurou‑se enquanto afastava o pensamento.
– E você? O que a traz cá? – perguntou ele, arqueando uma sobrancelha.
– Uma grande amiga casa‑se este sábado em Wilmington. Eu sou uma das damas de honor.
– Parece um fim de semana agradável.