Há uma escola certa para os nossos filhos?

O desinteresse do filho pela escola logo na primária levou a jornalista Carla Marina Mendes a querer perceber o que está a funcionar mal no ensino português. Depois de falar com vários pais, especialistas nacionais e internacionais e analisar os casos de algumas crianças problemáticas, sem direito a ‘bolinhas’ verdes, como agora se assinala o bom comportamento nas escolas, ou lugares nos quadros de honra, resolveu escrever o seu primeiro livro: A escola certa para o seu filho.

links_Prostituição“Vem na sequência de uma preocupação que tenho. Tenho um filho de 10 anos e o percurso dele no ensino não foi feliz no início. Houve alguns sobressaltos que me fizeram ver que o sistema de ensino precisa de mudar, o ensino português não consegue dar resposta às necessidades de todas as crianças, embora trate todas de igual forma”, explicou ao Delas.pt Carla Marina Mendes.

Passar um dia inteiro sentado numa sala de aula a ouvir um professor debitar matéria não é a forma mais fácil de aprender para a maioria das crianças. Não lhes desperta interesse. No entanto, as diferenças também se fazem sentir no que diz respeito ao género. Em Portugal são as raparigas quem tem mais sucesso escolar. Algo que acontece, na opinião da autora, porque o ensino português está mais adaptado às necessidades femininas do que às masculinas.

“Acaba por ser um fato que tem de servir a todos. Não tenho dúvidas de que as meninas e meninos aprendem de forma diferente e que a escola dá muito mais resposta às meninas do que aos meninos, mas tenho algumas dúvidas em relação a um ensino que os separe. Eles precisam de estar integrados, mas também é preciso olhar para essas especificidades”, esclarece a jornalista.

Aprendizagem: as diferenças entre raparigas e rapazes

O Programme for International Student Assessment (PISA) de 2012 afirmava que, em Portugal, 14% dos rapazes não conseguiam resolver problemas de matemática, leitura e ciência, contra apenas 9% das raparigas. Nos dados do PISA de 2015, citados por Carla Marina Mendes no livro, esta realidade parece ter-se alterado: “As raparigas são melhores do que os rapazes no português, mas eles batem-nas nas ciências. (…) E o mesmo acontece com a matemática, onde eles voltam a ter liderança.”

Ainda assim são elas que dedicam mais horas por semana aos trabalhos de casa, passam menos tempo na Internet, têm menos probabilidade de chumbar e melhores notas (na galeria de imagens acima pode ver mais diferenças entre raparigas e rapazes no que diz respeito ao ensino, de acordo com o livro A escola certa para o seu filho).

“Na maior parte das escolas a comida não é a melhor”

A qualidade da alimentação nas escolas portuguesas é um dos assuntos que está na ordem do dia. Depois de, no início deste mês, um grupo de alunos ter filmado uma lagarta na comida servida na Escola André Soares, em Braga, esta semana os encarregados de educação de uma escola do concelho Odivelas queixaram-se de sopa com sabor a tabaco, carne crua e comida insuficiente.

Para Carla Marina Mendes, a melhor forma que os pais têm de se certificar que escolhem para os filhos uma escola que serve comida de qualidade é falando com outros pais. “Também posso falar pela minha experiência, o meu filho esteve numa escola onde a comida era muito má e apercebi-me disso porque ele me dizia que não gostava da comida. O que fiz foi ir à escola ver, falar com outros pais e tentar perceber. De facto, na maior parte das escolas a comida não é a melhor”, afirma a autora.

Apesar de o livro ter o nome de A escola certa para o seu filho, a jornalista esclarece logo no início que essa escola certa não existe. “Há, isso sim, pessoas certas, pedagogias variadas e – sobretudo – crianças diferentes. Diferenças pelas quais o respeito, confirma a prática, se fica em muitos casos apenas pela teoria”, pode ler-se no livro de Carla Marina Mendes.

Ficha técnica do livro:

A escola certa para o seu filho, Carla Marina Mendes. Editora Livros Horizonte, 16,60 euros


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