
Uma mensagem emocionada, mas sem dramatismos. Foi desta forma que a cantora Carolina Deslandes, de 28 anos, anunciou, na segunda-feira, 30 de setembro, que o filho mais velho, Santiago, de três anos, “sofre de uma perturbação do espectro do autismo”. A revelação foi feita no dia seguinte após ter recebido o Globo de Ouro para Melhor Música com o tema A Vida Toda. “Ontem quando subi ao palco não disse nada do que queria dizer”, começou por dizer a cantora na sua rede social Instagram.
“Acho que há momentos da vida em que nos faltam as palavras, e é essa a beleza disto tudo. Ainda assim, ficou um vazio. Há 1 ano e meio que digo para mim, que se algum dia estiver numa posição de ser ouvida por muita gente e poder fazer a diferença, vou falar sobre este assunto. Nunca o fiz, nunca o fizemos. A semana passada quando gozavam e ridicularizavam a Greta pela sua maneira “estranha” de falar, pensei em pronunciar-me e mais uma vez não o fiz”, justificou.
Agora, a cantora vem a terreiro falar de uma condição que afeta 1 em cada nove criança e transforma este testemunho num apelo. “É urgente criar meios de integração no nosso ensino, é urgente informar as pessoas sobre isto, é urgente a inclusão. Sejam bondosos com os caminhos dos outros. Eles passam por ruas que nós não imaginamos”, pediu.
“O autismo continua a ser visto como um problema”
Num caminho de luta já longo feito, relata Deslandes, “de braço e de coração dado”, levando a um pedido de ajuda para “entrar dentro deste universo encantado em que ele vive”. “O autismo continua a ser visto como um problema. Algo que torna as pessoas diferentes e esquisitas. Pois eu olho para o Santiago e acho que os esquisitos somos nós”, escreveu a compositora.
“Não quero falhar ao meu filho, e acima de tudo, não quero falhar às tantas crianças “estranhas” que são catalogadas e postas de lado numa sociedade que se debruça pouco ou nada sobre aquilo que não conhece”, pede a cantora, que é mãe de Benjamim, de dois anos, e de Guilherme, de nove meses.
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Carolina diz ainda que estar a lidar com a doença a tem levado a entender que “as palavras são o meio mais fácil de comunicar, mas não o mais bonito. Ainda sem falar, o Santiago já me disse os mais bonitos poemas, já me mostrou cores no mundo que eu não sabia que existiam, já me disse que me amava ao roçar o seu nariz no meu e ao encostar a cabeça no meu peito. Vê-lo superar-se a cada dia, vê-lo partilhar e crescer é um privilégio. E eu hei de estar sempre lá na primeira fila, a aprender tudo o que ele quer ensinar.”
Imagem de destaque: DR