Cancro da mama. 58 dias entre o diagnóstico e o início dos tratamentos

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[Fotografia: Anna Tarazevich/Pexels]

São quase dois meses de espera e angústia entre a confirmação do cancro de mama e o início dos tratamentos. De acordo com o Estudo Católica H360º, coordenado pelo oncologista Luis Costa, do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, em média são precisos 58 dias entre a confrontação com o problema e o início dos tratamentos, indo de quatro a 180 dias. A investigação pretendeu perceber como vive e quais as necessidades da doente com cancro de mama, olhando para a realidade atual e propondo soluções para uma melhor abordagem destas doentes, maximizando os recursos disponíveis no sistema de saúde.

Nesta análise que procurou conciliar as várias dimensões do cancro da mama em Portugal – juntando a perspetiva dos doentes e dos médicos – fica claro que, de entre os impactos psicológicos da doença, quase sete em cada dez pacientes (67%) revelaram ter dificuldades de memória e em dormir (66%). Mais de metade das entrevistadas (56%) sentiu-se limitada no trabalho e 49% afirmou sentir-se limitada nas suas atividades de lazer, refere o estudo.

Para compreender as múltiplas dimensões da doença, a equipa de investigação captou a perspetiva de todos os intervenientes (doentes, médicos e administradores hospitalares) ao longo do percurso da doente no sistema de saúde, em sete hospitais públicos e privados de norte a sul do país. Entre os hospitais que participaram estão o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, IPO de Coimbra, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro (Unidade de Vila Real), Hospital do Espírito Santo, Évora, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Faro e o Hospital da Luz, em Lisboa.

A investigação refere que 32% das pacientes, ou seja, 1/3, descobriu o cancro através de rastreios, sendo que a maioria fê-lo através de palpação e mamografia pedida pelo médico. O estudo propõe ainda a integração regular entre especialidades médicas e não médicas (por exemplo nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas), considerados “fundamentais à gestão da doente com cancro da mama”.

Alem das recomendações na área da literacia e da melhoria das equipas multidisciplinares, os investigadores apresentam ainda recomendações no âmbito do acesso aos cuidados de saúde, sugerindo melhorar o acesso e adesão ao rastreio do cancro da mama a nível nacional nas doentes que não têm médico de família.

O desenvolvimento de aplicações digitais para facilitar a comunicação das doentes com os profissionais de saúde, ter consultas e aceder a exames e resultados, assim como tornar padrão as consultas à distância “sempre que adequado à situação clínica” são outras das sugestões apresentadas.

Os investigadores recomendam ainda a interligação de unidades hospitalares de menor volume de doentes com as consultas multidisciplinares de centros oncológicos de maior volume, através de consultas virtuais, para mitigar desigualdades regionais e promover o acesso equitativo aos cuidados de saúde e aos centros oncológicos.

Sugerem igualmente a possibilidade de hospitalização domiciliária de doentes em cuidados paliativos e, na área dos ensaios clínicos, defendem a necessidade de uma plataforma eletrónica nacional atualizada, com acesso aberto a profissionais de saúde e doentes, para facilitar a referenciação dos doentes.

Entre as recomendações do estudo estão ainda a melhoria na integração entre cuidados de saúde primários e hospitalares – para garantir cuidados atempados e de qualidade e acompanhamento continuado e adequado -, sugerindo que se avalie a possibilidade de passar o seguimento das doentes em hormonoterapia adjuvante para os Cuidados de Saúde Primários a partir dos três a cinco anos de hormonoterapia.

O apoio à doente oncológica e sua integração na sociedade é outra das áreas em que o estudo aponta a necessidade de melhorias e, na área da investigação, recomenda a promoção do acesso e processamento sistemático de dados em saúde, integrando especialistas em estatística e de gestão de dados nas equipas hospitalares.

com Lusa