Candidatas às eleições no Zimbabué enfrentam insultos e abusos

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Fotografia: REUTERS/Philimon Bulawayo

O Zimbabué conta pela primeira vez, desde a sua independência, em 1980, com candidatos do sexo feminino, mas as poucas mulheres candidatas às eleições desta segunda-feira, 30 de julho, têm enfrentado insultos e acusações de cariz machista e sexual, que já mereceram a condenação das instituições internacionais.

A ONU alertou, na passada quinta-feira, 26 de julho, para o uso de linguagem depreciativa sobre as mulheres candidatas, que representam cerca de 15% dos 1.600 candidatos ao parlamento. Às Nações Unidas juntam-se outras personalidades que também já tinha condenado a situação, como o líder da oposição, Nelson Chamisa, embaixadores e observadores estrangeiros.

“Isto não é aceitável de todo”, sublinhou a alta comissária dos direitos humanos da ONU, Mary Robinson, a primeira mulher Presidente da Irlanda, em resposta às alegações de que a responsável da comissão eleitoral do Zimbabué mantinha um caso extraconjugal.

Margaret Sangarwe-Mukahanana, presidente da Comissão de Género do Zimbabué conta que “as mulheres foram acusadas de serem prostitutas e acusadas de terem casos extra-maritais. Os homens não foram tratados da mesma maneira. A justiça moral só se aplica às mulheres líderes”, denunciou.

Segundo a responsável, a violência, intimidação e falta de recursos são as principais razões que afastam a candidatura de mulheres a cargos políticos, apesar de constituírem mais de 54% dos eleitores registados do país.

Apesar dos obstáculos, das críticas e dos insultos, as candidatas procuram transformar os abusos em vantagens políticas, respondendo com ironia.

“O casamento, embora seja uma coisa bonita, não é uma conquista. Não qualifica ninguém para um cargo público”, disse Fadzayi Mahere na sua conta da rede social Twitter, numa resposta às pessoas que expressam preocupação em serem liderados por uma mulher solteira.

“Será necessário algo mais do que dizerem-me que não tenho filhos ou marido para me calarem”, afirmou a advogada de 32 anos que procura ocupar um assento parlamentar em Harare, acrescentando que está casada com a sua campanha.

com Lusa