Carlota Crespo: “Ainda não há igualdade no desporto, por muito que se queira”

Sport TV
Carlota Pacheco, pivô da Sport TV +

A jornalista da Sport TV e pivô do novo canal de notícias de desporto, Sport TV +, formou-se em Direito, chegou a exercer, mas o apelo da televisão falou mais alto. Aos 35 anos, Carlota Crespo assume ser uma privilegiada por poder trabalhar numa área que é também uma paixão de infância, o desporto.

Como começa o seu percurso no jornalismo televisivo?

Quando decidi sair do escritório de advogados, em 2005, a RTP estava a fazer um casting pelo país inteiro. Fiz o primeiro, foi um processo um bocado moroso. Entretanto, fui trabalhar para o Porto na área de eventos, Quando estava a viver lá, em outubro do ano seguinte, recebi um telefonema a dizer que tinha sido selecionada. Tive uma primeira experiência no programa ‘ABCiência’. Depois, trabalhei na produtora Plural e voltou a surgir uma nova oportunidade para trabalhar em televisão, no formato ‘Eurotwitt’, da RTP. Trabalhei como freelancer em alguns projetos e, depois, decidi tentar vir trabalhar para a Sport TV. Já tinha tentado uns anos antes, mas recebi uma carta simpática a dizer que não estavam a recrutar. Tentei novamente porque adoro desporto. Gosto de praticar, adoro ver qualquer coisa que esteja a dar na televisão, mesmo que seja xadrez. Fui chamada para uma entrevista e correu bem.

Infelizmente, ainda há o preconceito de que a mulher sabe menos, percebe menos, domina menos e tem menos jeito para o desporto.

 

De onde vem a sua paixão pelo desporto?

Talvez tenha sido passada pelo meu pai. O meu pai é doente por um clube, que não interessa agora dizer qual (risos). Tinha uma tia que era praticamente de desporto, jogou ténis, fez ballet. O meu avô era velejador, tinha um tio-avô ligado ao hipismo… alguma coisa me há-de ter chegado por via genética e outra por gosto. Em criança, sempre fui muito ativa e há quem diga que continuo a ser. Em pequenina, com cinco anos, a minha inscreveu-me no ballet e eu fiz uma fita enorme! Queria ir para o judo, então ela mudou-me para o judo. Comecei a jogar futebol, com 10, 11 anos, no Colégio Valsassina. Joguei no Grupo Desportivo Operário, depois na equipa da faculdade de Direito, onde tirei o curso. Também joguei voleibol, fiz dança hip hop.

E hoje em dia, que desporto pratica?

Já só pratico futebol, apesar de me ter magoado há uns meses no joelho. Jogo amigavelmente com um grupo de raparigas, algumas que foram da seleção nacional. Há um jogo uma vez por semana e eu junto-me a elas. Além do futebol, jogo padel.

Para quem tem essa paixão por desporto, trabalhar na Sport TV deve se um sonho.

Sim! Há amigos que me dizem que eu tenho uma profissão invejável porque passo os dias a ver desporto. Essa parte é ótima, pode estar a ver futebol, ténis, ‘n’ modalidades. Poder acompanhá-las ser o nosso trabalho é tudo menos monótono. Costumo dizer que uma das boas coisas deste trabalho é todos os dias serem diferentes. Há um dia em que posso ir acompanhar um treino do Sporting ou do Benfica, noutro fico na redação e tenho resumos de ténis para fazer… é muito variado. Para mim, a nível profissional, foi um crescimento enorme.

Este novo canal, o Sport TV +, obriga uma adaptação da linguagem, uma vez que é um canal de notícias?

De linguagem não diria. Sei que precisamos de cuidado redobrado, porque é um canal que está 24 horas no ar. Claro que tínhamos todo esse cuidado no canal só para assinantes, mas é inevitável que tenhamos muitos mais olhos postos em cima de nós. Além disso, temos blocos informativos de hora a hora e temos de estar sempre em cima do acontecimento. A grande preocupação aqui é que a linguagem seja acessível, atual e isenta.

É exigido mais rigor a uma jornalista que trabalha na área de desporto por ser mulher? É preciso provar mais? Pergunto isto pela razão óbvia, é uma área que é dominada por homens.

Honestamente, acho que sim. Ainda não há igualdade no desporto, por muito que se queira. Infelizmente, ainda há o preconceito de que a mulher sabe menos, percebe menos, domina menos e tem menos jeito para o desporto. Sinto isso, sim, que as mulheres partem sempre um bocadinho em desvantagem.

Talvez as mulheres não tenham ainda deixado que o desporto entre nas suas vidas como os homens.

Exige a si mesma um cuidado redobrado?

Eu sou bastante exigente comigo no que diz respeito à concentração e ao rigor porque às vezes sou bocado aluada (risos)! Não é tanto por ser mulher ou não. Mas acho que aí não há diferenças entre homem ou mulher.

Porque é que acha que ainda existem tão poucas pivôs de desporto em Portugal, sendo o jornalismo uma área dominada pelo sexo feminino?

É uma boa pergunta. Não sei mas, se por exemplo, eu pensar nas mulheres do meu grupo de amigos que são ativas e fazem desporto, são muito menos do que os homens. Talvez as mulheres não tenham ainda deixado que o desporto entre nas suas vidas como os homens.