Mundial de Canoagem: Os sonhos da dupla de ouro, Joana Vasconcelos e Teresa Portela

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Fotografia: Fábio Poço/Global Imagens

A medalha de ouro no passado mês de junho, em K2 200 metros, nos Europeus de Belgrado, foi motivo de orgulho e contentamento para Teresa Portela e Joana Vasconcelos. Mas da Sérvia, a dupla de canoístas portuguesas trouxe também a vontade de prosseguir os bons resultados no mundial de Velocidade de Canoagem e Paracanoagem, a decorrer em Montemor-o-Velho, já a partir do próximo dia 22 de agosto.

Desta vez Teresa Portela e Joana Vasconcelos competem em K2 500 metros e K4 500 metros – nesta, formarão equipa com a dupla Francisca Laia e Francisca Carvalho. Depois do bom resultado nos Europeus de Belgrado, as atletas esperam agora melhorar na tabela daquelas séries, cujos pontos de partida são um 10º. e um 7º. lugar, respetivamente.

“Quando se parte desses lugares há muito para melhorar e o nosso objetivo é sempre conseguir atingir as finais, e depois nas finais lutar para o melhor resultado possível”, diz a atleta de 27 anos, em entrevista ao Delas.pt.

Teresa Portela e Joana Vasconcelos competem em duas séries diferentes neste mundial. [Fotografia: Fábio Poço / Global Imagens]
Além de subir as posições nos K2 e K4 500 metros, para Teresa Portela, a ambição neste mundial passa também por “tentar acertar mais, acertar com o pico de forma, melhorar o trabalho em conjunto, a velocidade e outros pormenores, para que depois na competição seja tudo mais natural”.

A equipa nacional é apresentada esta segunda-feira, 20 de agosto, no Centro de Alto Rendimento, de Montemor-o-Velho, e constitui uma das maiores representações da história da seleção portuguesa de canoagem – bem equilibrada na composição masculina e feminina.

Retrato da canoagem feminina em Portugal

Joana Vasconcelos observa que “a equipa feminina tem vindo a evoluir bastante”. “Começou só com uma atleta e veio sempre crescendo. Neste momento somos cinco na equipa principal, além dos sub-23, que por vezes treinam connosco. E o objetivo é sempre fazer crescer a equipa feminina”.

A canoísta de Vila Nova de Gaia começou na canoagem em 2005, entrou para a seleção nacional em 2007 e desde então tem somado ao seu palmarés títulos e participações em competições nacionais e internacionais. Tal como a sua carreira progrediu, também o coletivo parece refletir os avanços registados na modalidade, que, em Portugal, tem vários atletas de elite.

“Noto que esta época a equipa feminina está mais unida, bem mais motivada e estamos a dar-nos todas bem”. A relação “fora da água”, como refere, é fundamental para boas prestações em competição. Até porque, completa Teresa Portela, “passa-se muito tempo em estágios, fora de casa, apenas com a equipa e o treinador, Hélio Lucas, e fazemos praticamente três semanas de estágios por mês. Basicamente, estamos o ano inteiro fora.”

As duas canoístas conquistaram a medalha de ouro nos últimos Europeus de canoagem. [Fotografia: Fábio Poço / Global Imagens]
Os treinos são diários, incluindo domingos, apesar de nestes dias serem mais ligeiros, segundo a atleta. A rotina divide-se pela manhã e a tarde, entre ginásio, corrida, entre outros exercícios. Além disso, passam muito tempo em lugares diferentes, fora e dentro do país.

“Este ano tivemos estágios em Sevilha, no México, na Aguieira, em Montebelo, que é um dos melhores sítios no mundo, em Montemor-o-Velho, onde se vai realizar o campeonato do mundo”, diz Teresa Portela.

Com 30 anos de idade, faz canoagem desde os oito. Começou no clube náutico de Gemeses (Esposende), onde cresceu e onde a modalidade era uma prática comum entre as crianças da localidade. “Gostei e fui começando a ter resultados bons a nível nacional e depois continuei e cá estou”, conta.

“A canoagem feminina tem realmente crescido, mas ainda se nota uma diferença de praticantes entre os dois géneros. No entanto, acho que este ano apareceram mais raparigas a praticar e com vontade de continuar.”

Por ser uma modalidade que não move o mesmo tipo de investimentos que outras, há áreas que ainda carecem de algum desenvolvimento, como a “área da análise de treino” ou a “análise de competição”. “A canoagem já deu alguns passos mas ainda há muito onde melhorar. O facto de haver pouco dinheiro e de ser uma modalidade de que ainda não se fala muito, acaba por fazer com que haja pouco investimento em áreas que, para mim, seriam essenciais para sermos melhores”, considera Teresa Portela.

Uma modalidade igualitária

Joana Vasconcelos e Teresa Portela não consideram que existam diferenças salariais entre os géneros na canoagem, ao contrário do que se verifica noutras modalidades e profissões. Num país onde a disparidade entre os rendimentos auferidos por mulheres e homens é de 17,8%, a canoagem é quase um oásis no deserto.

Segundo Teresa Portel, “há um projeto olímpico, e aí é indiferente se é feminino se é masculino”, ainda que no passado se registassem algumas desigualdades, sobretudo nos complementos. A atleta recorda que, apesar de o salário ser o mesmo, as posições alcançadas eram premiadas de forma diferente consoante o género.

“Se um rapaz fosse oitavo [na tabela] havia uma bolsa de um determinado valor, que no caso da rapariga [para receber o mesmo] obrigava a que ela tivesse que ficar em sexto. Agora acho que já está mais equilibrado”, refere.

A diferença que se continua a fazer sentir, terá mais a ver com os patrocínios ou visibilidade dos atletas, que, segundo Teresa Portela, ainda tenderão a focar-se mais nos masculinos. Mas admite que isso se deva mais ao trabalho em torno da imagem pessoal de cada um, do que a questões de género.

O plano B para a vida depois da canoagem

A carreira de uma atleta profissional de canoagem dura, em média, até aos 30, 35 anos, segundo nos diz Joana Vasconcelos, que compara com alguns países estrangeiros, onde a mesma pode durar até aos 40 anos.

No horizonte das duas canoístas do Benfica ainda há muito que percorrer e conquistar no mundo da canoagem, mas Joana e Teresa são previdentes e, em paralelo, à atividade que atualmente as absorve quase por completo, vão desenvolvendo outras possibilidades de futuro profissional.

Joana tirou um curso de Educação Física, que lhe permitirá, por exemplo, dar aulas em ginásios, assim que o quiser. Até lá, e depois do mundial de Montemor-o-Velho, que termina a 26 de agosto, o próximo grande objetivo é o apuramento para os Jogos Olímpicos, em 2020, na cidade de Tóquio, Japão.

Mas nem só de trabalho se fazem os planos das atletas para lá da canoagem. Joana Vasconcelos pretende “depois de 2020, talvez parar um aninho para tentar ser mãe”, regressando posteriormente às competições, durante os anos que a idade e o corpo lhe permitirem.

Teresa já é mãe e licenciou-se em Fisioterapia em 2010. A exigência da prática da canoagem ainda não lhe permitiu exercer o curso, mas continua a apostar na formação e voltou a estudar. “Estou no 5º. e último ano de Osteopatia. Por isso, continuo a pensar no futuro e num plano B para daqui a uns anos.”

A decisão de continuar ou abandonar a modalidade deixa para depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas admite que com 36 anos ainda se possa sentir com força e condições para lutar pelos mesmos objetivos e sonhos que a movem neste momento.

 

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