Camilla. O “trunfo” da rainha consorte que é “corredora de fundo” e vai “deixar brilhar o rei”

Charles III arrives to Buckingham Palace as king for the first time after Queen Elizabeth's death
[Fotografia: EPA/OLIVIER HOSLET]

Carlos III será proclamado rei este sábado, 10 de setembro, e com ele subirá Camilla. Mas que rainha consorte se pode esperar? “No fundo, os súbditos esperam que ela acompanhe o amor da sua vida, é inevitável. A partir de uma certa altura, Carlos disso que Camilla era inegociável e, aqui está ela, chegada a rainha”. A antecipação é traçada ao Delas.pt pelo embaixador português e especialista em casas reais europeias, José Souza Serrano.

A rainha consorte vai – na perspetiva do especialista – “deixar brilhar Carlos”. “A Diana tirava todo o protagonismo ao então príncipe, mas Camilla não é assim, vai estar ao lado dele e não vai estar a competir em popularidade”, considera. E acrescenta: “A Camilla provou que tem vida própria há muitos anos. Durante a sua longa travessia no deserto de cerca de 10 anos foi tida como arma de arremesso contra a instituição monárquica, mas nunca parou, teve as suas iniciativas e vai continuá-las. Ela tinha e tem, por exemplo, um patronato de literatura, doenças raras e música, e é ativa.

José Bouza Serrano
José Bouza Serramo [Fotografia: Sara Matos /Global Imagens]

A agora rainha consorte, de 75 anos, “tem vindo a prestar ao longo dos anos muitos serviços à coroa, sempre com papel discreto e ações próprias”, reitera o especialista que acaba de lançar o livro biográfico sobre Isabel II, A Viúva de Windsor.

“No fundo, ela é uma corredora de fundo porque aguardou o tempo que foi preciso, fixou uma meta, foi persistente e tem seguido sempre e ao lado do homem que ama e de quem foi a principal inspiradora”, analisa Bouza Serrano, que crê que um dos segredos de Camilla foi o silêncio. “Ela nunca disse nada sobre Diana, por exemplo, esse foi o grande trunfo dela. Usou da máxima da sogra, Isabel II, e da rainha mãe que advogava o never explain, never complain (nunca explique, nunca reclame) e, devagar, a par e passo, foi fazendo a aproximação, acabando por ver aberta a porta do título de rainha consorte – e não princesa – pelas mãos da rainha que agora morreu”, analisa o antigo diplomata.

Um esforço finalmente reconhecido já em fevereiro de 2020, quando Isabel II expressou o seu “sincero desejo” de que Camilla “fosse conhecida” com aquele título quando Carlos ascendesse ao trono.

Mas o processo nem sempre foi simples e obrigou a uma mudança tática: “Houve uma altura em que Camilla copiava muito, por exemplo, a forma de usar o colar e os decotes de Diana, e para tentar conquistar os súbditos. Depois percebeu que não estava a resultar. Percebeu que era altura de fazer um percurso próprio e de dedicação à soberana”, recorda o antigo diplomata.

[Fotografia: Yui Mok / POOL / AFP]

Quanto ao futuro, ainda há uma longa batalha pela frente. “Camilla ainda tem uma certa franja da sociedade por conquistar. Quem não gostava dela como ‘envenenadora’ da Diana também não vai gostar dela como rainha, mas esse grupo está a diminuir. Há já algum tempo que existe um certo consenso em torno da agora rainha consorte”, sublinha o especialista. “Ela vai conquistar, ela é inteligente e saberá como fazer, e o caminho vai ser pela progressiva aproximação aos súbditos seja ao lado de Carlos III, seja como presença discreta e seja com o trabalho que já desenvolve”, refere.

No primeiro discurso à nação, na sexta, 9 de setembro, Carlos evocou a “querida esposa Camilla”, destacando a “ajuda preciosa”. “Sei que o seu novo papel trará exigências”, mas o monarca destacou “a devoção sem falhas ao dever (…) ao longo dos anos”.

Fim da violência contra as mulheres e promoção dos direitos das mulheres

Nascida em 17 de julho de 1947, filha do major Bruce Shand e de Rosemary Cubitt, proprietários de terras, foi educada nas melhores escolas particulares, primeiro em Londres, depois na França e na Suíça. No regresso ao Reino Unido, a imprensa foi dando conta de relacionamentos de Camilla com solteiros cobiçados, como Kevin Burke, filho de um fabricante de aviões, ou Rupert Hambro, membro da abastada família de banqueiros Hambro.

Camilla inclusive tinha laços distantes com a família real: bisneta de Alice Keppel, uma das amantes do rei Eduardo VII, o tataravô de Carlos. Uma história teria sido, inclusivamente, usada para a aproximação ao príncipe em 1970 – que conheceu num jogo de polo -, perguntando-lhe se ele se sentia “tentado” a seguir os passos de seu antepassado.

Ali nasceu um curto relacionamento com o príncipe, mas Camilla – Com Carlos na Marinha Real – acabou por se casar com um de seus admiradores, o major Andrew Parker Bowles, com quem teve dois filhos.

Porém, não houve corte absoluto, afinal ela aconselhou Carlos a subir ao altar ao lado de Diana, o que aconteceu em 1981. Anos depois, Camilla e o príncipe retomavam a relação amorosa, o que viria a ser conhecido publicamente e com estrondo.

Após o divórcio de Carlos e Diana, em 1996, Camilla, divorciada um ano antes, pôde começar a aparecer publicamente com o príncipe. Mas a morte de Lady Di num acidente de carro, em agosto de 1997 em Paris, relegou-a a um período sombrio, tendo sido vista por muitos britânicos como a agente de destruição do conto de fadas da realeza.

A imagem foi diluindo com o tempo e, em 2005, Camilla e Carlos casaram-se, mas ela optou por não usar o título de princesa de Gales para não ‘ofender’ ninguém. Com sentido de humor e simplicidade, a Duquesa da Cornualha ganhou popularidade e visibilidade, comprometendo-se com causas como a violência contra as mulheres e a defesa dos direitos dos animais.

Proclamação acontece este sábado, 10 de setembro

Segundo o protocolo avançado pelo Palácio de Buckingham, o Conselho Privado, sem a presença do rei, proclamará o soberano e aprovará formalmente várias ordens consequentes, incluindo os preparativos para a proclamação. Num segundo momento, o rei passará a liderar o Conselho Privado, onde fará uma declaração, lerá e assinará o juramento para defender a segurança da Igreja na Escócia e aprovará Ordens no Conselho que facilitem a continuidade do governo.

Findo este processo, chega a Proclamação Principal pelo Conselho de Adesão – onde se inclui o Conselho Privado -, que será lida às 11:00 locais na varanda no Palácio de Saint James. Tal como protocolado, a segunda Proclamação será lida na cidade de Londres, no Royal Exchange, às 12:00 horas. Outras Proclamações serão lidas na Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales às 12:00 de domingo, 11 de setembro.