Numa sociedade em que os homens ganham mais do que elas – em que Portugal está muito longe de ser exceção – e a disparidade salarial entre géneros ainda é uma batalha sem fim à vista, as mulheres que ganham mais do que os maridos raramente fazem alarido disso. Aliás, nem elas. Nem eles. Os casais tendem a esconder o facto de o elemento feminino do agregado trazer rendimentos superiores ao masculino.
Um estudo levado a cabo pelo instituto estatístico norte-americano, Census Bureau (e que pode consultar no original aqui), indica que um em cada quatro casais heterossexuais tem um casamento não tradicional, em que a mulher ganha mais do que o cônjuge. E apesar de a tendência ser crescente – quando comparada com os 7% de relações em iguais circunstâncias verificadas nos anos 70 do século passado – nenhum dos elementos que compõem o casal se sentem confortáveis em revelar essa discrepância.
As conclusões decorrem do facto de os maridos inflacionarem os seus ganhos em 2,9%, em média, quando estão confrontados com o facto de as suas cônjuges serem as principais fontes de financiamento do agregado. A metodologia que levou a esta interpretação envolveu não só a análise das respostas dos casais no âmbito do relatório social e económico anual, mas também a comparação dessas mesmas respostas com os registos fiscais, em sede de IRS.
Tendo em conta o mesmo processo, o Census Bureau concluiu que as mulheres – quando são a principal fonte de rendimentos de um agregado – deflacionam os seus ganhos em cerca de 1,5%, em média.
“Estamos programados para ter certas expectativas no casamento – os papéis tradicionais ainda são o que é expectável verificar-se”, justifica a jornalista e especialista em finanças pessoais e autora do livro When She Makes More (Quando Ela Ganha Mais, em tradução livre).
Uma realidade que, segundo Farnoosh Torabi nas mesmas declarações ao canal norte-americano CNBC, vem trazer à tona “questões emocionais profundamente arreigadas”.
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